Nobel da Guerra – a razão capitalista na retórica do 11 Setembro
O dia 11 de setembro de 2001 marcou a História dos Estados Unidos e do Mundo. A data já era portadora uma carga simbólica – do golpe militar no Chile, que instaurou a ditadura militar de Pinochet em 1973. Mas o 11 de setembro de 2001 trazia o elemento midiático em primeiríssimo plano: o choque do segundo avião com as Torres Gêmeas foi testemunhado, via televisiva, em todos os quadrantes do planeta.
Por Alexandre Weffort*
Publicado 29/09/2016 13:10

As narrativas do 11 de setembro de 2001 não foram, todavia, unânimes. Os fatos são interpretados de acordo com pontos de vista e interesses específicos. A violência e a morte têm presença quotidiana na vida real e naquela que é imaginada e trazida para dentro dos lares pela televisão. O espetáculo televisivo explora esse filão até à náusea.
Com o 11 de setembro de 2001, as imagens veiculadas pelos noticiários traziam uma realidade que ultrapassava a ficção. No entanto, a leitura (documentarista, logo, também fílmica) de Michael Moore em FAHRENHEIT 9/11, colocou a questão no prisma oposto à da narrativa dominante.
Os ataques terroristas foram declarados, na narrativa oficial, como sendo responsabilidade da Al-Qaeda (organização terrorista dirigida por Osama bin Laden, nascido numa das famílias mais ricas da Arábia Saudita). Na narrativa contra-hegemónica de Moore, o 11 de Setembro de 2001 e o colapso das Torres Gêmeas estariam relacionados com interesses do poder estado-unidense, apontando por um lado as contradições da narrativa oficial e, por outro, as ligações de interesses entre as famílias mais ricas da Arábia Saudita e as oligarquias do Estados Unidos.
O 11 de setembro de 2001 tornou-se uma data simbólica, de um simbolismo construído em torno das imagens da guerra e da paz, da liberdade e da violência. Tornou-se um instrumento simbólico e ideológico do sistema capitalista, pano de fundo justificativo das ações de guerra que se seguiram, no Iraque, na Líbia, na Síria. Como território complexo, infindável, deu origem a inúmeros trabalhos jornalísticos e estudos académicos.
Todavia, o que nos traz à questão não é o evento do 11 de setembro de 2001 em si, mas a sua mais recente contradição, protagonizada pelo atual presidente dos EUA, Barak Obama. O ainda presidente estado-unidense, prémio Nobel da Paz em 2009, exerce o seu direito de veto sobre uma lei que autorizava a cidadãos dos Estados Unidos da América, vítimas dos ataques do 11 de setembro de 2001, a processar o governo da Arábia Saudita.
Segundo relata a mídia internacional, Obama (reagindo à anulação do seu veto no Congresso) considera aquela lei “um erro”, e acrescenta: “Esta lei diz que, se um cidadão privado vítima de terrorismo sente que um Governo estrangeiro não fez o suficiente para travar um dos seus cidadãos [envolvidos em atentados] por exemplo, pode abrir um processo judicial privado em tribunal. E o problema é que, ao eliminarmos esta noção de soberania, os nossos militares espalhados pelo mundo, homens e mulheres, podem potencialmente vir a ser alvos de leis recíprocas” (1).
A declaração é elucidativa. Nos ataques de 11 de setembro de 2001, terão perdido a vida cerca de 3000 pessoas e ficado diretamente feridas cerca de 7000. A dimensão humana da tragédia é evidente. As consequências são brutais. Então, como pode Obama, prémio Nobel da Paz em 2009, procurar vetar uma lei que visa ressarcir as vítimas do seu prejuízo? Apenas a razão capitalista lhe acode. E a noção de que a porta que se abre para responsabilizar outros Estados e Nações (que os EUA utilizam indiscriminadamente, intervindo abertamente no plano militar, económico e político), permite o sentido contrário, da responsabilização (concreta, em juízo cível) dos EUA pelos inúmeros atropelos à soberania dos outros Estados, Povos e Nações.
E não serão apenas os “militares [estado-unidenses] espalhados pelo mundo (…) a ser alvo de leis recíprocas”. São os seus governantes. Mas a porta aberta pela lei em apreço tem ainda outro alcance potencial: no esmiuçar dos dados, das informações que, entretanto se vão apurando, ser feita uma nova narrativa do 11 de setembro. Uma narrativa com a chancela judicial e que, muito provavelmente, dará maior razão a Michael Moore, expondo na sua extensão os verdadeiros responsáveis pela violência e pela guerra que se instalou no início deste milénio.
**Alexandre Weffort, residente em Portugal, é professor, mestre em Ciência das Religiões e doutorando em Comunicação e Cultura
(Opiniões aqui expressas não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho)