Uma carta a Oscar Niemeyer
O secretário de Relações Internacionais do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Ricardo Abreu Alemão, escreveu uma carta em homenagem a Oscar Niemeyer, quando ele completou 100 anos, em 2007. Segundo Alemão, Niemeyer foi um dos maiores comunistas brasileiros também exemplo de artista e de vida.
Publicado 06/12/2012 17:11
Alemão, que teve oportunidades de encontrar o arquiteto, destacou a simplicidade de Niemeyer e lembrou que ele pôde testemunhar os 90 anos da história do PCdoB. A carta foi entregue em forma de quadro para o comunista, que a recebeu com gratidão. Leia abaixo a íntegra da carta:
Oscar, camarada, companheiro, nos vimos e nos falamos apenas uma vez, em uma campanha eleitoral do nosso Partido no seu Rio de Janeiro. Na ocasião conversávamos em uma roda com a presença de João Amazonas. Entretanto, na verdade nos vimos, nos vemos e nos veremos muito mais. Muitas vezes sem percebermos. Quantas vezes não me deslumbrei com obras suas? Não namorei dentro delas, deitado ou encostado nelas? Nos encontramos em atividades políticas, nas páginas de Jorge Amado, em conversas mediadas por outras pessoas sobre a futura sede da UNE na Praia do Flamengo, projetada por você?
Você continuava a entrevista enquanto Maria Clara e Sofia corriam nuas na frente da TV. Haviam saído do banho quando você respondia de forma magistralmente sintética e simples uma pergunta sobre uma suposta morte do comunismo. O que morrerá, dizia você, é o capitalismo injusto, pois o comunismo é ainda uma idéia, e ideais não morrem assim. Neste instante elas corriam, pulavam e se divertiam em frente à TV, parecendo festejar a sua resposta.
Quando Maria Clara e Sofia completarem os seus 100 anos, no início do século 22, nós já teremos mudado bastante esta vida. Essa sua confiança no futuro socialista e no além-futuro comunista, essa sua capacidade de fazer “agitprop”, essa sua vitalidade espirituosa, foram o meu melhor presente de ano novo. Você é um dos camaradas cuja vida se identifica plenamente com a vida do Partido e portanto com a história de nosso povo. Sua centenária vida tem a grandeza moral que corresponde ao nosso Partido.
Obrigado. É assim que me sinto, livre e conscientemente obrigado a lutar a seu lado e de nossas companheiras e companheiros. Mais uma vez, obrigado! É como se renovasse a minha filiação, renovando as nossas esperanças e as nossas convicções enquanto te via e ouvia.
Valeu Niemeyer! E mais vale o que será. Como você gosta de dizer, vamos juntos e de mãos dadas.