Economia sem direitos sofre de anemia congênita
A economia vai bem — assegura a cantilena oficial. Vai bem pra quem? — pergunta o cidadão comum. Para o Mercado, sem dúvida. Os articulistas que o representam alardeiam a contenção inflacionária e a leve alteração positiva no PIB e pouco se importam com o investimento público raquítico e a atividade industrial tímida. Vale que o rentismo registra lucros sempre crescentes.
Publicado 28/03/2018 14:48 | Editado 04/03/2020 16:55

Luciano Siqueira*
Nesse cenário, um dado revela a precariedade da “melhora” da economia: a ligeira recuperação do mercado de trabalho é puxada pelo emprego informal, sem carteira assinada — com reflexo direto sobre a dimensão e a qualidade do consumo.
Relações de trabalho precárias não inspiram segurança às famílias, que se inibem de voltar a consumir.
A reforma trabalhista recém-efetuada faz seus estragos.
Assim, em 2017, foram criadas 1,8 milhão de postos de trabalho informais; enquanto 685 mil vagas foram perdidas.
Demais, registra-se que a renda média dos sem carteira e de pequenos empreendedores, corresponde a apenas metade da renda dos empregados formais (descontada a inflação), que são os que têm acesso ao crédito.
Nesse diapasão, até mesmo as excessivamente otimistas previsões de crescimento tendem a ser redimensionadas.
Na verdade, o que está em causa é o tipo de crescimento econômico que interessa — o que se submete ao processo global de financeirização; ou o que incorpora ao setor produtivo os milhões de brasileiros submetidos à exclusão.
Rumos diametralmente opostos, no centro do debate eleitoral que tende a tomar corpo.
Publicado originalmente no Blog da FolhaPE.
(*) Luciano Siqueira é vice-prefeito do Recife e dirigente estadual e nacional do PCdoB.