Não há atalhos ao trabalho coletivo
O tema é recorrente e vem à tona em debates e entrevistas acerca do cinquentenário do golpe militar de 1964. Sempre há alguém indagando sobre a experiência dos jovens resistentes à ditadura, comparando-a com o perfil de líderes e ativistas estudantis de hoje – numa tendência a mistificar a geração de 88 e subestimar a rebeldia e o desprendimento que movem os atuais combatentes.
Publicado 01/05/2014 10:42
Ora, apesar de termos a cabeça a prêmio, sobretudo a partir do AI 5, que aniquilou por completo direitos civis e individuais, à época era subjetivamente mais simples decidir de que lado se posicionar, tamanha a iniquidade e a violência do regime. Hoje, cena política complexa e embaralhada, delimitação de campos frequentemente borrada, a juventude cortejada por mil apelos de variados matizes e pelo culto ao individualismo, a escolha é mais difícil.
Cursos, seminários e oficinas inspirados na grade curricular da Escola Nacional do Partido reforçam essa formação. São indispensáveis. Mas nada substitui o trabalho coletivo – que educa, esclarece, anima o debate de ideias, acolhe discrepâncias e diferenças, cultua valores revolucionários elevados, promove a unidade de pensamento e de ação.
O artigo 17 do Estatuto partidário assinala: “As organizações partidárias em todos os níveis funcionam sob regime de trabalho coletivo e responsabilidade individual de cada um de seus integrantes.” Quanto a isso não há nem pode haver atalhos. Por mais brilhantes e hábeis que sejam alguns quadros, por maior que seja a pressão por decisões imediatas, no calor da luta, reduzir as deliberações a conciliábulos, subestimando a institucionalidade partidária e a participação coletiva, além de prejudicar a eficácia das ações empreendidas, contribui negativamente para a formação de novos quadros. Bons quadros são forjados na experiência de direção coletiva, nos diversos níveis da militância partidária e dos movimentos sociais.