Integração científica

A política científica do governo Lula talvez ainda seja pouco valorizada, sobretudo dada a sua centralidade na efetivação de um projeto nacional desenvolvimentista e, também, devido aos largos passos dados nos últimos anos na consolidação de um Sistema Na

A perguntar um pós-graduando qualquer, por exemplo, sobre as principais ações levadas a cabo pelo governo federal nessa área, certamente a resposta virá automaticamente: os três reajustes e a ampliação do número das bolsas de formação – o que amenizou consideravelmente a defasagem após oito anos de governo FHC em que as mesmas estiveram congeladas. Também a retomada da chamada Taxa de Bancada pelo CNPq, a abertura de concursos com a criação de novas universidades e novos editais e a regularização no pagamento das bolsas provavelmente serão lembradas. Mas a política científica é muito mais complexa e abrangente que essas simples (embora importantes) ações pontuais direcionadas a um público específico.



Várias outras iniciativas em C&T que dizem respeito à Nação são dignas de tanta ou mais consideração mesmo tendo pouca visibilidade ou retorno mais lento. Ainda que não seja tão notada em um primeiro momento e os seus resultados necessitarem de um pouco mais de tempo para aparecerem (daí seu caráter estratégico), a integração regional, conduzida no âmbito do Mercosul, começa ampliar seu enfoque na área científica e tecnológica e passa a beber dessa fonte para ajudar a superar as assimetrias que separam nosso países.



Merecem incentivos, não só da comunidade científica como também do movimento social organizado que pugna pelo fortalecimento da unidade latino-americana, programas específicos sobre as questões da energia na América do Sul, a incorporação da Argentina ao Ibas (que reúne Índia, Brasil e África do Sul) em importantes projetos científicos e de Chile e Uruguai no Centro Brasil-Argentina de Biotecnologia (Cbab); o desenvolvimento e ampliação do Centro Brasileiro-Argentino de Nanociência e Nanotecnologia (Cban), com a incorporação de México e Chile; a implementação de programas multilaterais de C&T para Inclusão Social, de Tecnologia de Informação e Comunicação, Biodiversidade, Clima e Manejo Costeiro e tantos outros, que mostram de forma muito resumida as potencialidades e demandas de uma região despojada há séculos de uma política científica e educacional concebida de forma integrada.



De igual forma, a proposta do ex-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ennio Candotti, de se fomentar um projeto sul-americano sobre o Aqüífero Guarani, é uma bandeira progressista que merece apoio mais decidido de outros setores e movimentos populares que defendem esse importante patrimônio dos povos de nossa região.



Organizações como a SBPC e as suas congêneres vizinhas como a Associação Argentina para o Progresso da Ciência (AAPC) e a Sociedade Uruguaia para o Progresso da Ciência, Tecnologia e Inovação (Supcyt) devem ser incentivadas em suas atividades que visam cooperações multilaterais entre nossos países, tais como o recente encontro preparatório para a IV Reunião do Conselho Gestor de Alto Nível do Programa de Cooperação entre Brasil e Argentina em Ciência, Tecnologia e Inovação, que ocorreu em Buenos Aires, composto por representantes do Ministério da Ciência e Tecnologia, da SBPC e da ABC. Tal evento, ao mesmo tempo em que demonstra uma abertura democrática por parte do governo brasileiro e uma saudável interação entre organizações sociais e governo, corrobora para uma efetiva plataforma de interesses nacionais e regionais comuns.



A Associação Nacional de Pós-graduandos (ANPG), a União Nacional de Estudantes (UNE) e outras entidades afins, devem se incorporar a essa luta e participar dessa importante e vasta agenda científica que se apresenta e tanto interessa aos povos brasileiro e latino-americano.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
Autor