Democracia paraguaia completa 25 anos com dúvidas e desafios
Em 3 de fevereiro de 1989 um golpe militar tirava do poder o ditador mais longevo da América Latina. O general Alfredo Stroessner governou o Paraguai por 35 anos. Apesar das atrocidades, o general morreu em 2006, no Brasil, onde se exilou, sem ser julgado ou condenado pelos crimes que cometeu.
Por Vanessa Martina Silva, no Portal Vermelho
Publicado 03/02/2014 19:41

A caça aos comunistas, a privação de liberdades e a falta de oposição foi apoiada em uma relação umbilical com o Partido Colorado — do qual faz parte o atual presidente Horácio Cartes—. A derrocada de Stroessner foi planejada, por meio de um golpe de Estado, pelo pai de sua nora, o general Andrés Rodríguez Pedotti, um antigo aliado.
O fator que motivou a “traição” está mais relacionado com a manutenção do modelo de Estado ditatorial do que com exigências democráticas da sociedade. Assim, a ditadura, foi “derrocada” por um golpe militar que buscava manter os privilégios e inalterada a estrutura social. Rodríguez entendeu que o golpe era a única saída possível para evitar a ruptura da unidade histórica (governo/Partido Colorado/Forças Armadas), o que bloqueou os iniciativas para um projeto alternativo de sociedade.
A recente democracia paraguaia foi, então, conduzida de modo a não arriscar a dominação estrutural organizada pelo poder ditatorial, na base de um stronismo sem Stroessner e a competição eleitoral foi regulamentada de modo a favorecer ao Partido Colorado — que ao longo de sua existência esteve 21 vezes governando o país.
A cidadania paraguaia recuperou suas liberdades civis e políticas e a burocracia militar manteve os benefícios obtidos em mais de 50 anos de governo. No auge de seus 25 anos, a jovem democracia do Paraguai é frágil. Direitos civis são constantemente violados, há dúvidas se os pleitos eleitorais são exercidos de maneira livre e justa, e o Estado não garante direitos básicos à população. A justiça segue a serviço dos poderosos, em um país onde parte considerável da população é indígena e ligada ao campo, segue havendo concentração brutal de terras, sem que tenha sido realizada qualquer reforma agrária.
Uma pesquisa recente realizada pelo Gabinete de Estudios de Opinión (GEO) apontou que o ex-presidente Fernando Lugo, destituído por um golpe de Estado parlamentar realizado pelo Congresso em junho 2012, é o mais bem avaliado nos 25 anos de democracia. Diante do massacre de Curuguaty, onde camponeses e policiais morreram em uma emboscada armada para incriminar Lugo, a questão mais importante nesta data de reflexões é: O que aconteceu em Curuguaty?, ou como dizem os paraguaios: “¿Qué pasó em Curuguaty?”. Enquanto esta questão não puder ser respondida, não será possível afirmar que há uma democracia vigente no Paraguai.