A tecnologia deve entrar em campo?

O jogador recebe a bola e a chuta para o fundo da rede, mas o árbitro assistente levanta a bandeirinha: impedimento. O time corre para cima do árbitro, a torcida se rebela, as imagens da televisão evidenciam que o gol foi legal. Erroneamente anulado. O jogo acaba, o time perde e sai protestando: foi prejuficado pela arbitragem.

Por Penélope Toledo*

Tecnologia no futebol já determina se houve ou não gol

Situações assim são recorrentes no futebol. A visão humana é limitada e o árbitro tem que decidir em fração de segundos o que seus olhos e de seus assistentes acham que viram. Há quem defenda que a adoção de determinadas tecnologias ajudaria nas decisões, reduzindo os erros. Há quem defenda que isto acabaria com a espontaneidade do futebol e que os erros alimentam o lado lúdico do esporte.

As tecnologias no esporte

O novo chefe da Comissão de Arbitragem da CBF, coronel Marcos Marinho, afirmou em entrevista à Rádio Estadão que o uso de árbitro de vídeo em partidas oficiais já deve ser implantado no Brasil em 2017.

A proposta, compartilhada por federações de outros países, é que um árbitro fique em uma cabine do estádio com acesso a replays das jogadas e indique ao juiz principal os lances que devem ter a sua marcação revista, assim como o auxilie quando ele solicitar, a qualquer momento do jogo. A palavra final continua sendo do árbitro principal.

Outras tecnologias também vêm sendo implementadas. Na Copa de 2014, no Brasil, sensores na linha do gol confirmaram que a bola entrou no chute do francês Benzema, no jogo contra Honduras. A ajuda à arbitragem para assegurar se foi gol também é feita no futebol australiano, por meio de um sistema com várias câmeras.

O basquete, o futebol americano, o rúgbi e o críquete têm a repetição instantânea dos lances polêmicos para auxiliar o árbitro. Já no tênis, vôlei e beisebol há o “desafio”, recurso em que os jogadores “desafiam” a arbitragem a rever, com o uso da tecnologia, o lance em que se acham injustiçados e caso o tenham sido de fato, a marcação é revista.

Prós e contras

O uso regular das tecnologias no futebol já acontece, por exemplo, nos placares eletrônicos, que superam os manuais na medida em que informam ao público, além do escore, escalações, substituições, renda e público etc. Também nos paineis do quarto árbitro, colaborando na comunicação entre a arbitragem sobre o tempo de acréscimo, substituições etc.

A polêmica é se a adoção das tecnologias deve ser feita a ponto de interferir diretamente no resultado dos jogos. O lado positivo é que reduziria os erros de arbitragem, que prejudicam as equipes e tornam alguns placares injustos. Ademais, seria um importante instrumento para combater as máfias do apito (ver artigo “Sobre juízes, regras e Poder” – http://www.vermelho.org.br/noticia/286914-1), que manipulam os resultados em troca de favores ou dinheiro.

O aspecto negativo é tornar o futebol matemático demais, exato demais. Catimba, cera, firula, simulações e malandragem são expressões cultrais do futebol latinoamericano que não caberiam na precisão das repetições instantâneas. Além disto, a incerteza sobre as marcações e as provocações pacíficas entre torcedores alimentam o folclore do futebol.

Para além das tecnologias

O fato é a adoção das tecnologias divide as opiniões e está longe de chegar a um denominador comum. Nem os cartolas e federações têm consenso entre si, nem os torcedores.

Particularmente, sou simpática à ideia do esporte se beneficiar dos conhecimentos técnicos e avanços tecnológicos – com limites para que o futebol não se torne uma ciência exata.

Para além disto, entretanto, não adianta corrigir os erros de arbitragem, mas protagonizar competições com baixo nível técnico porque os nossos craques debandam para o exterior. Igualmente não resolve dispor de auxílios ao árbitro, se o torcedor ficar fora do estádio devido ao alto preço do ingresso ou à multiplicação de censuras.

Que se modernize a mentalidade dos dirigentes!