Honduras recorda 3º ano de golpe com manifestações

A Frente Nacional de Resistência Popular (FNRP) de Honduras realizou manifestações em diversas regiões do país para relembrar o terceiro aniversário do golpe de Estado que depôs Manuel Zelaya do poder.

O ato realizado em Tegucigalpa, a capital do país, contou com a participação de milhares de pessoas e foi liderado por Zelaya e sua esposa, Xiomara Castro, que no próximo domingo lançará sua candidatura à Presidência.

Na cidade Santa de Copán, no oeste de Honduras, professores, trabalhadores, agricultores e estudantes participaram do protesto que bloqueio a estrada internacional que liga o país à Guatemala e a El Salvador.

A direção do FNRP divulgou ontem, por meio de um comunicado, que as manifestações também seriam "uma mostra de solidariedade com o povo paraguaio, que está lutando para restituir a ordem democrática" no país.

Beira do colapso

A ruptura da ordem constitucional, o consequente isolamento internacional, a reversão das principais reformas impulsionadas por Zelaya, assim como a remilitarização da sociedade e a eclosão de uma crise política, econômica e social sem precedentes levaram o país à beira do colapso.

O suspeito processo eleitoral que, em novembro de 2009, ascendeu Porfírio Lobo à Presidência e a assinatura dos Acordos de Cartagena, que em maio de 2011 abriram espaço para o regresso do ex-presidente Zelaya ao país não serviram para normalizar a situação.

Para o membro da Comissão Política do FNRP, Carlos H. Reyes, o golpe não apenas perseguiu o objetivo de aprofundar o modelo neoliberal e entregar a grupos oligárquicos o controle do Estado, mas também freou as reformas impulsionadas com o apoio das forças sociais do país.

“Tudo isso gerou um grande retrocesso que se agravou com a aprovação de leis que surgiram para atropelar os direitos dos trabalhadores, camponeses e setores populares em geral. Aproveitaram-se da conjuntura para continuar concedendo nossos recursos naturais, extendendo benefícios para grandes transnacionais e privatizando os serviços públicos”, disse Reyes em entrevista ao Opera Mundi.

Para Eugenio Sosa, analista político hondurenho, “as instituições estão erodidas e deslegitimadas perante a população por sua incapacidade de enfrentar os grandes dilemas que afetam o país. Os dados são dramáticos e a maioria das pessoas convive com um sentimento crescente de insegurança e desespero”.

Durante a gestão de Porfírio Lobo, foram registradas quase 13 mil mortes violentas, o equivalente a 20 vítimas diárias. Uma das categorias mais vitimadas foi a jornalística. No total, 29 profissionais da imprensa foram assassinados ao longo dos últimos anos, 24 deles durante o mandato de Lobo.

Mais além, o conflito agrário que atinge o norte do país – mais especificamente a zona de Bajo Aguán – deixou um saldo de quase 50 camponeses assassinados após o golpe. No mesmo período, foram mortos 68 membros da comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bisexuais e Transexuais). Desses, 46 durante a atual administração.

“Há atores invisíveis, como o crime organizado e o narcotráfico, que permeiam todas as instituições e poderes do Estado. Depois do golpe aproveitaram a debilidade institucional para se reforçarem ainda mais, como é o caso dramático da polícia”, explicou Sosa.

Com informações do Opera Mundi e Ansalatina