Hemingway não é bem assim…
Conta a lenda que Ernest Hemingway nasceu em 21 de julho de 1899 nos Estados Unidos, mas não foi na América que ele encontrou seus principais personagens e sua densidade literária. O Hemingway que ganhou o Prêmio Nobel da Literatura começou a dar sinal de existência em 1921, em Paris, onde o desconhecido Ernest fez a festa e o futuro escritor Hemingway começou a carreira de jornalista.
Publicado 21/07/2011 18:47
Seduzido e acompanhado na noite francesa por vinhos, mulheres e autores polêmicos da dimensão de Gertrude Stein, James Joyce, Ezra Pound e F. Scott Fitzgerald, teve ali, pela primeira vez, acesso aos clássicos e devorou dos russos Tolstoi e Dostoievski aos franceses, como Stendhal. Com a bagagem abarrotada, aprofundou a sensibilidade e conquistou recursos éticos e estéticos para realizar os dois maiores sonhos declarados: ser um bom escritor e viver em absoluta fidelidade a suas vontades e valores.
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Tudo o que sofregamente viveu de um modo ou outro foi parar nas páginas de seus romances. Não sossegou quando se casou pela terceira vez e foi morar em Cuba, mas lá o talento ganhou reconhecimento mundial: escreveu sua obra-prima, “O velho e o mar”, pela qual recebeu o Prêmio Pulitzer de 1953, e, no ano seguinte, o Nobel de Literatura. Fidel Castro tornou-se um de seus inumeráveis amigos cubanos, com quem partilhava charutos e morritos.
E eis que chegamos a 2 de julho de 1961, data da sua morte, oficialmente um suicídio com tiro certeiro de sua arma preferida. Outra lenda? Há um livro recente que defende, ficcionalmente, a tese de que Hemingway não morreu, foi outro. Gabriel García Marquez, quando recebeu a notícia, chegou a duvidar e explicou que tanto o autor quanto seus personagens não pareciam homens que desertavam da vida.
Um companheiro de aventuras, o cubano Gregório Fuentes — piloto, imediato, cozinheiro e marinheiro do seu barco, o “Pilar” – ainda achava, 30 anos depois do suicídio, que havia sido assassinato encomendado pelo FBI.
Para os cubanos, ele nunca morrerá, pode fazer uma aparição a qualquer momento em um dos bares que mais freqüentava, para matar saudade do daiquiri e planejar uma próxima e espetacular aventura.
Para quem acha que Hemingway teve uma vida mais interessante que os seus livros, como maldosamente afirmou F. Scott Fitzgerald, García Marquez dá uma lição de moral: “O tempo demonstrará que ele, como escritor menor, comerá muitos escritores grandes, por seu conhecimento das motivações dos homens e dos segredos de seu ofício. Certa vez, numa entrevista, elaborou a melhor definição de sua obra ao compará-la ao iceberg de gigantesco volume de gelo que flutua na superfície: é apenas um oitavo do volume total, e é invencível, graças aos sete oitavos que o sustentam sob a água”
Por Christiane Marcondes