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Andrés Mourenza: Filme turco causa polêmica

Um filme de ação turco, carregado de mensagens contra Israel, esfriou ainda mais as relações deste país com a Turquia e tem provocado polêmica na Europa. Na Alemanha, por exemplo, as autoridades decidiram , num primeiro momento, proibir sua estreia, que coincidiu com o Dia Internacional do Holocausto.

Por Andrés Mourenza

“O Vale dos Lobos: Palestina” relata as aventuras de um comando turco dirigido pelo agente Polat Alemdar, cuja missão é assassinar o comandante israelense Moshe Ben Eliezer, um personagem de ficção que, no filme, dirige o ataque contra a Frota da Liberdade que buscava romper o bloqueio de Israel contra a faixa de Gaza.

Este incidente ocorreu em 31 de maio de 2010 e culminou com a morte de oito cidadãos turcos e um americano de origem turca, e isso provocou um esfriamento sem precedentes nas relações entre os dois países aliados de Washington. No domingo, 23 de janeiro, as autoridades israelenses emitiram um informe sobre o acontecimento, justificando a atuação de seus soldados.

No filme, os agentes turcos não demoram nem cinco minutos para enfrentar a tiros os israelenses. Em um posto de controle militar, um soldado israelense impede a passagem de Alemdar e sua equipe inquirindo-os sobre sua visita a Israel. “Eu não vim a Israel, vim à Palestina”, responde o “007 turco” e então começa um tiroteio que anuncia o tom geral do filme: umas três centenas de mortos palestinos e israelenses num roteiro simplista e atuação pobre, mas com uma direção de fotografia atraente e bons efeitos especiais.

Não é a primeira ocasião em que a produtora PanaFilm copia o estilo de Hollywood, dando-lhe uma revirada ideológica. Em 2006, "O Vale dos Lobos: Iraque" já havia causado polêmica ao caracterizar as tropas estadunidenses como os maus do filme.

Agora é a vez dos israelenses, liderados por Ben Eliezer, uma encarnação do mal, capaz de ordenar a sangue frio que uma escavadeira esmague sob os escombros a um menino inválido.

Em declarações à agência Anadolu, o embaixador israelense na Turquia, Gaby Levy, qualificou o filme como “difamatório”, alegando que contém “alguns enfoques antissemitas”.

“Não há antissemitismo neste filme”, defende-se o ator Necati Sasmaz, que desempenha o papel de Alemdar. Ele argumenta que o filme só pretende “refletir o sofrimento dos palestinos”.

Um dos pontos mais delicados da polêmica é que sua estreia, marcada para 27 de janeiro, coincidia com o Dia Internacional do Holocausto e, por isso, foi proibida pela agência alemã de Auto-regulamentação Cinematográfica.

“A questão é que, na Alemanha, os filmes estreiam nas quintas-feiras, e isso não tem nada a ver com o Holocausto”, defende-se a PanaFilm.

A equipe do filme denunciou a “censura” e o conflito só se resolveu quando as autoridades alemãs permitiram sua projeção apenas para maiores de 18 anos.

“O que acontece é que preferem ver os muçulmanos como terroristas e não produzindo e dirigindo filmes”, acusou Bahadir Özdenerm, um dos roteiristas.

O único personagem judeu positivo do filme é Simone, uma judia americana que, após conviver com os palestinos, termina acusando os israelenses de serem tão cruéis como os nazistas.

O certo é que a polêmica está ajudando à distribuição do filme, que já estreou na Alemanha, Bélgica, Suíça, Holanda e Inglaterra, e em fevereiro estará nos cinemas do Oriente Médio, ao mesmo tempo em que a produtora negocia sua estreia na Espanha.

Na Turquia, a estreia foi no dia 27 e a frequência dos cinemas tem sido massiva. “Provavelmente isto não ajude a consertar as relações turco-israelenses, mas não podemos impedir que uma companhia produza um filme livremente”, assegurou um alto funcionário do Ministério de Assunto Exteriores da Turquia.

Fonte: http://www.abc.es