Instituto Fábio Wasem
De acordo com os dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Brasil gasta R$ 30 bilhões por ano no atendimento das vítimas de trânsito. Um disparate. Até quando aceitaremos, omissos, cem mortes diárias (esse número pode ser ainda subestimado) acometidas no trânsito brasileiro?
Publicado 18/08/2011 20:30
Difícil encontrar algum brasileiro que não tenha um relato para contar sobre algum amigo morto ou ferido nas estradas brasileiras. Lembro-me, entre muitos, do camarada e amigo Fábio Juliano Wasem, que teve sua vida ceifada aos 35 anos de idade, vítima de acidente automobilístico. Passa-se o tempo, mas continua a sensação de inconformismo. Fábio era daquela cepa de gente tida como imprescindível no poema de Brecht. Morreu, assim com tantos outros combatentes, vítima da estúpida guerra do trânsito brasileiro. E tal como em uma guerra, é a juventude quem paga o preço mais alto.
Nos acidentes de trânsito os custos estão relacionados às perdas de produção, aos danos aos veículos, aos gastos médico-hospitalares, aos custos de processos judiciais e previdenciários, resgate de vítimas, remoção de veículos, meio ambiente, impacto familiar, atendimento policial e de agentes de trânsito e outros mais. Pelo exposto, pode-se perceber que as perdas materiais gasto pelo país no trânsito são mensuráveis e impactantes. Já as perdas imateriais, vidas produtivas e criativas como as de Fábio, são incalculáveis e ainda mais chocantes.
Em um trecho de 300 quilômetros, entre Maceió e o município de Delmiro Gouveia, no alto sertão de Alagoas, por exemplo, se pode contar uma centena de motociclistas sem capacetes transitando em rodovias estadual e federal. Isso sem contar o “garupeiro”. É questão de educação ou de fiscalização? As duas coisas. Se educação por si só bastasse não veríamos tantos diplomados espatifando-se alcoolizados com seus carrões. Mas quando se fala em fiscalização, surge logo o imaginário da “indústria da multa” e a vitimização do condutor infrator com seu sentimento de perseguição ao receber uma notificação.
O fato é que as estradas brasileiras matam de 10 a 70 vezes mais do que as rodovias do grupo de países ricos denominados G7. Morrem 213 pessoas por cem quilômetros de estradas contra três no Canadá e cerca de dez na média dos sete países.
Os motivos para esses dados discrepantes são muitos. No Brasil é comum ver um trecho de rodovia ser liberado sem ao menos terem pintado as faixas de sinalização nas pistas, o que faz da direção noturna uma “roleta russa”.
Mais do que tratar a “guerra no trânsito” como caso de saúde pública, é necessário se tomar medidas enérgicas imediatamente.
Não se pode mudar o modelo rodoviário dependente da pauta do império automobilístico (e com ele toda sua cadeia produtiva) da noite para o dia. Mas ações emergenciais são clamadas do dia para a noite, e são possíveis. Revitalização da Polícia Rodoviária Federal, instalação de radares móveis e fixos, manutenção da sinalização das pistas, entre tantas outras medidas que necessitam mais de vontade política que de qualquer outra coisa.
Uma justa homenagem ao camarada Fábio seria o envolvimento de todos os que militamos juntos com ele, em sua efêmera passagem conosco, na questão da mobilidade urbana e estrutura rodoviária geral no Brasil. Esse, a propósito, é o desafio do Instituto que leva seu nome (http://institutofabiowasem.com.br), na certeza de que “a estrada vai além do que se vê…”.