Pelos céus da Amazônia

Dei férias aos meus escassos leitores por todo o mês de setembro. Mas estou de volta após uma campanha duríssima, sob todos os aspectos, para deputado estadual, federal, senadores, governador e presidente da república. Havia feito um ensaio anterior que não foi publicado com a expectativa. Agora trato já do fato consumado.

Tivemos em conjunto um extraordinário desafio: eleger uma Senadora, assegurar o mandato de deputado federal e fazer quociente para deputado estadual com chapa própria. Não foi uma tarefa simples, tanto pelo nível dos competidores quanto pela nossa própria limitação eleitoral, especialmente no que diz respeito ao projeto de deputado federal e estadual.

O resultado final, como havíamos previsto, é que tínhamos plenas condições de competir. E assim foi, apesar do insucesso para deputado federal e da pendência legal sobre a nossa chapa de deputados estaduais.

De minha parte, para tentar viabilizar o desafio de manter o mandato de deputado federal hoje ocupado pela deputada Vanessa Grazziotin, viajei pelos céus da Amazônia, pelos rios, estradas, vicinais e igarapés. Andei de avião, hidroavião, barcos, canoas, carros e algumas vezes a pé por lugares ermos onde não há qualquer vestígio de traço civilizatório.

Passamos, como é natural, por momentos de grande tensão. A chamada luta de classe, tão repetida teoricamente por nós, se expressa de forma fria e recorrente em cada ação dos adversários e até mesmo de certos aliados.

Ademais, alem do tensionamento político, há outros de natureza física que são igualmente relevantes.

Não raro, quando viajamos de “voadeiras”, experimentamos o dissabor de colidir com troncos de arvores que ficam submersos nos caudalosos rios da Amazônia. De avião a tensão é um pouco maior. Experimentei a sensação de ver o hidroavião no qual eu viajava entre uma comunidade e Manaus apagar o motor em pleno vôo e desabar em direção ao rio amazonas. Há menos de 50 metros do impacto fatal o motor voltou a funcionar e nós chegamos inteiros em Manaus; outro dia ao pousar em Santa Izabel do Rio Negro simplesmente o pneu do avião estourou e, mais uma vez, saímos ilesos; e nesse momento concluo essa coluna no aeroporto de Porto Velho (RO) porque o taxi aéreo que nos conduzia de Boca do Acre para Manaus pifou um dos motores enquanto fazia reabastecimento técnico no aeroporto. Se a pane fosse ao ar a tragédia seria fatal.

Defendi idéias, discuti alternativas, prestei contas de toda uma vida dedicada à defesa dos trabalhadores bem como as realizações concretas que obtivemos, seja como militante político, parlamentar ou secretário de estado.

Encontrei eco na imensa maioria das platéias para as quais preguei. E até por isso celebramos importantes dobradas políticas com candidatos a Deputado Estadual de diferentes partidos que integraram a nossa coligação.

Recebi o honroso apoio da imensa maioria dos trabalhadores ligados ao setor primário, de uma expressiva e qualificada representação de trabalhadores da educação, de profissionais e trabalhadores da área do desporto, da brava e irreverente juventude de tantas conquistas, de uma seleta platéia dos movimentos sociais, de importantes setores do mundo acadêmico e científico, alem de diversos segmentos sociais e categorias de trabalhadores, como rodoviários, metalúrgicos, dentre outros.

Trabalhamos duro. Nossa agenda procurou combinar múltiplas atividades (reuniões, caminhadas, panfletagens, comícios relâmpagos, atos públicos e eventuais comícios) nas diversas áreas de Manaus e do interior. Apoiamos toda essa atividade com uma quantidade razoável de material publicitário, tanto fixo quanto móvel.

O resultado final foi uma expressiva votação de 80.500 votos (5,25%), o que infelizmente não foi suficiente para assegurar o nosso mandato. Lamento profundamente pelo insucesso, o qual deve ser debitado exclusivamente a mim.

Nossa chapa de deputado estadual obteve mais de 75 mil votos, o que assegura, com folga, o objetivo inicial de atingir quociente eleitoral com chapa própria. A não publicação de nossa vitoria pelo TRE decorre do fato de que 6 candidatos nossos concorreram “sub judice” e aguardem decisão do TSE ou do STF.

Quanto ao Senado, apesar do conjunto de forças conservadoras que o adversário conseguiu aglutinar, algumas das quais da nossa própria coligação, nossa candidata Vanessa conseguiu ultrapassar o tucano Artur Neto e tornou a primeira senadora eleita pelo Amazonas com aproximadamente 650 mil votos.

A derrota de Artur Neto, ex-membro do PSB que se converteu ao neoliberalismo ainda na época de Collor de Melo, é simbólica não apenas para o Amazonas mas especialmente para o Brasil.

Para um projeto de tamanha ousadia, no qual nós podíamos ganhar tudo ou perder tudo, acreditamos que o resultado final pode ser considerado uma bela vitoria.

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