Cláudio Ferreira Lima: Que querem os Brics?

Por *Cláudio Ferreira Lima

Nos dias 27 e 28 do mês passado, os Brics realizaram em Durban, na África do Sul, a 5ª Cúpula, um fato sem dúvida portador de futuro. Mas, para a nossa grande imprensa, por razões que não importam aqui, a manchete foi a fala da presidente Dilma Rousseff sobre combate à inflação.

Bric, o acrônimo de Brasil, Rússia, Índia, China – em 2011, com a entrada da África do Sul, ganhou o “S” – tem origem no estudo Building Better Global Economic Brics (2003), de Jim O’Neill, para o Goldman Sachs, que, com base em área territorial, população e médias históricas de crescimento, previa que tais países, em poucas décadas, causariam profunda transformação na economia mundial.

Em 2006, em reunião de chanceleres dos quatro países, à margem da 61ª Assembleia Geral da ONU, o acrônimo virou grupo político-diplomático, e, a partir de então, os seus integrantes passaram a interagir cada vez mais, estreitando os laços entre eles, de modo que, enquanto as Cúpulas já percorreram os cinco países membros – em 2014, será a 6ª, em Brasília –, ampliou-se a agenda de cooperação em campos como energia, logística e comunicação.

Os Brics, com representantes de quatro Continentes, têm hoje peso significativo no plano mundial. Em 2012, segundo o FMI, somam 42% da população, 45% da força de trabalho e 21% do Produto Interno Bruto (PIB). E deles vem emergindo um gigantesco mercado classe média.

Agora, em Durban, duas decisões relevantes: a) a criação do banco Brics de desenvolvimento, para financiar a infraestrutura dos Brics e de outros países em desenvolvimento, e; b) a constituição do Arranjo Contingente de Reservas de US$ 100 bilhões para que os cinco Brics possam enfrentar eventuais pressões cambiais de curto prazo e reforçar a sua estabilidade macroeconômica. Esses instrumentos complementam, respectivamente, as ações do Banco Mundial e dos bancos regionais, e do FMI e outros mecanismos internacionais congêneres. Ambos têm a vantagem de estarem sob as asas dos Brics.

Será que, como diz o título de matéria do jornal Le Monde (26.3.2013), “Os Brics querem desafiar a hegemonia ocidental”? Um exagero! O que os Brics querem é governança global mais democrática, consentânea com um mundo novo em plena construção.

Seremos Brics, África e América do Sul, protagonistas decisivos deste novo cenário histórico de uma cultura de paz, de solidariedade, de justiça social e de cooperação fraterna”.

Concluo com Gelson Fonseca Jr.: “As diferenças que existem limitam as possibilidades de ação comum, mas não impedem que sejam buscadas, já que as vantagens que o grupo pode oferecer a seus participantes são muitas, a começar pela possibilidade de diálogo entre países que, de diversas maneiras, têm responsabilidades crescentes na construção da ordem internacional. (Brics: Notas e questões. In: O Brasil, os Brics e a agenda internacional. Brasília: Funag, 2012, p.29).

*Cláudio Ferreira Lima é economista

Fonte: O Povo

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