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Arvelaiz: Vitória eleitoral ajuda a consolidar Poder Popular

Às vésperas da eleição legislativa da Venezuela, o embaixador Maximilien Arvelaiz fala, em entrevista ao Vermelho, sobre o cenário político atual nos seu país. Segundo ele, apesar de decidir não boicotar o pleito desta vez, a oposição, com apoio da mídia, tem feito uma campanha pautada por ataques, usando “dados manipulados e intimidando eleitores”.

Com base em pesquisas, Arvelaiz, contudo, prevê um bom desempenho para os candidatos governistas, que devem atingir 2/3 das cadeiras, maioria necessária para aprovar leis e designações importantes para o funcionamento do governo e o aprofundamento da mudanças iniciadas.

De acordo com embaixador da Venezuela no Brasil, o governo e seus aliados políticos fazem um grande esforço diário para enfrentar “a campanha de difamação e distorção da verdade venezuelana”, que,segundo ele, parte não só da mídia local, como de “cúmplices” no exterior.

Sobre a importância do pleito, ele reconhece que uma vitoria na disputa legislativa “será um grande apoio para a candidatura bolivariana de 2012” e ajudará na consolidação da virada progressista da América Latina.

Ao falar sobre a integração regional, Arvelaiz convida todos a “não fazerem parte do jogo daqueles interesses econômicos e políticos que sempre tentam criar confusão, desconfiança e distanciamento entre povos irmãos como os nossos”. Leia abaixo.

Vermelho: Quais as perspectivas para as eleições legislativas? PSUV e PCV devem conseguir dois terços das vagas na Assembleia Nacional?

Maximilien Arvelaiz: As perspectivas são muito favoráveis para os candidatos da aliança do governo. Segundo o instituto de pesquisa Grupo de Pesquisa Social XXI (GIS XXI, por sua sigla em espanhol), a aliança do PSUV-PCV obteria a maioria na Assembleia Nacional, com 52,6% dos votos.

Se mantivermos a tendência histórica registrada por circuitos eleitorais nos últimos processos – especialmente no referendo que aprovou a Emenda Constitucional em fevereiro de 2009 -, a aliança PSUV-PCV teria garantidos, pelo menos, 73 deputados em 56 circuitos – nos quais,tradicionalmente, tem ganho com mais de 10% de diferença – e mais 24 deputados por listagem.

A oposição, por outro lado, garantiria uns 19 deputados em 17 circuitos e 20 deputados por listagem. Segundo o GIS XXI, para a aliança PSUV-PCV conquistar 2/3 da assembleia vai depender da eleição de, pelo menos, 21 deputados em 17 circuitos ainda disputados. Sem dúvida, a tendência é que a aliança bolivariana atinja uns 110 deputados para obter 2/3.

Vermelho: Na disputa anterior, os partidos de oposição decidiram boicotar o pleito, o que fez com que as legendas aliadas ao governo Chávez obtivessem uma maioria tranquila no Legislativo. Desta vez, a oposição não fez isso. Que estratégias ela tem adotado na campanha?

Arvelaiz: Em comparação com a as eleições de 2005, a oposição optou por fazer parte deste exercício democrático. No entanto, é lamentável ver que ainda reproduzem estratégias de desestabilização no país, como fizeram no passado. A maior parte da campanha opositora está baseada em ataques constantes da mídia contra o governo bolivariano, contra os candidatos do PSUV-PCV e contra o próprio presidente Chávez, com base em dados manipulados e na intimidação dos eleitores.

Por exemplo, utilizaram fatos formulados por uma série de vídeos apresentados há poucas semanas na rede CNN em espanhol, chamada “Los Guardianes de Chávez” (os Guardiões de Chávez), que apresenta cifras incríveis e sem base sobre a violência e a falta de segurança na Venezuela, e apresenta um panorama do país muito diferente da realidade atual.

Nem sequer foi feita uma avaliação com seriedade das medidas mais recentes do governo bolivariano na área de segurança, como, por exemplo, a criação da polícia nacional, reconhecida por ter um programa de formação em direitos humanos único na história do país, com o apoio de especialistas nessa área.

Desafortunadamente, perante a falta de propostas claras, e levando em conta os resultados bem-sucedidos e irrefutáveis do governo bolivariano – como a redução da pobreza em 37% em 10 anos, segundo a CEPAL -, muitos opositores optaram simplesmente por um discurso de “oposição por oposição”, isto é, o motivo para fazer parte da Assembleia é neutralizar qualquer iniciativa do Executivo, seja ela qual for. Sem dúvida, essa atitude é uma ameaça para o processo de construção do Poder Popular, da participação democrática que tem avançado nos últimos anos.

Vermelho: A Mesa da Unidade Democrática (MUD), que aglutina essas forças anti-Chávez, tem alguma coesão?

Maximilien Arvelaiz: A oposição na Venezuela tem diversas expressões, e a Mesa da Unidade Democrática tem demonstrado que a oposição está muito longe ainda de construir uma verdadeira unidade, porque não tem um projeto de país, nem uma coesão ideológica como a que têm as forças que apoiam o governo.

A MUD está constituída principalmente por atores políticos vinculados com uma Venezuela que o povo quer esquecer e tem demonstrado isso através de várias eleições.

É obvio que conseguem apoio naqueles grupos de poder que não têm interesse nenhum no avanço do poder popular e que lucravam com os negócios feitos com os governos anteriores. Mas, tanto as pesquisas atuais quanto as votações anteriores têm demonstrado que, embora algumas pessoas não estejam de acordo com a visão do governo, elas não se sentem representadas pelos atores políticos dessa chamada “Unidade”.

A MUD inclui, também, membros de questionável respeito aos processos e instituições democráticas do país. Tem, por exemplo, candidatos como o ex-governador do estado de Miranda, Enrique Mendoza, que apoiou a censura e o fechamento do canal do Estado, “Venezolana de Televisión”, durante o golpe de Estado contra o presidente Chávez em abril de 2002.

Tem também pessoas como María Corina Machado, cuja organização política, Súmate, recebeu financiamento de agências do governo dos Estados Unidos para promover um referendo revogatório contra o mandato do presidente Chávez.

Um fato que gerou muita decepção por parte dos partidários da MUD foi a dificuldade que tiveram para eleger seus candidatos em eleições primárias. Só 31% de seus candidatos nominais passaram por esse processo, enquanto o PSUV obteve 100% dos candidatos nominais escolhidos através do voto popular da militância do partido.

Outros setores de oposição, que não fazem parte da MUD, também lançaram suas candidaturas, como o caso do partido Pátria Para Todos, que até poucos meses fez parte da aliança com o governo, mas decidiu privilegiar outros interesses e se afastar.

O mais importante, para além do fato de termos ou não uma oposição unificada, é que existe uma democracia vibrante na Venezuela, baseada no apelo constante à participação do povo para definir o rumo do país e com a participação de uma pluralidade de opções.

Vermelho: Qual a importância, para a Venezuela, de os candidatos da base do governo serem maioria no Parlamento? A oposição, caso consiga muitas cadeiras, teria força de colocar freio à ‘revolução’ ou as mudanças já estão muito consolidadas?

Arvelaiz: Sem dúvida o trabalho que tem a nova assembleia será muito duro, porque ainda é necessário legislar sobre algumas áreas importantes, para que a Constituição de 1999 possa ser executada em todas as suas dimensões. No entanto, os candidatos da oposição tentam estragar esse processo e preservar o estado atual das coisas para não deixar a democracia participativa e protagonista estabelecida em nossa Constituição entrar em vigência.

É muito importante para a aliança PSUV-PCV atingir uma maioria de 2/3, necessária para aprovar leis e designações importantes para o funcionamento do governo e para o aprofundamento da construção do Poder Popular.

Vermelho: Chávez já falou várias vezes que é preciso respeitar o resultado das urnas e que há uma tentativa de desacreditar o processo eleitoral. Há chances de a oposição tentar vencer no tapetão?

Arvelaiz: Não seria a primeira vez, nestes últimos onze anos, que, depois de uma eleição, a oposição tenta desconhecer os resultados e desacreditar o Conselho Nacional Eleitoral (CNE). No entanto, é uma estratégia que não tem gerado resultados favoráveis à oposição.

A transparência do CNE é reconhecida mundialmente e, para estas eleições, também teremos a presença de observadores internacionais que atestarão os resultados. São, novamente, manobras de desespero político.

Vermelho: Com a proximidade das eleições, surgiram muitas críticas ao governo nas agências de notícia. Primeiro, os cortes de energia; depois as acusações de Uribe tentando associar a Venezuela às Farc; e, a todo momento, dizem que o governo promove a censura e é antidemocrático. Como o governo e seus aliados têm respondido a isso?

Arvelaiz: O governo e seus aliados políticos fazem um grande esforço diário para enfrentar a campanha de difamação e distorção da verdade venezuelana, utilizada pela mídia do nosso país – que assumiu o papel de partido de oposição – bem como por seus cúmplices no exterior, que têm o interesse de enfraquecer nosso processo político ou utilizá-lo para seus próprios propósitos políticos.

Às vezes, parte da campanha consiste em, simplesmente, não contar todos os detalhes. No caso das falhas de eletricidade, por exemplo, sempre falam sobre elas, mas nunca dizem que houve uma grande e alarmante seca que afetou o país durante todo o ano, especialmente porque a Venezuela é um país que depende em quase 75% da energia hidrelétrica.

Ninguém reporta todos os esforços feitos para procurar alternativas, nem como o esforço do governo bolivariano, ao criar um ministério para atender à área da energia elétrica, ofereceu soluções que superaram a crise.

A tensão com a Colômbia foi somente uma crise política provocada por um presidente que deixava o poder, como um ato desesperado para distrair a atenção de seus cidadãos.

É obvio que as reiteradas acusações de que a Venezuela restringe ou censura a mídia são completamente falsas. Novamente, a prova está em que a maioria da mídia do país continua em mãos privadas e com plena liberdade de fazer campanha contra o governo bolivariano.

A mídia estrangeira precisa se informar melhor sobre o que verdadeiramente acontece na Venezuela, consultando também fontes oficiais ou fontes que, pelo menos, não tenham antecedentes de fabricação de informação para atacar o governo. Existe um site, relativamente novo, por exemplo, chamado de Venezuela de Verdad (http://www.venezueladeverdad.gob.ve), onde a mídia pode obter estatísticas sobre os avanços sociais do governo.

Vermelho
: Que peso esta disputa tem para as eleições presidenciais da Venezuela?

Arvelaiz: Estas eleições são importantes porque demonstram, mais uma vez, o compromisso da maioria do povo venezuelano com um processo de mudança com paz, democracia e a participação de todos os setores da sociedade. Um resultado favorável permitirá a consolidação do nosso modelo de democracia participativa e protagonista, bem como a consolidação de nossas instituições e, especialmente, as instâncias do Poder Popular.

Uma vitoria este ano, sem dúvida, será um grande apoio para a candidatura bolivariana de 2012. Estamos confiantes que a maturidade do povo venezuelano não permitirá a entrada desses setores desestabilizadores, mas apostará em uma Assembleia Nacional que aprofunde os valores democráticos, a construção de uma sociedade com justiça social, o exercício do Poder Popular que apresente propostas para solucionar aqueles problemas que ainda precisam de atenção no nosso país.

Vermelho: Qual a importância dessa eleição para o cenário na América Latina?

Arvelaiz
:
Esperamos que estas eleições legislativas do dia 26 de setembro reflitam a nova realidade de uma grande parte do continente, da tomada de consciência de nossos povos, que, nos últimos anos, ajudou a colocar no poder governantes conscientes da grande dívida social com seus povos e comprometidos com o aprofundamento da democracia.

O avanço das forças progressistas na nossa região, cada uma delas com sua própria identidade de acordo com suas particularidades, significa uma clara ruptura com o passado dogmático em que foi privilegiado o mercado, às custas do desenvolvimento humano de nossas sociedades e submetendo os nossos países a uma maior dependência de outras potências.

Hoje fica mais claro que, embora existam diferenças entre os países da região, também existe um maior compromisso com a unidade regional, entendendo que somos povos que nos complementamos e podemos nos fortalecer ainda mais colaborando entre nós.

No caso da Venezuela, particularmente, aconteceu um processo de conscientização política, de transformação social e de participação popular. Convidamos todos a conhecerem ainda mais a nossa realidade e a não fazer parte do jogo daqueles interesses econômicos e políticos que sempre tentam criar confusão, desconfiança e distanciamento entre povos irmãos como os nossos.

Da Redação,
Joana Rozowykwiat