Lições mineiras do 1º turno

O editorial de sexta-feira (17/10) do jornal Valor Econômico, dá alguns elementos para a análise de uma das campanhas mais debatidas […]

O editorial de sexta-feira (17/10) do jornal Valor Econômico, dá alguns elementos para a análise de uma das campanhas mais debatidas durante o primeiro turno da eleição municipal, a disputa para a prefeitura de Belo Horizonte (MG). Desde o lançamento das candidaturas, a comunista Jô Moraes (PCdoB-MG) alertou o eleitorado sobre a formação de uma ''aliança'' espúria que escolheu como seu candidato o empresário Márcio Lacerda. Os dois grandes interessados neste projeto político atendem pelos nomes de Aécio Neves, governador do Estado e dirigente nacional do PSDB, e o de Fernando Pimentel, atual prefeito da capital mineira, do PT. O plano era derrotar em primeiro turno, com ampla margem, todos os outros candidatos que surgiram no processo político de 2008.


 


Não foi bem assim que a realidade se impôs. O próprio jornal, que é expressão do empresariado, se encarrega de identificar o problema: O ''grande erro da campanha'' de Lacerda foi ''creditar ao governador Aécio Neves e ao prefeito Fernando Pimentel o poder supremo de eleger o candidato que escolhessem, qualquer um. O socialista, durante a propaganda eleitoral que o apresentaria efetivamente ao eleitor, já que nunca havia disputado uma eleição, simplesmente se anulou diante de seus padrinhos. Ele próprio contou, em sabatina da Folha de S. Paulo, que em 250 minutos de horário gratuito no rádio e na televisão no primeiro turno, apareceu ao público por 10 minutos.'' Como conclui o editorial, seria muita ingenuidade imaginar que o cidadão da capital mineira aceitarioa agir como um eleitor de cabresto, referendando o candidato escolhido por seu governador e seu prefeito.


 


Uma questão que o editorial do Valor Econômico não analisa é que este trabalho de denúncia daquela, e de apresentação de propostas para dar continuidade ao ciclo administrativo iniciado pelo então prefeito Patrus Ananias, foi realizado sistematicamente pela comunista Jô Moraes no período em que os instrumentos de campanha estavam razoavelmente equalizados. Neste momento a população belorizontina deu o primeiro lugar nas pesquisas de opinião a ela, cuja campanha agregou os descontentes do PT com a decisão de Pimentel e os apoios dos ministros Patrus Ananias, Luis Dulci, e do vice-presidente da República, José Alencar. Com o início da propaganda pela televisão e pelo rádio a desigualdade de condições entre os candidatos ficou clara – o tempo de Lacerda era de 12 minutos, o de Quintão era de 5 minutos e 18 segundos, e o de Jô foi exíguo, de 1 minuto e 46 segundos. Quintão, do PMDB, pode capitalizar e galvanizar o sentimento de revolta da população que flagrou a tentativa de seu governador e seu prefeito de enfiar goela abaixo, sem combinar com o povo, seu candidato.


 


O segundo turno se avizinha e o jornal paulista adianta a possibilidade concreta de derrota do candidato escolhido por Aécio/Pimentel. A direção do PCdoB em Belo Horizonte indicou o voto no candidato do PMDB, Leonardo Quintão, que surgiu como instrumento do eleitorado da cidade (que tem uma longa tradição de voto à esquerda), para dar um troco aos que se consideram donos de Minas. Cabe ao movimento progressista e popular se organizar para enfrentar os últimos golpes que os palácios poderão desferir no processo eleitoral, ''comprando'' votos e fazendo uma campanha suja de difamação e desqualificação do candidato que está à frente. A batalha ainda não terminou e na verdade é um ensaio do que ocorrerá na campanha eleitoral para a presidência da República, em 2010.