Um breve panorama sobre a guerra contra a Síria em novembro de 2014
Apesar de uma aparente situação de “estabilidade” no campo das batalhas nos últimos
meses, a análise mais aprofundada aponta exatamente o contrário. A campanha das forças
agregadas pelos Estados Unidos na luta contra o terrorismo se limitou aos bombardeios
aéreos e a sutil ação de ampliar seus efetivos no Iraque, a grande parte de instrutores e
logísticos.
Por Assad Frangieh, no Instituto de Estudos Geopolíticos do Oriente Médio
Publicado 12/11/2014 14:54

O destaque é a ampliação dos confrontos entre os próprios bandos armados que lutam contra o Estado da Síria, com batalhas que não pouparam a vida de centenas de combatentes, lideres campais e civis parentes de ambos os lados. As informações apontam que os grupos takfiristas sob as bandeiras da Al-Nusra, apoiados especificamente pela Turquia, têm obtido vantagens campais, à custa dos bandos apoiados pelo Qatar, Arábia Saudita e pelos Estados Unidos. A aposta dos Estados Unidos e a larga divulgação da Mídia ocidental da presença de uma “oposição moderada” já estão sendo abortadas em razão de sua ineficiência registrada principalmente nas zonas rurais de Idlib, Hama e Lattiquia. A aposta que esta oposição ocuparia uma eventual região livre do “Estado Islâmico” existe apenas na mídia e longe de se concretizar mesmo com os bombardeios dos Estados Unidos.
Pelo oeste, na região de Al-Qalamoun, o Exército Sírio repeliu todos os bandos para a fronteira montanhosa com o Líbano, impedindo o acesso a qualquer vilarejo ou cidade que lhes dê abrigo no duro inverno que começará logo. Os bandos encontram-se cercados pelo lado oposto pelo Exército Libanês e pelos combatentes do Hezbollah. Um fator que vem se agravando é a antipatia crescente de parte da população libanesa que acolheu tais grupos. A repressão do Exército Libanês a tais grupos em Trípoli ao norte do país durou menos de duas semanas para capturar suas lideranças e desarticular importantes planos de atos terroristas sobre o Líbano. Um sinal de ausência de respaldo saudita a qualquer ação takfirista no Líbano.
Na região leste e norte ao redor da capital Damasco – Al-Ghouta oriental, o Exército sírio avança em passos planejados destruindo as defesas reforçadas e os inúmeros túneis cavados entre as construções civis. A recuperação de Al-Mliha, de Adra, da maior parte de Jober e o aperto do cerco sobre Duma, vem acelerando a desistência dos combatentes e a fuga de suas lideranças aparecendo em seguida na Turquia. A antipatia popular a tais grupos que não param de se digladiar por fortunas roubadas ou ideologias extremas vem se traduzindo em apelos de reconciliação e de colaboração das lideranças locais com o Estado Sírio.
O avanço do Exército Sírio em Mork recuando os combatentes em direção ao norte representa um importante elo no cerco final para recuperação de Aleppo, cortando as linhas de suprimentos pelo sul e sudoeste da cidade e ampliando as passagens seguras e militares de suas tropas. Por outro lado, o cerco final sobre Aleppo, iniciado pelo leste e agora pelo norte ao encontro de suas tropas pelo oeste, foi motivo de mobilização da diplomacia internacional da França e da Turquia para “impedir” a queda da cidade e de forma careta também, a mobilização do enviado italiano Di Mistura solicitando a Damasco uma trégua de batalha apenas em Aleppo. Sinal de desespero por reais mudanças de recuperação do Estado Sírio da cidade de Aleppo.
A recuperação rápida dos campos petrolíferos no meio estratégico do Deserto Sírio em Jabal Al Cheer, ponto de encontro dos caminhos entre o leste (Deir Al Zour), o oeste (Homs e Hama) e o norte em direção a Aleppo, apontam a forte presença do Exército Sírio em sua logística de guerra e habilidade de abortar qualquer tentativa de estabelecimento de infraestrutura de um “Estado Islâmico” a leste do pais e uma extensão em direção ao oeste, seja em Homs ou Damasco.
No front do Sul, a tentativa de Israel criar uma zona de exclusão fronteiriça, ao estilo do sul do Líbano nos anos 90, tem sofrido derrotas repetitivas mesmo com o suporte logístico da Jordânia em razão da superioridade militar do Exército Sírio, um suporte popular profundo das comunidades locais ao Estado Sírio e a um apoio logístico de um aliado estratégico, o Hezbollah libanês, que ameaçou e deu uma pequena prova de sua eficiência militar ao destruir uma patrulha de Israel bem ao pé da principal torre de observação na tríplice fronteira do Golan sírio, da Galiléia palestina e de Chabaa libanesa. O massacre de 47 cidadãos druzos feitos pelos grupos takfiristas na tentativa das comunidades do Golan chamarem pela “proteção” de Israel não passou de uma hipocrisia de Tel-Aviv de encontrar súditos locais a seus planos furados.
Por fim, a resistência dos curdos sírios em Ain Arab ou Kobani, atacados pelo “Estado Islâmico” e cercados pelas tropas turcas, desmascaram a política de ingerência de Erdogan, suas intenções de limpeza étnica dos curdos e seus planos de restabelecer o arbítrio otomano. O envolvimento dos Estados Unidos nos bombardeios contra o Estado Islâmico e mais recentemente contra outros grupos takfiristas leva a crer que a Casa Branca precisa intervir antes que seu humilde súdito educado para ser um instrumento de desestabilização da Síria e do Iraque mude seu foco e queira se estabelecer em Ryad. Em paralelo, a Turquia tem levado seus aliados e o “Estado Islâmico” a se dirigirem à Afrin, a segunda maior cidade de maioria curda na Síria, à Oeste de Kobani, na tentativa de abrir uma nova frente de batalha. O que veremos em breve.
O “status quo” da política dos aliados russos e iranianos da Síria liberou os bombardeios dos Estados Unidos na Síria e no Iraque, porque sabem que os Estados Unidos são parte essêncial dos problemas e das soluções e que nem todo contorno estratégico possa ser realizado bruscamente.
Enquanto se aguarda até o fim de novembro o resultado dos entendimentos dos Estados Unidos e da Comunidade Europeia com o Irã, a respeito de um acordo sobre o programa nuclear e das sanções econômicas impostas ao país, a definição da geopolítica futura continua sendo desenhada pela aliança sagrada do Estado Sírio, seu povo e seu Exército.