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Grabois, Arroyo e Dinaelza são o cimento construtor do PCdoB

Mais um belo capítulo foi incorporado hoje (25) à história do PCdoB e do Brasil. Sessão especial da Comissão de Anistia na Câmara de São Paulo homenageou três de seus mais aguerridos lutadores assassinados pela ditadura: Maurício Grabois, Angelo Arroyo e Dinaelza Coqueiro. O ato foi uma forma de comemorar os 88 anos da organização política mais perseguida do país. “Comunistas como esses são o cimento construtor do PCdoB”, disse Renato Rabelo, presidente do partido.

Por Priscila Lobregatte*

Mesa - sessão de Anistia - 25 de março

Na solenidade, Dolores Arroyo – viúva de Angelo, fuzilado durante a Chacina da Lapa em 16 de dezembro de 1976 – e Victória Grabois – filha de Maurício, assassinado durante a Guerrilha do Araguaia em 25 de dezembro de 1973 e ainda hoje desaparecido – receberam as portarias de anistiados políticos dos dois dirigentes comunistas.

Depois da sessão especial, o julgamento de cinco requerimentos anistiou, em caráter post mortem, Dinaelza Santanta Coqueiro e, cuja reparação econômica será transferida para sua mãe, Junilia Soares Santana, 90 anos, que na época fora diretamente prejudicada pela morte da filha, reconhecida como arrimo da família.

Veja depoimentos de Dolores, Victória e Diva Santana, irmã da guerrilheira Dinaelza, no vídeo abaixo.

Em sua fala durante a solenidade de homenagem, o presidente do PCdoB destacou que “muitos se indagam como o partido conseguiu atravessar períodos de tantas adversidades e lutas, empunhando sempre a bandeira da democracia, da justiça social, do comunismo; e se perguntam, ao mesmo tempo, como consegue manter-se vivo e contemporâneo”.

E o próprio Renato Rabelo responde: “tudo isso é possível não apenas pela força das ideias que o partido defende, mas porque a realidade mostra – e a crise atual prova – que é possível superar o capitalismo. Mas nada disso teria força se não houvesse homens e mulheres capazes de lutar por estes ideais, contra este sistema”.

Lembrando da trajetória dos três lutadores, disse que a homenagem era fundamental para o resgate da história brasileira, para a construção de uma nação mais democrática e justa e também para a construção do PCdoB. “É importante que nossa juventude saiba quem eles foram, conheça seus exemplos de vida porque se chegamos até aqui é graças a pessoas como eles”.

Rabelo (foto) destacou o papel da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça dizendo que “uma nação que esconde sua história é uma nação frágil; e a que a resgata é forte e promissora”.

Histórias que se confundem

Presidindo a Comissão na ausência de seu titular Paulo Abrão Pires Jr. – em missão no Chile – Sueli Bellato agradeceu ao “apoio que o PCdoB sempre deu ao nosso trabalho. Estamos aqui para homenagear a todos que há 88 anos lutam por uma sociedade melhor, pelo socialismo”.

A conselheira leu carta em que o presidente da Comissão salienta que a história do Partido Comunista “confunde-se com a história das lutas do povo brasileiro por condições dignas de vida, e em favor de uma sociedade justa e igualitária”.

Segundo Paulo Abrão, “é importante ressaltar que, do ponto de vista da história política do Brasil, os comunistas foram os mais perseguidos. Desde a formação do Partido Comunista, durante a Velha República, sua trajetória foi marcada por violenta repressão policial. Estigmatizado durante o Estado Novo, ressurge na Constituinte de 1946 para cair novamente na ilegalidade em 1947”.

Ele lembrou ainda que no período da ditadura, entre 1964 e 1985, “o governo militar não poupou os comunistas – já divididos em dois grandes blocos, o PCB e o PCdoB”. “Mais da metade dos desaparecidos políticos brasileiros fazem parte dos quadros do PCdoB, entre eles Maurício e Dinaelza, mortos na repressão à Guerrilha do Araguaia. O massacre da Lapa, em 1976, onde foram assassinados Ângelo Arroyo e Pedro Pomar, desferiu outro duro golpe na direção do partido”, completou.

O presidente ainda colocou que hoje, publicamente, “o Estado brasileiro pede desculpas a esses homens e mulheres, grandes comunistas”.

Orgulho comunista

Durante o ato, antigas e novas lideranças do PCdoB que lutaram na ditadura ou que herdaram o legado dos antigos dirigentes e militantes usaram a tribuna da Câmara para render suas homenagens. O ministro Orlando Silva, do Esporte, disse que “os comunistas ofereceram suas próprias vidas para que hoje possamos usufruir do período democrático e de prestígio internacional que o Brasil vive”.

O vereador Jamil Murad colocou que “um partido temperado na luta de heróis como esses tem o compromisso de levar adiante a luta pela soberania, pela democracia, pela liberdade e pelo socialismo”.

Netinho de Paula, vereador que figura na nova geração de militantes do PCdoB, disse que “inspirado por exemplos assim sigo lutando pelos que são exilados em seu próprio país nas periferias do Brasil”. E finalizou dizendo: “obrigado, PCdoB, por ter me recebido”.

O secretário de Formação do partido e presidente da Fundação Maurício Grabois, Adalberto Monteiro também expressou sua admiração. “Homenageá-los é também dar seguimento às batalhas pela ampliação da democracia, pela afirmação da soberania do nosso país e pela grande causa do socialismo. É dar seguimento à luta pelos direitos humanos. É exigir a abertura dos arquivos da ditadura militar e o direito humanitário até hoje negado de os familiares enterrarem em túmulo honroso os restos mortais de seus entes queridos. É em alto e bom som bradar pelo fim da tortura e pela punição daqueles que a praticaram e a praticam. Os exemplos de Dina, Arroyo e Grabois nos inspiram. Eles estão aí para nos lembrar de que, sem muita luta, sem renúncia e abnegação, não será possível atingir o desenvolvimento pleno pelo qual anseiam nosso povo e nosso país”.

*Com vídeo: Carla Santos e Toni C e fotografias de Marcos Slavov

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