UNE apoia movimento da USP e defende diálogo sobre PM no campus
Para a União Nacional dos Estudantes (UNE), a reintegração de posse da reitoria da USP, comandada por policiais militares na madrugada desta terça-feira (8), fere o princípio da autonomia universitária e compromete a liberdade garantida aos estudantes para se organizarem e defenderem uma educação mais igualitária e justiça social. Sobre a questão, o presidente da entidade, Daniel Iliescu, em entrevista exclusiva ao Vermelho, destacou os pontos que considera fundamentais neste debate.
Publicado 09/11/2011 17:22
Recorrendo a fatos históricos, Iliescu declarou que a violência empregada pela polícia contra os 73 estudantes que ocupavam a reitoria ”remete aos piores tempos da ditadura militar” e “prejudica o debate sobre a suposta contribuição que a PM poderia dar para a segurança do campus”.
Fora isso, a “questão da infraestrutura é o outro ponto que precisa ser discutido e é uma demanda antiga do movimento estudantil. A USP precisa de mais iluminação, mais transporte coletivo e de uma ocupação criativa dos espaços da universidade, por exemplo”.
Sobre a greve estudantil deflagrada na noite da terça-feira (8), ele enfatizou que “a UNE apoia totalmente a paralisação” e estará presente no ato que será realizado na Faculdade de Direito, no Largo São Francisco, nesta quinta-feira (10). Segundo ele, também deverão participar o ministro da Educação, Fernando Haddad e o senador Eduardo Suplicy (PT).
Sobre a polêmica presença da PM no campus, ele é enfático: “nos preocupamos com a polarização que está ocorrendo entre os atores. Entre o Movimento Estudantil e outros estudantes que supostamente são favoráveis à PM no campus. Nós não achamos que a PM é a causa do problema, mas sabemos que ela não é a solução”.
E esclarece que a entidade se posiciona contra o convênio firmado entre a reitoria e a polícia: “Essa relação não está clara. Este convênio é antidemocrático, porque não fomos consultados sobre ele, e além disso, é impreciso porque não especifica os detalhes desta relação. Por isso, conclamamos todos os estudantes a participarem desta mobilização que é uma luta de todos.”
Confira a íntegra da nota publicada pela UNE
A União Nacional dos Estudantes (UNE) repudia a violência da Polícia Militar contra estudantes que se encontravam na reitoria da Universidade de São Paulo (USP) na madrugada desta terça-feira (8). A invasão da Cidade Universitária por forças policiais e a detenção dos estudantes é injustificável.
A ação da Polícia Militar fere o princípio da autonomia universitária e compromete a liberdade histórica garantida aos estudantes para se organizarem e defenderem seus princípios na busca por uma educação mais igualitária e pela justiça social em nosso país. O uso da força e da truculência não é a melhor forma de agir frente ao debate que se criou com a decisão autoritária e imediatista da atual gestão da USP, que firmou convênio equivocado com a PM para supostamente aumentar a segurança no campus.
No caso da USP, a questão também envolve outros fatores bem mais importantes, como a formação urbanística no campus, desenhado durante a ditadura militar e que ainda apresenta um modelo indevidamente superado. Foi inclusive durante esse período da ditadura que a ausência da PM nos campus permitiu ao movimento estudantil iniciar os movimentos pela Anistia e liberdades democráticas. Os estudantes lutaram contra essa ditadura, que ainda assim invadia universidades para prender e torturar. Venceram, inclusive, pela via da organização coletiva e da democracia.
No entanto, sombras da ditadura permanecem vigentes na USP. Exemplo é o estatuto utilizado para a perseguição e expulsão dos estudantes envolvidos na ocupação da reitoria de 2007 – promulgado durante a gestão do reitor Gama e Silva, redator do texto do AI-5.
É falacioso afirmar que, dentro ou fora da universidade, a simples presença da Polícia Militar seja sinônimo absoluto de segurança para os cidadãos. Sofremos com uma PM atrasada. Defendemos que a USP se debruce em um amplo debate com toda a sociedade para fomentar políticas alternativas à PM no combate à insegurança vivenciada na Universidade. Esse projeto deve perpassar uma USP mais aberta à sociedade, com mais iluminação, ocupação criativa dos espaços e transporte acessível.
A UNE acredita que outras soluções devem ser discutidas pela reitoria da USP para que o problema da violência no campus seja solucionado e convida a todos para uma discussão acerca do problema.
Da redação do Vermelho, Vanessa Silva