Instituto Fábio Wasem

De acordo com os dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Brasil gasta R$ 30 bilhões por ano no atendimento das vítimas de trânsito. Um disparate. Até quando aceitaremos, omissos, cem mortes diárias (esse número pode ser ainda subestimado) acometidas no trânsito brasileiro?

Difícil encontrar algum brasileiro que não tenha um relato para contar sobre algum amigo morto ou ferido nas estradas brasileiras. Lembro-me, entre muitos, do camarada e amigo Fábio Juliano Wasem, que teve sua vida ceifada aos 35 anos de idade, vítima de acidente automobilístico. Passa-se o tempo, mas continua a sensação de inconformismo. Fábio era daquela cepa de gente tida como imprescindível no poema de Brecht. Morreu, assim com tantos outros combatentes, vítima da estúpida guerra do trânsito brasileiro. E tal como em uma guerra, é a juventude quem paga o preço mais alto.

Nos acidentes de trânsito os custos estão relacionados às perdas de produção, aos danos aos veículos, aos gastos médico-hospitalares, aos custos de processos judiciais e previdenciários, resgate de vítimas, remoção de veículos, meio ambiente, impacto familiar, atendimento policial e de agentes de trânsito e outros mais. Pelo exposto, pode-se perceber que as perdas materiais gasto pelo país no trânsito são mensuráveis e impactantes. Já as perdas imateriais, vidas produtivas e criativas como as de Fábio, são incalculáveis e ainda mais chocantes.

Em um trecho de 300 quilômetros, entre Maceió e o município de Delmiro Gouveia, no alto sertão de Alagoas, por exemplo, se pode contar uma centena de motociclistas sem capacetes transitando em rodovias estadual e federal. Isso sem contar o “garupeiro”. É questão de educação ou de fiscalização? As duas coisas. Se educação por si só bastasse não veríamos tantos diplomados espatifando-se alcoolizados com seus carrões. Mas quando se fala em fiscalização, surge logo o imaginário da “indústria da multa” e a vitimização do condutor infrator com seu sentimento de perseguição ao receber uma notificação.

O fato é que as estradas brasileiras matam de 10 a 70 vezes mais do que as rodovias do grupo de países ricos denominados G7. Morrem 213 pessoas por cem quilômetros de estradas contra três no Canadá e cerca de dez na média dos sete países.

Os motivos para esses dados discrepantes são muitos. No Brasil é comum ver um trecho de rodovia ser liberado sem ao menos terem pintado as faixas de sinalização nas pistas, o que faz da direção noturna uma “roleta russa”.

Mais do que tratar a “guerra no trânsito” como caso de saúde pública, é necessário se tomar medidas enérgicas imediatamente.

Não se pode mudar o modelo rodoviário dependente da pauta do império automobilístico (e com ele toda sua cadeia produtiva) da noite para o dia. Mas ações emergenciais são clamadas do dia para a noite, e são possíveis. Revitalização da Polícia Rodoviária Federal, instalação de radares móveis e fixos, manutenção da sinalização das pistas, entre tantas outras medidas que necessitam mais de vontade política que de qualquer outra coisa.

Uma justa homenagem ao camarada Fábio seria o envolvimento de todos os que militamos juntos com ele, em sua efêmera passagem conosco, na questão da mobilidade urbana e estrutura rodoviária geral no Brasil. Esse, a propósito, é o desafio do Instituto que leva seu nome (http://institutofabiowasem.com.br), na certeza de que “a estrada vai além do que se vê…”.

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