Falência da política unilateral de Sharon
Ariel Sharon, ex-primeiro ministro continua em coma profundo, mas segue vivo, monitorado por aparelhos em hospital de Tel Aviv. Aos palestinos da Palestina e os que vivem na diáspora em todo o mundo, não deixa saudade alguma. Criticamos neste espaço, d
Publicado 01/02/2007 21:41
É possível entrar em uma nova fase?
O unilateralismo tem sido a marca do governo Bush e, portanto, de governos que este apóia em várias partes do mundo. Em qualquer tentativa de negociação, de estabelecer acordos, é preciso conversar, estabelecer diálogos. Não escolhemos nossos negociadores. Devemos sempre respeita-los. Se tivermos total hegemonia no processo político, não negociamos. Se falarmos apenas com nossos aliados, nunca teremos acordo.
No caso da Palestina e do Oriente Médio como um todo é isso que ocorre. Bush não gosta do Irã e, portanto, não conversa, não negocia com os iranianos. Quando o Hamas venceu as eleições legislativas palestinas, fazendo sozinho mais de 50% da câmara dos deputados, os americanos não gostaram. A democracia que eles pregam só vale quando vence um aliado seus. Quando perdem, não negociam. Não pode ser dessa forma.
No caso da retirada dos assentamentos e da retirada completa da ocupação da Faixa de Gaza, noticiada com estardalhaço pela mídia grande em todo o mundo mostrou-se um verdadeiro fracasso. Tanto que o radicalismo venceu as eleições de um ano atrás. Agora em fevereiro fará três anos que Sharon anunciou a retirada unilateral, sob a esdrúxula alegação de que não haveria com quem negociar do lado palestino (sic). A retirada completa terminou em agosto de 2005, mas até os dias atuais a paz na Faixa de Gaza não foi estabelecida, pois Israel com suas Forças Armadas e de Defesa já reocupou por diversas vezes a região, onde vivem milhões de palestinos, no que pode ser classificada como a região com uma das maiores densidades habitacionais do planeta.
A política unilateral não reflete apenas em retiradas de assentamentos judaicos na Cisjordânia e retirada da Faixa de Gaza. O centro dela é a errônea concepção de delimitar as fronteiras de Israel e do futuro estado Palestino de forma unilateral, sem negociar com os maiores interessados nisso, que são os próprios palestinos. Essa política mostra-se hoje, como alertamos desde a sua implantação, um completo fracasso.
Nos primeiros momentos de seu anúncio, em 2004, ela foi saudada com entusiasmo pelas forças políticas israelenses e até deixou perplexas as forças de esquerda mais progressistas. Sharon havia mudado de lado, perguntavam alguns. Chegou a abandonar o seu partido histórico, o Likud, de extrema direita, fundando um partido mais centrista, o Kadima, que acabou vencendo as eleições em 2006, com o atual sucessor, Olmert. Na verdade, as desconfianças vieram dos dois lados da política israelenses, tanto da esquerda, que, sem forças políticas para impor o seu plano de retirada negociada, quanto com a direita, que ficou também boquiaberta.
O fracasso foi tão evidente que uma retaliação ao seqüestro de soldados israelenses por militantes do Hezbolláh, no sul do Líbano (norte de Israel), transformou-se em uma guerra que durou 34 dias e matou pelo menos quatro mil libaneses e cem soldados israelenses e impôs um profundo desgaste no atual gabinete do primeiro Ministro Olmert.
Credibilidade deteriorada
Em nossas “previsões” de final de ano, arriscamos forte desgaste do governo e da política israelense. As coisas, parecem, vão acontecendo com uma velocidade maior até do que prevíamos. Um escândalo atrás do outro vem ganhando a imprensa israelense. O mais recente escândalo, que se arrasta há vários meses, é a acusação de estupro que recai sobre o presidente do país, Moshe Katsav. Tais acusações parte não de uma pessoa apenas, mas de quatro mulheres, todas ex-funcionárias suas com quem trabalhou.
Como sociólogo, entendemos bem esses processos, escândalos, corrupção. São típicos de sociedades capitalistas, onde a busca por dinheiro e prazer são os maiores objetivos individuais das pessoas. No caso específico de Israel, a crise soma-se à intransigência desse estado e desse país, com suas elites governantes em negarem, há quase 60 anos, os direitos inalienáveis do povo palestino.
O ambiente é propício a crises de todas as naturezas. Israel vive hoje uma profunda degenerescência política e isso reflete em vários aspectos da sua vida social. Contra o próprio primeiro Ministro, provavelmente o mais impopular da história, com insignificantes 14% de aprovação popular, pesam acusações de corrupção e tráfico de influência. Mas não só ele. Contra o próprio ministro da Defesa, Amir Peretz, tido como um homem de centro esquerda, também pesam acusações. Recentemente, caiu o chefe das FDI, o ex-poderoso general Dan Halutz, derrotado no quem vem sendo apontado pelos analistas como uma das maiores derrotas militares de Israel desde 1947. Na lista ainda encontram-se o ex-ministro da Justiça Haim Ramon, acusado de assédio sexual e Jacky Matza, secretário da receita federal, acusado de favorecer empresários e encontra-se em prisão domiciliar. Esse quadro faz com que as pesquisas indiquem uma preferência popular de 71% pela imediata renúncia do primeiro Ministro Olmert.
Em minha modesta opinião, esse processo de crise moral e política, que envolve inclusive vários ex-primeiros ministros, inclusive homens tido como probos e íntegros, do Partido Trabalhista, reflete apenas e tão somente o esgotamento de um modelo, de uma proposta, de uma concepção de estado, que é o sionista, que se propõe a construir estado em cima de terras de outros povos, desrespeitando direitos históricos de um povo milenar que habita essas terras, ininterruptamente, há seis milênios pelo menos. Esta fadado ao fracasso. Mantemos alto e bem elevada a bandeira de apoio e solidariedade aos palestinos.
OS: acabou o congresso palestino no final de semana passada, ao qual, infelizmente, não obtive recursos para estar presente. Sei que foi um grande sucesso e temos nova diretoria da copal, mas detalhes em colunas vindouras. Desejo sucesso à nova direção palestina que contará, como sempre, com nosso total apoio.
(1) Utilizei as seguintes fontes para a elaboração desta coluna: “Israel enterra solução unilateral”, de autoria de Marcelo Ninio, publicada no jornal Folha de São Paulo, do dia 28 de janeiro de 2007, página A20 e “líderes vivem crise de credibilidade”, de autoria de Daniela Kresch, correspondente do jornal O Estado de São Paulo, publicado nesse jornal no dia 30 de janeiro de 2007, na página A12.