Cesgranrio: Enem pode ser aplicado via computador em 2016
Provas de concurso público feitas com papel e caneta podem estar com os dias contados. A Fundação Cesgranrio – atual responsável pela aplicação de vestibulares, concursos e avaliações como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Exame Nacional de Avaliação do Desempenho dos Estudantes (Enade) – está iniciando um projeto de elaboração de testes adaptativos por computador para concursos de larga escala.
Publicado 17/12/2012 10:17
O sistema, que já é utilizado em alguns exames dos EUA, tem como principal premissa a realização de provas 100% informatizadas, nas quais os limites das habilidades e competências de cada estudante são levados em consideração o tempo todo durante o teste.
Para elaborar o projeto, a Cesgranrio se baseia no método desenvolvido na Faculdade de Psicometria da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Segundo o professor Ruben Klein, especialista em avaliação e consultor da fundação, a implantação desse tipo de teste no Brasil promete revolucionar o conceito de avaliação. Além de provas mais atraentes, com a possibilidade do uso de recursos multimídia, como vídeos e músicas nos enunciados, a aplicação dos exames em computadores diminuiria gastos com transporte, impressão e logística, e acabaria com a necessidade de os exames serem realizados em um único dia. Entretanto, especialistas questionam a viabilidade de se aplicar no Brasil uma prova de modelo adaptativo em um futuro próximo.
Nível de dificuldade se adapta ao aluno
A Cesgranrio planeja utilizar o sistema em dois ou três anos começando por avaliações com poucos alunos e evoluindo para uma aplicação em larga escala. Uma prova do tamanho do Enem poderia ser feita no modelo adaptativo por computador daqui a quatro anos, de acordo com as previsões de Klein.
"No papel, é complicado fazer uma prova adequada a todos. Se um aluno acerta todas as questões ou não responde nada porque está muito difícil, você não está medindo bem as suas habilidades. Pelo computador, nesse conceito adaptativo, de acordo com as respostas marcadas pelo candidato, o sistema seleciona questões mais apropriadas para as competências desse estudante. O nível de dificuldade das perguntas seguintes varia segundo o desempenho dele em cada item, e a nota é calculada pela Teoria de Resposta ao Item (TRI), que considera se o aluno fez uma prova mais fácil ou difícil. A ideia é ter um diagnóstico preciso das deficiências de cada estudante nas habilidades analisadas" – explica o consultor.
O professor Leonardo Cordeiro, mestre em matemática pura e aplicada pelo Impa, vê com desconfiança os planos da Cesgranrio.
"Os exames do Scholastic Assessment Test (SAT), dos Estados Unidos, que são muitas vezes comparados ao Enem, não usam as provas adaptativas por computador. O modelo lá é usado em diversos exames. Mas, na prova que tem objetivo parecido com o nosso, com uma quantidade relevante de candidatos, não é utilizado. Então, devemos questionar por que isso seria feito no Brasil. Se fosse para ser uma tecnologia só para avaliação, tudo bem, mas quando a gente fala de um teste que vai selecionar para as principais universidades públicas, é preciso muito cuidado. As técnicas da TRI ainda são uma caixa-preta para a grande maioria da população. A tecnologia adaptativa seria a caixa-preta da caixa-preta", afirma Cordeiro.
Fonte: O Globo