Brasil receberá Ahmadinejad com o respeito que povo persa merece
Diplomatas experientes afirmam que Lula saberá conduzir o diálogo com seu habitual humor, lembrando que o Brasil aprende a respeitar os valores da história nascida na Antiguidade do povo persa que originou o Irã. No mesmo tom, Lula deve afirmar que em compensação, os iranianos terão oportunidade de ver entre os brasileiros o convívio harmônio e pacífico entre diferentes povos, religiões e partidos políticos, além da liberdade sexual.
Publicado 21/11/2009 12:12
Em meio às críticas à rápida passagem do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, por Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer destacar amanhã as semelhanças e diferenças entre seu governo e o do iraniano. A principal semelhança, segundo articuladores do governo, é que são dois países que se destacam no cenário internacional e com economias em evolução.
Mas a sugestão dos assessores diretos de Lula é para que ele evite o tom de interferência na política interna iraniana, sem se esquivar de mencioná-los. O objetivo é que o presidente mantenha o discurso em defesa dos direitos humanos, das divergências entre ideias políticas e orientações religiosas.
Nos dias que antecederam a visita de Ahmadinejad, assessores de Lula reiteram que o presidente deverá responder com sutileza as afirmações do iraniano renegando o holocausto, atacando o Estado de Israel e condenando as pessoas por sua orientação sexual. Em resposta, Lula deverá responder que é necessário manter o respeito às opções feitas pelo outro.
Autoridades iranianas afirmam que Ahmadinejad pretende reiterar seu discurso em defesa da paz do Oriente Médio e do incremento nas relações econômicas e culturais entre os dois países. As questões polêmicas serão evitadas, segundo assessores do iraniano, exceto as críticas às grandes potências e suas consequências.
À Agência Brasil, o vice-ministro das Relações Exteriores do Irã, Alireza Salari, afirmou que o objetivo é elevar dos atuais US$ 2 bilhões para US$ 15 bilhões o fluxo de comércio com acordos nas áreas de petroquímica, produção de gás, adubos, medicina e energia nuclear.
Com uma pauta diversificada de exportações, o Brasil é o oitavo fornecedor do Irã. A lista de exportações para os iranianos inclui desde alimentos a carros e minérios, além de medicamentos. As pequenas importações brasileiras concentram-se em produtos como sal, enxofre, frutas secas, tapetes, peles e combustíveis.
Nas reuniões em Brasília, Ahmadinejad deverá fechar acordos referentes a medicamentos para o combate ao câncer e para tratamento de diabetes.
Brasil quer ser protagonista nas negociações pela paz no Oriente Médio
A presença do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, no Brasil encerra a primeira etapa de um ciclo de articulações em busca da paz no Oriente Médio – que começou no final do ano passado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Embaixadores brasileiros que acompanham as negociações afirmam que o objetivo é consolidar a atuação do governo brasileiro como protagonista nas negociações internacionais.
A ideia, segundo interlocutores do governo, é que em todas as oportunidades, o presidente Lula reafirme que o Brasil não deve assumir-se como simples expectador, mas intermediário nas relações.
Para evitar eventuais desconfortos, os diplomatas recomendaram que as autoridades brasileiras tratem as polêmicas envolvendo o iraniano como manifestações democráticas e legítimas. Outra sugestão dos assessores do governo é para que a cada crítica Lula reitere que só é possível negociar a paz no Oriente Médio, se todos os envolvidos estiverem integrados.
Nas conversas anteriores à visita de Ahmadinejad Lula tem afirmado que o isolamento do Irã pode agravar a situação no Oriente Médio provocando mais prejuízos à região.
A visita de Ahmadinejad ocorre uma semana depois das passagem pelo Brasil do presidente de Israel, Shimon Peres, e dois dias após a vinda do líder da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas. Antes, em janeiro, o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, fez uma série de incursões ao Oriente Médio, reunindo-se com os principais representantes da região.
Para diplomatas, o isolamento de Ahmadinejad incita reações a quaisquer iniciativas que visam conter os conflitos e encerrar a discórdia na região. De acordo com os negociadores, ao aproximar do Irã Lula atua para reduzir as restrições à figura do presidente iraniano e as interpretações superficiais envolvendo as controvérsias de Ahmadinejad.
No esforço para integrar o Irã no cenário internacional, a orientação interna no governo brasileiro é para valorizar um dos aspectos mais caros aos iranianos – a história dos persas no mundo e na cultura. Donos de uma das culturas mais antigas do mundo oriental, os iranianos se queixam do tratamento como integrantes de segunda classe.
Na passagem por Brasília, Ahmadinejad e sua equipe serão saudados com uma série de referências sobre as influências dos persas também na cultura ocidental, como o espírito combativo e a atenção especial às artes. Os iranianos se orgulham da sua história e querem que ela seja respeitada.
Fonte: Agência Brasil
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