A tragédia das águas

A vida só pode existir e se multiplicar se três condições básicas estiverem preenchidas: água, calor e espaço físico. Hoje, no mundo, apenas a Amazônia reúne essas três condições, o que lhe transforma, do ponto de vista geopolítico, no último espaço vital

A abundância de água, em particular, está entre os alvos prediletos dessa cobiça. Afinal, como se sabe, o mundo já enfrenta sérios problemas de escassez desse elemento essencial à vida. E a tendência, infelizmente, é de agravamento e de escassez absoluta num curto espaço de tempo em grandes áreas do planeta.


 



Talvez por isso as pessoas que não vivem na Amazônia não tenham idéia, igualmente, do que representa a tragédia provocada pelo excesso de água durante a enchente de seus rios, num período que geralmente vai de fevereiro a junho.


 



Nesse período a cota d’água em Manaus, situada no majestoso encontro das águas do rio Negro e Solimões, pode subir perto dos 30 metros. A análise histórica do serviço de hidrologia do Amazonas registra 1953 como o ano de maior “enchente”, quando a cota chegou a 29, 69 metros.


 



Até hoje essa cota histórica não foi ultrapassada. Há forte indício, todavia, de que ela será suplantada pela enchente desde ano. O que leva a essa convicção é o fato de que no dia 29 de abril deste ano o nível de água do Rio Negro atingiu a marca de 28,65 metros, ultrapassando em 14 cm a cota de 28,51 metros registrada nesse mesmo dia no ano de 1953.


 



Mas não será preciso esperar que a cota d’água atinja o patamar de 1953 para mensurar a extensão do prejuízo que a repentina subida das águas provocará na nossa economia e, especialmente, nas atividades do campo.


 



Milhares de agricultores familiares e pequenos criadores de animais que trabalham nas várzeas estão com a sua atividade inteiramente comprometida. A produção agrícola foi levada pelas águas e os animais estão contidos em pequenos cercados de ripas, totalmente tomados pelas águas, na medida em que não há mais terra onde os animais possam se refugiar. A cena é deplorável. Em muitos casos aquele pequeno rebanho de 10, 15 cabeças representa o patrimônio de toda uma vida.


 



Cidades como Anamã, dirigida pelo prefeito comunista Raimundo Chicó, está entre as mais castigadas, uma vez que a cidade foi inteiramente construída na várzea. Não há mais uma única rua que não esteja tomada pelas águas, o que obrigou a prefeitura a improvisar alternativas para minorar o sofrimento da população.


 



Com o apoio da Secretaria de Estado da Produção Rural a população está sendo deslocada para barcaças, improvisadas em alojamento, onde a população permanecerá até que o fluxo d’água tome outra direção.


 



Se eventualmente o rio continuar subindo será impossível dimensionar adequadamente a extensão da tragédia. Mas a população resiste, se reinventa na dor e enfrenta com altivez os infortúnios. Faz jus ao nosso hino que preconiza que “viver é destino dos fortes, assim nos ensina lutando a floresta”.

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