“Rouhanimania”: o Irã captura a atenção do mundo
A troca de comando em Teerã, semana que vem, obriga a ver o Irã como o que realmente é naquele volátil Oriente Médio – um oásis de estabilidade. O que torna possível a troca de comando é a legitimidade política do regime iraniano e sua substancial base social, apesar do inevitável desgaste que lhe advenha depois de décadas no poder.
Por MK Bhadrakumar, no Indian Punchline
Publicado 29/07/2013 19:27

Sabemos assim que o presidente Mahmoud Ahmedinejad voltará à sua profissão original, como professor universitário. Quanto a isso, nenhum problema. A ironia é que a nova universidade propõe nova especialização, em engenharia nuclear, decisão que, evidentemente, foi aprovada pelo Líder Supremo, Ali Khamenei.
O presidente eleito, Hassan Rouhani está organizando seu gabinete e já praticamente não há dúvida de que trará de volta Bijan Zanganeh – o velho bruxo, ex-ministro do todo poderoso ministério do petróleo – para comandar os negócios novamente – antecipando, presumivelmente, que a indústria precisa ser modernizada, tecnologicamente atualizada, esperemos que com tecnologia e investimentos ocidentais, de modo que o Irã possa afinal emergir como grande exportador, esperemos, para o mercado ocidental.
Evidentemente se vê a mão de Rafsanjani na reconvocação de Zanganeh? Sim, sim, sem dúvida. A palavra “pragmatismo” está em todos os lábios, o que explica o alto grau de interesse entre os países regionais, todos interessados em comparecer à cerimônia de posse, semana que vem. Representantes de 40 países já confirmaram presença, mas todos os olhos estão postos em Riad, tentando adivinhar quem representará o reino na posse, em Teerã – mas o jornal Asharq Al-Awsat mantém o suspense.
Enquanto isso, no ocidente, o debate continua. Em termos gerais, pode-se dizer que já emergiram três linhas de pensamento – além das previsões catastrofistas de Israel, segundo as quais Rouhani seria “lobo em pele de cordeiro” (que ninguém está levando a sério).
Há um consenso geral segundo o qual o evento Rouhani é evento positivo. As surpreendentes revelações, pelo ex-embaixador da França em Teerã, Francois Nicoulland, segundo o qual o currículo de Rouhani como negociador nuclear iraniano destaca seus talentos e, simultaneamente, descortina amplas possibilidades para as próximas semanas, no front diplomático.
O timing do artigo do New York Times é fascinante. Pode-se praticamente garantir que o governo Obama conhece o conteúdo das revelações trazidas à luz por Nicoulland.
Mesmo assim, persistem os Santos Tomás da dúvida nos think-tanks norte-americanos que insistem que Rouhani não merece(ria) “confiança” – signifique o que significar, porque diplomatas não costumam “confiar” cegamente em ninguém. Andam claramente infelizes, agora que o governo Obama começa a “engajar” o Irã. Mas essa linhagem de formadores de opinião está perdendo prestígio. Começam a ser vistos como “o time B” de Israel.
Chama a atenção quanto a isso que até o Financial Times, que jamais foi amigo do Irã, já tenha publicado editorial audacioso, introduzindo a ideia de que o Ocidente terá de usar a imaginação, em vez de continuar a provocar o Irã; que terá de ser racional e conciliatório nas negociações passo a passo (ideia já proposta, de fato, por Moscou). E o Financial Times reflete o pensamento dominante em Londres e Washington.
*Foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Irã, Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu, Asia Times Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.
Fonte: Redecastorphoto. Traduzido pelo Coletivo de Tradutores da Vila Vudu