Fórum Social Mundial: Zimbabuenses denunciam privatizações
Ativistas do Zimbábue chamam a atenção dos participantes do Fórum Social Mundial (FSM), que acontece em Dacar, para seu movimento contra as privatizações e buscam a solidariedade de outros grupos para resistir à intenção do governo de vender empresas estatais.
Publicado 09/02/2011 18:56
“A privatização é um dos temas que falamos em várias discussões. Vimos a devastação que causa em muitos países onde foi realizada. Tudo o que faz é deixar os pobres à mercê dos ricos”, disse à IPS Darlington Madzonga, coordenador do Fórum Social Zimbábue (FSZ).
“Queremos nos encaminhar para uma nova ordem mundial onde os governos consultem os cidadãos antes de hipotecarem a propriedade estatal com a privatização. Buscamos solidariedade internacional de movimentos sociais em todo o mundo em nossa luta contra a privatização”, acrescentou. O FSZ é membro do Fórum Social da África Austral, uma ampla coalizão de organizações que promovem os direitos econômicos e sociais na região.
O governo zimbabuense sinaliza com um amplo programa de privatizações, pretendendo se desfazer de empresas estatais sob o pretexto de aliviar o orçamento nacional. O plano é vender cerca de dez companhias públicas este ano. O governo de unidade, formado pelos partidos políticos rivais União Nacional Africana do Zimbábue-Frente Patriótica (Zanu-PF) e o Movimento pela Mudança Democrática, luta para recuperar a economia.
O ministro de Empresas Estatais, Gordon Moyo, disse que o governo está determinado a renovar as empresas públicas, muitas em crise devido a anos de má administração. “Estamos realizando consultas com o objetivo de adotar a privatização, e usaremos o melhor modelo possível para beneficiar o povo do Zimbábue”, disse Gordon à IPS.
O Ministério de Estatísticas Financeiras alega que as companhias públicas podem contribuir com 40% do produto interno bruto do país caso sejam vendidas, ao mesmo tempo, ativistas e críticos do programa dizem que a privatização prejudica os cidadãos que já sofrem devido às altas tarifas e aos inadequados serviços públicos.
“Esperar fazer bilhões de dólares de serviços, que se supõe estão destinados a beneficiar o povo, é algo injusto, já que são as pessoas que devem pagar por eles”, disse à IPS o ativista Hopewell Gumbo, da Coalizão do Zimbábue Sobre Dívida e Desenvolvimento (Zimcodd). “Vendê-las ao setor privado significa perda de controle estatal. Os recursos poderiam ser usados para qualquer outro fim”, alertou. A coalizão é uma organização que trabalha pelos direitos sociais e econômicos.
Hopewell contou que, por exemplo, uma empresa como a Autoridade de Fornecimento de Eletricidade do Zimbábue, após ser privatizada, poderá vender a energia para um país vizinho mais rico e ganhar mais, deixando os zimbabuenses literalmente na escuridão. Utilizou como exemplo a África do Sul, que sofreu reiterados cortes de luz nos últimos anos.
Masimba Kuchera, do Fundo de Solidariedade de Estudantes, um grupo de pressão do ensino superior, alega que a privatização não é negativa em si mesma, mas afirmou que não deve ser feita em áreas fundamentais para a vida diária das pessoas. “Por sua natureza, a privatização trata de reorientar as companhias para que deem lucro, por isso deve ficar restrita aos setores que não têm a ver com a sobrevivência das pessoas. Serviços como água, eletricidade, saúde e educação não devem ser privatizados”, afirmou.
O secretário-geral do Congresso Zimbabuense de Sindicatos (ZCTU), Wellington Chibhebhe, disse à IPS que “a privatização se concentra em maximizar o lucro acima das necessidades, dos direitos e dos interesses humanos”. Esta entidade acredita que a privatização causará uma exploração maciça, considerando que a maioria das empresas estatais tem o monopólio em seus mercados. Wellington citou o problema das altas tarifas cobradas para a eletricidade, água e o telefone.
Com informações da Agência Envolverde/IPS