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Honduras: o perigo de  informar a verdade

Com cinco repórteres assassinados no último mês, Honduras encabeça hoje a lista dos países mais perigosos para o exercício do jornalismo, setor fortemente golpeado desde a ruptura da ordem institucional em junho passado. As vítimas pertencem a diferentes meios de comunicação e de diversas regiões do país e o único ponto em comum até agora é que todos os crimes permanecem impunes.

Em 1 de março morreu em Tegucigalpa o jovem Joseph Ochoa, do canal 51, em um ataque dirigido ao que parece contra sua acompanhante, a também jornalista Carol Cabrera, que foi ferida.

Apenas 10 dias depois, na cidade de La Ceiba, indivíduos armados assassinaram David Meza, repórter da Rádio El Patio e correspondente durante muitos anos da Rádio América e do noticiário de televisão Abriendo Brecha.

A onda de violência também tirou a vida de José Bayardo Mairena e Víctor Manuel Juárez, da Rádio Súper 10, no departamento de Olancho, e de Nahum Palácios, diretor de notícias da Televisión del Aguán, em Colón. Bayardo e Mairena utilizavam seus programas para criticar aos poderes locais em uma terra "onde não se conhece a vacilação", afirmaram defensores dos direitos humanos.

Palácios, por sua vez, opôs-se ao golpe de Estado e as primeiras versões indicam que sua morte poderia estar relacionada com sua posição política ou com sua defesa dos camponeses do Valle del Aguán no conflito com poderosos donos de terras.

Qual foi o delito destes jornalistas? O simples fato de informar com veracidade, denunciou Bertha Oliva, coordenadora do Comitê de Familiares de Detidos e Desaparecidos em Honduras.

Oliva narrou que há uns meses membros do exército e grupos paramilitares atacaram a comunidade da Tascoza, em Trujillo, e detiveram 18 membros do Movimento Unido de Camponeses del Aguán, a quem acusavam de terroristas.

Nahum Palácios, que cobriu o incidente, disse através da televisão no momento da detenção: "Aqui estas pessoas não têm cara de terroristas, são pessoas humildes, camponeses pobres".

O repórter tinha denunciado as agressões e as tentativas de despejo contra umas três mil famílias do Bajo Aguán e sua versão punha em evidência a falsidade de informações publicadas pelo jornal La Prensa, propriedade do magnata Jorge Canahuati.

Ainda que ainda se desconhecem os motivos do crime e autores materiais e intelectuais destes assassinatos, as hipóteses apontam que o objetivo era conter as denúncias relacionadas com violações dos direitos humanos, corrupção ou narcotráfico.

Sem dúvida é certo que os profissionais se diferenciavam em seu compromisso político, todos exerciam um jornalismo local crítico do poder, advertiu Andrés Pavón, presidente do Comitê para a Defesa dos Direitos Humanos em Honduras (CODEH).

Pavón lamentou a piora da situação depois da ruptura da ordem, a presença de golpistas em cargos importantes, o fortalecimento do crime organizado e o aumento da violência no país, onde o número de homicídios aumentou para 63 por cada 100 mil habitantes.

"Aqui não há condições para acreditar na justiça. Inclusive o general golpista Romeo Vásquez agora dirige a empresa de telefonia nacional, de onde pode ter acesso a todas nossas conversas", disse o presidente do CODEH.

O golpe de Estado de 28 de junho contra o presidente Manuel Zelaya gerou uma onda de repressão contra os setores populares, que deixou mais de 100 assassinatos e milhares de detidos e torturados.

A imprensa foi um dos setores que sofreu com maior rigor as conseqüências da ruptura institucional. Meios como a Rádio Globo, Rádio Progreso e o Canal 36 foram fechados ou militarizados, seus sinais ficaram interrompidos e a energia elétrica cortada.

Em sua tentativa por ocultar a repressão, o regime golpista chegou ao extremo de apontar com suas armas, prender, despojar de suas câmeras e expulsar do país aos jornalistas da cadeia multinacional Telesur.

Dez meses depois, a situação para os profissionais da imprensa não mudou, como demonstram os assassinatos de comunicadores e as ameaças de morte contra vários repórteres, alguns dos quais tiveram que abandonar o país.

A ingovernabilidade, a repressão desatada após o golpe, o aumento do crime organizado e, sobretudo, a impunidade, são o caldo de cultura para a continuidade dos ataques contra a imprensa.

Fonte: Prensa Latina