Capistrano: O poder da mídia

Tem um termo que gosto de usar para definir o poder da mídia, é o chamado consenso midiático.
Em que consiste o consenso midiático? É o poder que a mídia tem de fazer com que a maioria da população pense sobre pessoas ou fatos de uma maneira traçada por ela, criando com isso um consenso na população sobre determinado assunto. É a famosa “verdade” midiática. Método que foi muito bem utilizado pelo marqueteiro de Adolfo Hitler, Joseph Goebbels, o homem da comunicação do III Reich. Ele fez escola.

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Repetir uma mentira muitas vezes nos meios de comunicação transforma a mentira em verdade. É aquela história: deu no rádio, saiu no jornal, a televisão noticiou, portanto, é verdade.

Por exemplo, se eu falo, em qualquer ambiente, em Hugo Chávez a maioria dos presentes diz logo “esse é um louco, é um bufão, é um ditador, vive brigando com todo mundo”. Por que isso? A mídia criou essa imagem de Chávez e pronto, virou um consenso.

Ora, a Venezuela nunca viveu um período de tanta democracia como a que está vivendo no governo Hugo Chávez. O país e sua riqueza principal, o petróleo, sempre foi apropriado por uma elite entreguista e antidemocrata. Só agora, com o governo do presidente Chávez, a riqueza do país chega à classe trabalhadora venezuelana, o povo conhece o que é uma democracia, mas a história contada pela grande mídia é outra.

No caso do rompimento das relações diplomáticas da Venezuela com a Colômbia, ninguém fala de Uribe, um fascistoide ligado aos grupos paramilitares de extrema direita, que transformou a Colômbia em uma poderosa base militar norte-americana encravada no coração do continente Latino Americano, com isso ameaçando a paz no continente. O senhor Uribe é um verdadeiro fantoche do governo dos Estados Unidos.

Esse consenso midiático, contra as novas lideranças latino-americanas, é aquela mesma história que justificou a guerra do Iraque. “Saddam tem armas químicas e biológicas, é uma ameaça à humanidade, o seu governo é uma sanguinária ditadura, precisa ser eliminado”, e, no final das contas, o que interessava mesmo aos ianques era o petróleo do Iraque. Armas químicas e biológicas eram uma farsa inventada pelo governo norte-americano com o apoio da CIA e da grande mídia.

Quem tem armas químicas e biológicas é Israel, inclusive armas atômicas. Vive afrontando os seus vizinhos com assassinatos seletivos, e ninguém fala nada. O bandido, o “terrorista”, é o povo palestino, os que tiveram o seu território ocupado sendo expulsos do seu milenar habitat.
É a mesma história contada nos filmes sobre o faroeste norte-americanos: o índio era o agressor, os brancos de olhos azuis que vinham tomar as suas terras eram os mocinhos. Nos filmes eles conseguiam fazer com que a gente ficasse com raiva do índio, achando bom quando John Wayne, o cowboy, matava centena de índios.

Hoje, o poder da mídia conseguiu impor o consenso midiático a todas as classes sociais sobre as novas lideranças de esquerda da América Latina, mostrando essas lideranças como figuras caricatas, patéticas.

Lideranças que conseguiram destronar as velhas e corruptas oligarquias que dominavam há séculos os seus respectivos países e vêm transformando a face desses países que eram conhecidas como republiquetas, com governos que obedeciam, sem pestanejar, as ordens de Washington. Essas lideranças são ridicularizadas pela grande mídia.

O PIG continua a defender aquela velha história: o que é bom para os Estados Unidos é bom para a América Latina. Nunca foi.

Portanto, falar em Evo Morales, Chávez, Correia, Fernando Lugo, Daniel Ortega, Cristina Kirchner, José Mujica, Lula, é contrariar os interesses norte-americanos no continente, não agrada o Partido da Imprensa Golpista, por ele a capital do Brasil seria Washington.

Mas, o que me entristece nisso tudo é ver determinadas figuras, até de esquerda, irem na onda do consenso midiático, escrachando Chávez e outras lideranças que governam países da América Latina com uma visão patriótica e anti-neoliberal. O poder da mídia é fogo.

Antonio Capistrano é ex-reitor da UERN e é filiado ao PCdoB