"Distribuição de renda é solução para Espanha, não austeridade"
Essa é a opinião de Marcelo Milan, professor de Economia da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Para Milan, as medidas de austeridade, anunciadas nesta segunda (19) pelo futuro presidente de governo espanhol Mariano Rajoy, não deverão surtir o efeito esperado. A melhor saída da Espanha para que essa crise não se repita seria melhorar a distribuição de renda e riqueza da população.
Publicado 19/12/2011 20:20
“Se tirarmos por base as tentativas anteriores de se implantar medidas de austeridade, o futuro não parece muito brilhante para a economia espanhola. O governo anterior [do socialista José Luiz Zapatero] tentou também essas medidas desde 2010. Mas nada aconteceu na prática”, disse o economista.
Para Milan, as medidas anunciadas até agora apenas ajudaram para contrair a economia espanhola – como pode ser observado principalmente no setor manufatureiro. “Medidas de ajuste fiscal são sempre feitas em comparação com o PIB (Produto Interno Bruto) e acabam por afetar a produção de maneira negativa. Em conseqüência, o próprio PIB é afetado e a dívida acaba aumentando”.
A única perspectiva econômica otimista de Milan em relação ao novo governo espanhol é a possibilidade já aventada de que os conservadores tentarão regulamentar o sistema financeiro bancário, através da venda de ativos e passivos e da reestruturação dos bancos, com novas fusões e aquisições.
No entanto, o que não se discute, segundo o economista, é justamente o que levou a Espanha ao endividamento. “As origens desse desequilíbrio é que não estão sendo enfrentadas. É fácil se pautar pelas aparências”, afirma. A origem mais próxima do problema, segundo ele, está no balanço de pagamentos dessas economias. “Os países mais periféricos do bloco (e a Espanha é considerado um) receberam um montante muito grande de empréstimos. Mas muitos deles não foram utilizados para aumentar a capacidade da economia. Como conseqüência, houve um boom no setor imobiliário, aumento dos ativos, gerando maior precariedade financeira. Quando a bolha estoura, ocorre a implicação fiscal, pois não há como sustentar o nível de arrecadação”.
Milan lembra que está não é uma particularidade da Espanha, e que o desequilíbrio fiscal não é a origem da crise, mas sua conseqüência. “Há uma total inversão de valores. Essas economias têm problema de falta de demanda. Com produção elevada e rendimento baixo não se gera o consumo necessário. O gasto público cresce para fechar essas dificuldades. Por isso que, em minha opinião, a solução para melhorar esse cenário é uma melhor distribuição de renda e riqueza”, afirmou.
Fonte: Opera Mundi