É preciso respeitar as liberdades individuais

                                                                                                                                    * Vander Rodermel

Na última madrugada do dia 6 de abril, na boate 2ME em Balneário Camboriú, um jovem foi brutalmente agredido por seguranças da boate. O jovem, André Barbosa, declarou que havia beijado outro rapaz, e o segurança o repreendeu ameaçando expulsá-lo de dentro da boate se André beijasse o rapaz novamente



Os administradores da boate publicaram uma declaração que tentava esclarecer o ocorrido, dizendo que um dos seguranças foi agredido primeiro com uma mordida no dedo da mão, ao tentar acalmar os ânimos de um grupo de jovens que estavam mais eufóricos. Segundo a administração da boate, um dos seguranças teve o dedo da mão mordido e que mais seguranças foram chamados para ‘ajudá-lo’ a livrar-se da mordida. Se não soubéssemos que André é um garoto, não tão corpulento e forte quanto os seguranças, certamente acreditáramos que ele seria um cachorro PitBull, que tem uma mordida extremamente forte, o que explicaria a necessidade de vários seguranças para abrir’ a boca do jovem!

A polêmica nessa história toda não é quem está mentindo, quem praticou homofobia ou foi desrespeitoso. Não podemos perder o foco da questão, que é a violência gratuita. Não importa o que o jovem fez dentro da boate, nada justifica o uso de força desproporcional e violenta contra quem quer que seja. Existe tanta mobilização pela paz, contra a violência nas redes e nas ruas, mas a intolerância continua crescendo e consequentemente, atingindo um número maior de pessoas. Ao assistirmos um noticiário, ou ao lermos um jornal, já é comum notícias de violência por intolerância racial, gênero, ou de opção sexual. Mesmo que a grande maioria da população seja contra essa violência toda, ainda há aqueles que defendem o preconceito, um dos sentimentos mais primitivos no ser humano, que pode levar até à violência extrema. Infelizmente, isso tem deturpado um pouco o debate, afirmando que temos o direito de interferir na escolha individual das pessoas, senão por bem, a força deve ser utilizada.

Todo debate que coloca em cheque os direitos individuais é um equivoco. Tanto o direito a ter ou não uma religião, ou ser ou não homoafetivo, é uma decisão individual, e nada mais. De fato o que existe é o desrespeito aos direitos individuais, e quando isso acontece, todo o resto do debate é torto e equivocado

É depreciativo ao nosso intelecto ter de ler, assistir e ouvir algumas coisas que parecem não ser da nossa época, mas lá da idade média, mas enfim, é preciso refletir mais antes de escrever e falar algo movido apenas pela emoção do momento. Qual o cerne da questão nesta notícia? É o garoto que foi espancado pelos seguranças por causa de um beijo. Se concordarmos com a ação dos seguranças, com certeza temos algum problema sério, de concepção de sociedade, de visão de mundo e também de caráter, porque se fizermos uma enquete, tenho plena convicção de que todos e todas serão contra a violência e até defenderão a paz ao mundo, mas como podemos ao mesmo tempo ser coniventes com tamanha agressão? Não interessa se ele estava beijando ou não, não interessa se isso fere o seu princípio ou não. Se for princípio teu, cumpra e não faça o que seu princípio diz pra não fazer, mas não o utilize para julgar e condenar uma pessoa que não segue o mesmo princípio. Nada justifica a violência, ainda mais por causa de um beijo. Cada um é livre pra escolher, uns escolhem um caminho, outros, outra direção, e muitos preferem ficar parados. Não importa, ‘’É PRECISO RESPEITAR A ESCOLHA DE CADA UM, MESMO QUE NÃO CONCORDE COM ELA’’.

Marcos Feliciano e a Comissão dos Direitos Humanos


O Deputado Federal pelo PSC, Marcos Feliciano, tem recebido inúmeras manifestações contra sua eleição e permanência na presidência da Comissão dos Direitos Humanos da Câmara. É importante ressaltar que no debate pela saída do deputado da comissão é por questões de divergência ‘política’ e o que não for questão ‘política’, nesse caso, é um equivoco elaborado pela mídia com a falsa polêmica religiosa. Não somos contra o Feliciano por ele ser pastor, até porque o pré-requisito básico pra alguém ser presidente desta comissão não é ser 'pastor', mas ser 'deputado federal'. Mas se equivocadamente comprarmos esse discurso 'Fake', estaremos despolitizando o debate de idéias que sempre pautou a comissão de direitos humanos, aliás, um dos balizadores de sua criação. É inadmissível que alguém presida uma comissão da qual não concorde com o que a mesma defende (criada pra defesa das minorias, tanto em número quantitativo quanto qualitativo em condições de defesa). Eis aqui a nossa questão política e pontual, o resto é balela, e não podemos cair nesse erro.

O deputado Marcos Feliciano se utiliza de sua função de pastor para conclamar evangélicos do Brasil a um embate desnecessário, equivocado e torto desde sua eleição à comissão. Ao invés de promover a paz, promove a discórdia, o ódio e a intolerância. E atitudes como estas trazem consequências em nossa sociedade, que é uma sociedade em constante mudança, em que a visão de mundo evolui, avança, mas que também pode retroceder. Não podemos viver tranquilos numa sociedade que permita que essa intolerância, que tem gerado tanta violência, continue no nosso cotidiano. É importante lembrarmos sempre, que quando não se respeita as liberdades individuais, problemas graves acontecem. A história do mundo está aí pra mostrar pra todo mundo, e que consequentemente, vez ou outra, muitos teimam em não aprender nada com os erros do passado, e somos obrigados a ver, ouvir e ler atualmente, noticias de mulheres que continuam apanhando e até mortas por seus maridos, homoafetivos sendo agredidos na rua, negros sofrendo preconceito no seu dia-a-dia, e a população economicamente mais fragilizada ainda sofrendo com as violências repressores para mantê-los às margens.

Será que um dia chegaremos a um consenso? Bom, depois de um bom debate a escolha é de cada um, mas a única certeza que temos é que devemos respeitar, independente do ponto de vista de cada um, reacionário ou não! Só não podemos aceitar a violência, porque quando ela surge na conversa, gera apenas mais violência, e isso não é bom, tampouco saudável pra sociedade!
 

*Vander Rodermel é Secretário Estadual de Comunicação do PCdoB/SC