Afeganistão 2012: o ano do Talibã
"Ano do Talibã", é como denominou 2012 um diplomata ocidental, servindo em Cabul, de férias aqui, em Istambul. E ao que tudo indica esta previsão será confirmada até mesmo pelos "falcões" do Pentágono, os quais já aceitam e reconhecem que "sem alguma forma de acordo de pacificação com os guerrilheiros islamitas do Talibã, os quais os EUA eliminam aos milhares há mais de uma década, a guerra no Afeganistão e no noroeste do Paquistão não deverá terminar nunca".
Por George Pezmatzoglu
Publicado 20/01/2012 14:08
Não é por acaso que duas das primeiras "notícias" do novo ano referem-se às "aberturas" dos EUA para os Talibã: A primeira anuncia a iminente libertação de uma importante personalidade do Talibã, o mulá Mohammed Fazul, do purgatório de Guantánamo, em Cuba, onde encontra-se detido há nove anos.
O detalhe chave é que o mulá não retornará ao Afeganistão, mas será "transladado" ao Catar, onde – de acordo com a segunda "notícia" – dentro das próximas semanas funcionará, oficialmente, o primeiro escritório de representação do Talibã fora do Afeganistão, com a permissão dos EUA.
E as "notícias" insinuam que o mulá constitui uma espécie de "pagamento de sinal" à liderança atual dos Talibã para que se convença de que os EUA estão seriamente interessados em negociar com os guerrilheiros, após tantos anos de infrutífera e sangrenta – para os EUA – guerra de guerrilhas.
Aliados querem sair
Barack Obama, que há pouco proclamou oficialmente o fim da ocupação do Iraque pelos EUA, hoje até "paga" para conseguir um acordo que termine, rapidamente, a guerra no Afeganistão, de preferência antes das eleições de novembro.
O presidente dos Estados Unidos também precisa conseguir um ás na manga em vista da Reunião de Cúpula dos países-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), em Chicago, quando procurará mostrar a todos os cidadãos dos EUA que conserva não só o pulverizado status de liderança, assim como as qualidades que "demonstrou" como comandante-em-chefe da Nação.
O mais difícil será convencer os cada vez mais sem vontade de permanecer no Afeganistão aliados europeus a não abandoná-lo sozinho para enfrentar o monstro islâmico que os próprios EUA inventaram e construíram há 30 anos na Ásia Central para ajoelhar os soviéticos.
Um provável novo fracasso de entendimento com os aliados sobre o futuro do Afeganistão – a exemplo daqueles que foram registrados durante as reuniões de Istambul e de Bonn, em novembro e dezembro do ano passado, respectivamente – poderá levar tanto Obama, quanto o Pentágono a posição extremamente difícil.
Neste duro jogo de poquer, a libertação do mulá Fazul assemelha-se ao primeiro passo para o royal flush que buscam os estrelados generais, almirantes e brigadeiros norte-americanos. Braço direito, durante longos anos, do líder do Talibã, mulá Mohammed Omar, e comandante militar dos guerrilheiros na região de Koudouz, mulá Fazul era famoso por sua dureza (considera-se responsável pelo massacre de milhares de xiitas em Hazaros), mas, também, por suas muito estreitas relações com os Serviços Secretos do Paquistão (ISI), sem os quais, aliás, jamais poderia ter sido criada a força islâmica da guerrilha do Talibã, que ocupou Afeganistão em meados da década de 1990.
Volta ao Paquistão
Os EUA têm necessidade urgente de um imediato reinício de suas relações com o Paquistão, totalmente congeladas após a "execução sem julgamento" de Osama bin Laden e a incessante onda de bombardeios em território paquistanês por aviões não tripulados (drones) da Agência Central de Inteligência (CIA), que já mataram centenas, senão milhares de civis nos últimos dois anos.
Sabe-se que o Paquistão já bloqueou todas as rotas de reabastecimento das forças da Otan através de seu território para o Afeganistão, enquanto idênticos problemas enfrenta a Otan para o transporte de suprimentos através de Uzbequistão, cujo governo, ao que tudo indica, decepcionou-se com as promessas norte-americanas e retornou, definitivamente, aos geopolíticos braços da Rússia.
Tudo isso revela, claramente, que os EUA já estão prontos para sentar em torno da mesa das negociações com os fanáticos guerrilheiros que, durante uma década, o poderoso Tio Sam fracassou em seus esforços para pulverizar militarmente, apesar do grande aumento de homens e supermoderno material de guerra nos anos de Obama.
Porém, aquilo que não é nada seguro é se os guerrilheiros do Talibã – particularmente, sua nova geração, a Rede Hakani, que alimenta a guerra de guerrilhas desde o norte do Paquistão – estão interessados.
Fonte: Monitor Mercantil