Anistia e Comissão da Verdade – o filme Verdade 12.528
Paula Sacchetta e Peu Robles, da João e Maria.doc, assinam um filme que conta a história das barbaridades cometidas pela ditadura para difundir a verdade trágica e cruel da tortura e dos assassinatos políticos e sobretudo para educar aqueles das novas gerações que, feito avestruzes, não querem saber o que aconteceu naqueles anos de chumbo.
Publicado 25/10/2013 15:45

Como manter viva a memória dos que tombaram durante a ditadura militar? De que maneira contornar os impedimentos legais trazidos pela Lei da Anistia, promulgada há trinta anos, e prosseguir com os trabalhos de resgate e reconstrução deste período? De que modo juntar os fatos dispersos para montar o quebra-cabeças e recuperar a imagem de uma das fases mais escuras da história do nosso país? Como resquícios da ditadura militar continuam presentes, ainda hoje, em nossa sociedade?
A recém instaurada Comissão da Verdade surgiu para buscar respostas a estas peerguntas. E paralelamente a ela, existe a necessidade de um registro desse processo.
Afinal, que crimes daquele período ainda estão sem averiguação e continuam impunes? Quantos foram mortos, como foram mortos, quem os assassinou? Onde estão os corpos de pais, irmãos, irmãs, filhos e filhas de centenas de cidadãos brasileiros? Até onde chegará o trabalho da Comissão da Verdade e o que a população espera dela?
O documentário Verdade 12.528, cujo nome se relaciona exatamente à lei que criou a Comissão Nacional da Verdade em 2011 e a instituiu em maio de 2012, é uma contribuição para o aprofundamento do debate. Pretende resgatar e reconstruir a memória. Explicar como funciona a Comissão Nacional da Verdade e mostrar sua importância, através de histórias que ainda precisam ser contadas.
Registra as expectativas da sociedade em relação a ela também como uma forma de cobrança. O que ainda precisa ser descoberto e o que deve ser dito?
Fazendo sempre uma ponte com o presente, pretende-se educar, conscientizar e informar ao conjunto da população.
Quais são os resquícios daquele período que ainda estão presentes em nossa sociedade? Esta não é questão de revanchismo nem de saudosismo, mas sim de construção da memória, na contramão da anestesia social existente, baseada no esquecimento e na reconciliação.
No documentário são contadas histórias de pessoas que sofreram a repressão e de outras que, de uma forma ou de outra, são ainda afetadas, direta ou indiretamente.
A ideia surgiu da percepção do enorme desconhecimento em relação aos crimes da ditadura, e também em relação à própria Comissão da Verdade. O tempo não pode apagar a memória, relegando ao esquecimento um momento histórico como este, que precisa ser documentado para as futuras gerações.
O fio condutor é uma linha do tempo que pulsa entre a razão e a emoção; o documentário intercala histórias pessoais, tendo como pano de fundo o contexto da época, e explicações didáticas sobre a atuação da Comissão.
Mais de 40 pessoas foram entrevistadas em São Paulo, Jales e no Araguaia – região palco da célebre guerrilha envolvendo militantes do Partido Comunista do Brasil, perseguidos e massacrados pelo Exército nacional.
O filme começou a ser rodado em 2012, mas precisou ser repensado, por condições financeiras, para ser levado adiante. Assim, no final daquele ano o projeto foi posto em um portal de financiamento coletivo, o Catarse, onde recebem cotas de apoio em dinheiro. Foram arrecadados R$18.350,00 em 45 dias.
Para realizar o filme fora feitas entrevistas com Amélia Teles, Clarice Herzog, José Miguel Wisnik, Criméia de Almeida, José Luiz Del Roio, Ivan Seixas, Maria Rita Kehl, Dona Ottília Vieira Berbert, Regina Vieira Berbert, Ilda Martins da Silva, Marcelo Rubens Paiva, Vera Paiva, Guiomar Lopes da Silva, e diversos camponeses do Araguaia que colaboraram com a Guerrilha. Também foram ouvidos Laura Petit, Bernardo Kucinski, Pedro Pomar, Franklin Martins, Paulo Sérgio Pinheiro, Marlon Weichert, Frente de Esculacho Popular, entre outros.
O que é a Comissão Nacional da Verdade?
A Comissão Nacional da Verdade foi criada pela lei 12528/2011 e instituída em maio de 2012. Tem por finalidade apurar as violações de Direitos Humanos, praticadas por agentes públicos, ocorridas entre 18 de setembro de1946 e 5 de outubro de 1988. No prazo de dois anos deverá entregar seu relatório (em maio de 2014). É composta por sete membros. incluindo Cláudio Fonteles, Gilson Dipp, José Carlos Dias, José Paulo Cavalcanti Filho, Maria Rita Kehl, Paulo Sérgio Pinheiro e Rosa Maria Cardoso da Cunha, amparados por 14 assessores e uma ampla equipe de pesquisadores e colaboradores. Foi criada para apurar e investigar os crimes ocorridos na Ditadura Militar (1964–1985), mas não tem poder para julgar nem punir. A Comissão é autônoma e independente e trabalha fora dos limites do sigilo, podendo exigir qualquer documento, mesmo confidencial, a que queira ter acesso.
Conheça alguns dos entrevistados:
1) Dona Adalgisa, camponesa da região do Araguaia. Em suas mãos, uma foto do guerrilheiro Lúcio Petit, o Beto, desaparecido desde 1974. Por colaborar com a guerrilha pagou um alto preço: foi torturada, teve sua casa queimada, seu marido preso e sua família perseguida pelo Exército. Hoje, seu Frederico, o marido, perdeu os movimentos das pernas por conta das torturas e sofre de graves problemas psicológicos.
2) Regina e Dona Ottília Berbert, irmã e mãe de Ruy Carlos Vieira Berbert, desaparecido desde 1972. Ruy Carlos era militante do Molipo, foi preso em Natividade à época Goiás, hoje Tocantins e três dias depois apareceu enforcado em sua cela. A versão oficial: suicídio. Como muitos presos da época, foi brutalmente assassinado. Até hoje seu corpo não foi entregue à família.
3) Ilda, viúva de Virgílio Gomes da Silva, o Jonas, desaparecido desde 1969. Ela só teve certeza de sua morte em 2004 quando o jornalista Mário Magalhães encontrou as fotografias da necrópsia dele, que foi torturado e morto no DOI-Codi de São Paulo. Ela passou 35 anos com esperança de que ele pudesse voltar.
4) João de Deus, camponês do Araguaia, que colocou na parede retratos de desaparecidos políticos na região para, explicou, lembrar dos amigos que fez e que foram brutalmente assassinados pelo Exército.
Assista
Ficha Técnica:
Direção e produção: Paula Sacchetta e Peu Robles
Montagem e finalização: André Dib
Música original: André Balboni
Som direto: André Mascarenhas
Cor: Pedro Moscalcoff
Efeitos: Alison Zago
Mixagem: Gui Jesus Toledo
Produtora de áudio: Estúdio Canoa
Realização: João e Maria.doc
Para mais informações acesse: www.joaoaemariadoc.com