Operação ‘desestabilização do Governo Maduro’

Desde a morte de Hugo Chávez, as forças da oposição venezuelana e os Estados Unidos consideram que já está na hora de ser encerrado o processo da Revolução Bolivariana e desde então não cessaram as ações de desestabilização do país. Estas ações foram multiplicadas após a eleição à Presidência de Nicolás Maduro e, particularmente, após a vitória eleitoral do Partido Socialistas Unido de Venezuela (PSUV) e de seus aliados.

Por Guillermo Martinez, no Monitor Mercantil

Os choques em Caracas são bastante reveladores. Lembram dias de 2002, quando foi tentado o fracassado golpe de estado contra Chávez. As forças da oposição iniciaram sua campanha com a questão de “segurança”, desenterraram a censura aos veículos de comunicação, embora continuem controlando 80% dos impressos e radiotelevisivos, e, por fim, lembraram da carestia – de fato, existente e sério problema.

O presidente Maduro reagiu imediatamente, denunciando as conspirações para o “fascista golpe de estado”, sem esquecer que sua estratégia é a pacificação e a legalidade no país. E nesta direção tomou várias iniciativas, convidando a oposição a participar em diálogo para o combate à corrupção, endêmica no país, e o enfrentamento da profundamente enraizada violência.

Qualquer abertura do governo para a oposição foi sempre enfrentada negativamente, principalmente, pelo Partido Vontade Popular, até todas as medidas tomadas pelo governo com objetivo de enfrentar a guerra econômica que assola o país como, por exemplo, a lei para o custo e as margens de lucro, definida em 30%, recebeu um desvairado ataque, e uma suspeita de sumiço dos alimentos.

Como é possível enfrentar-se uma situação assim? Somente com a mobilização das forças populares, mas evitando o risco de a Venezuela tornar-se uma nova Ucrânia.

Tudo começou assim

As informações desde o início da eclosão dos acontecimentos são contraditórias. Predomina confusão e, principalmente, contra-informação e desinformação em detrimento do Governo Maduro. Obviamente, ninguém pode argumentar que neste país não existem problemas. Mas como evoluíram os fatos?

As manifestações contra o governo foram iniciadas em 4 do mês passado, em San Cristobal, no estado de Tahira, na região leste do país, por estudantes que protestaram contra a falta de segurança que predomina nas suas “repúblicas”, após o violento ataque sofrido por uma estudante no dia anterior.

Mas os primeiros episódios sérios ocorreram no mesmo estado dois dias depois, quando grupos de jovens com os rostos cobertos atacaram com pedras e coquetéis molotov edifícios governamentais. Os estudantes negaram ter participado desta ação, mas, nos dias seguintes, as manifestações de protesto foram expandidas a outras cidades.

Na quarta-feira, 12 do mês passado, manifestações de estudantes entraram em choque na capital Caracas com jovens que portavam faixas do governo. Travou-se combate violento e sangrento, no qual perderam a vida três jovens, mas não foi revelado que pertenciam à juventude do partido do governo.

Em seguida, não faltaram os choques diários. Principal responsável por esses episódios foi considerado Leopoldo López, líder do Partido Vontade Popular, que participa da aliança Banca de União Democrática (MUD), que, após investigação da Promotoria Pública, foi acusado de assassinato dos três jovens.

López, com seu slogan “Maduro retire-se”, tem se posicionado a favor de uma extrema política oposicionista e luta de agressivas feições, com invasões de edifícios públicos e bloqueios de vias públicas.

Contra-ataque de Maduro

Mas com estas táticas não concorda Henrique Capriles, líder do MUD e adversário de Chávez nas eleições presidenciais e, recentemente, de Maduro. Capriles declarou que “a oposição deverá aproveitar o descontentamento do povo, mas as condições não têm amadurecido, ainda, a ponto de ser posta questão de saída do Governo Maduro”.

No dia 14 do mês passado, o presidente convocou o povo da Venezuela para manifestar-se “contra o fascismo e a favor da paz no país”. Mas, no dia seguinte, a população inundou as ruas de Caracas, e Maduro denunciou a violência e convidou, novamente, a oposição para discutir junto com o governo medidas para o enfrentamento da incontrolável violência, com a adoção de um plano para o desarmamento da população e busca da segurança dos cidadãos.

Finalmente, no dia 18 do mês passado, a oposição realizou sua última manifestação em frente ao edifício dos tribunais, ocasião em que o líder do Partido Vontade Popular apresentou-se, voluntariamente, aos juízes, mas antes tratou de negociar as condições de sua entrega com o presidente do Parlamento da Venezuela, Diosdato Campello.

*Correspondente do jornal Monitor Mercantil.