Entrevista: Evaldo Lima fala sobre TEDx

No dia 10 de junho de 2012, Fortaleza receberá o seu primeiro TEDx, evento independente ao TED e que trará como tema: “Mentes compartilhando ideias”. O evento terá como facilitador o Professor Evaldo Lima que, em entrevista especial, falou sobre as novas ferramentas de mobilização, desafios da vida moderna e ainda sobre o evento que irá participar. Leia a seguir a íntegra da entrevista.

Costumava-se fazer uso do discurso panfletário e das palavras de ordem, bastante difundido na década de 60. Hoje em dia a coisa mudou muito. Pra trazer alguém pro seu lado, seja pra se divertir num jogo ou pra defender uma causa, como é que faz? Qual ferramenta que você acabou desenvolvendo?

A nossa geração teve uma importante contribuição para o que o Brasil é hoje e eu me sinto honrado de fazer parte dessa trajetória. Com discurso panfletário (ou não!) e palavras de ordem, nós estávamos ali na hora e no lugar certo, no movimento estudantil ou sindical, na resistência ao regime militar, na luta para construir um Brasil democrático.

Não rejeito os múltiplos fronts construídos nesse período seja nas passeatas, palavras de ordem e organização social. Atendíamos ao chamado do nosso tempo. Depois de experimentar o sabor amargo do autoritarismo afirmo que valeu a pena a construção diária da democracia no Brasil. Travamos o bom combate para construir o país de hoje muito melhor em todos os aspectos. Contudo, a essência da História é o movimento constante e a dialética da mudança.

O admirável mundo novo apresenta novas plataformas e ferramentas. Temos que ser contemporâneos com o nosso tempo. Hoje já não bastam as formas de luta do passado. Como falava Carlos Drummond de Andrade, “o presente é tão grande, não nos afastemos muito.” Hoje já não bastam as formas de luta convencionais. Não podemos prescindir de organização com base social integrada nas novas ferramentas que a tecnologia oferece.

Tenho um blog desde 2007 e sou um entusiasta das mídias sociais, em especial Twitter e Facebook, onde tenho um perfil e uma FanPage, respectivamente. Essas ferramentas tem uma linguagem diferente e é incrível o poder de massificação das ideias que cada uma delas tem. Nelas discuto as minhas paixões, educação, cultura, História, futebol e, é claro, a política, como elemento transformador da realidade.

Na sua experiência com os movimentos sociais, como o estudantil, quais são os principais passos para se estabelecer um diálogo de qualidade com as comunidades? Como fazer com que os cidadãos se interessem e se envolvam mais com as políticas públicas?

A ditadura militar desconstruiu com repressão, torturas e mortes o movimento sindical. O movimento estudantil cumpriu importante papel pela redemocratização do país. Participei deste movimento na UECE e UFC como Presidente do Centro Acadêmico Caldeirão, do curso de História, do DCE e da UNE. Em toda esta experiência fica um grande legado: a importância do protagonismo coletivo e da democracia participativa. Nenhum de nos é melhor do que todos de nos juntos.

Para além da política o que pode existir é a barbárie. A política tem de ser o exercício de um devir, um vir a ser, do resgate permanente da utopia e da paixão. No diálogo com as comunidades é fundamental respeitar os cidadãos como protagonistas de sua história, mostrar a importância da mobilização e participação efetiva na construção de políticas públicas. Mostrar que a construção destas políticas interfere em nossa vida cotidiana. Que não existem dicotomias entre o que somos e o que fazemos para construir uma cidade e um mundo melhor.

Recentemente, lançamos em nosso grupo do Facebook um debate com o tema “Consciência Política”. Com base no tema, o que você acha das redes sociais como “facilitador” de ações em prol de uma causa?

As Redes sociais ultrapassaram as fronteiras das mídias tradicionais. No mundo da hiperconectividade a defesa de boas causas ganha nova amplitude. Esta Ágora virtual amplia os limites do possível e alimenta utopias de um mundo mais justo com homens, mulheres e jovens conscientes e dispostos a acreditar que outro mundo, mais fraterno e solidário, é possível.

Há quem insista que existe contradição entre o mundo real e o mundo virtual, mas a internet não é um mundo à parte, é uma nova parte do mundo, uma extensão deste. Surgiu até mesmo a expressão “revolucionário de sofá”, para designar quem discute política na internet, mas não creio que assim seja, desde que a discussão esteja aliada à práxis.

Um bom exemplo foi a chamada "Primavera Árabe", que teve como estopim a mobilização na internet em defesa da democracia em países do Norte da África e Oriente Médio. Os protestos que se articulavam pela internet se espalharam pelas ruas através de passeatas, comícios e greves.

Neste sentido, considero que o atual momento é de persistência de modelos tradicionais de organização da luta política aliados a novas ferramentas de luta. Assim como na década de 60 no Brasil existiam as reuniões, as pichações, os panfletos. Agora, temos o grupo no Facebook, a hashtag no Twitter e o vídeo no Youtube. As lutas sociais permanecem essencialmente as mesmas, apenas contamos com novas armas.

Como professor, quais pontos devem ser modificados nas formas ou grades de ensino para garantir maior conscientização política nos jovens?

A escola deve ser um espaço plural, democrático, lúdico acolhedor para as diversidades e participativo para as juventudes e os educadores envolvidos no processo. É da falta que nasce o desejo, a tensão e a angústia do Educador que educa a dor da ausência e da busca da escola do aprender e do prazer.

Infelizmente a escola que temos ainda não atende aos interesses e expectativas dessas juventudes em aprender, viver e se surpreender. A cultura escolar ainda está distante da cultura da juventude que anseia por um ambiente que favoreça a aquisição do conhecimento de forma mais dinâmica, veloz, atrativa sem rejeitar o espaço crítico e reflexivo. Para avançar Já não basta o discurso.

É preciso “fazer a palavra andar”. Concretizar mudanças no pensar e no agir educacional sem negar o conflito que está na essência de uma nova escola compatível com as exigências do nosso tempo, cada vez mais veloz e conectado. A escola deve ser espaço de reflexo e reflexão para ampliar a conscientização política dos jovens.

Como dizia Paulo Freire, “Ninguém ensina ninguém, tampouco ninguém aprende sozinho, os homens aprendem em comunhão”. E tenho, ao longo da minha carreira como educador, tentado aplicar este conceito.

Queremos que a escola forme bons profissionais, mas também queremos que a escola sirva para formar cidadãos ciosos de seus direitos e deveres, capazes de interpretar o mundo à sua volta e questionar e se indignar diante das injustiças.

O que você espera do TEDxFortaleza e como você acredita que o nosso evento influenciará no social?

Fortaleza tem todos os problemas de uma grande capital brasileira: ocupação desordenada, miséria, trânsito caótico, poluição, entre muitos outros. Um evento como o TEDx, que pretende apresentar ideias inovadoras para a transformação da sociedade é sempre bem vindo.

Uma característica importante do TEDx, que me deixou impressionado, é o propósito de não apenas apresentar as ideias, mas criar uma rede de multiplicadores através de lideranças e nomes representativos dos mais diversos segmentos da sociedade presentes.

O formato das palestras, de apenas 06 a 18 minutos, deve ter um impacto interessante no público, tendo em vista que nós, brasileiros, estamos acostumados a palestras longas e prolixas. O diálogo com as mídias sociais e a disponibilização dos vídeos na internet tem um grande potencial para viralizar os conceitos e formatos criados através do TEDx.

Enfim, o que está em jogo é a construção coletiva de novas formas de pensar, baseadas na justiça social e que colaborem com a utopia possível de um mundo melhor. Já estava na hora do TEDx chegar ao Ceará e acredito que a cidade de Fortaleza precisa de mais iniciativas que venham estimular o crescimento das “ideias que merecem ser espalhadas”.

Fonte: Blog TEDx Fortaleza

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