Invisibilidade negra

Um dos aspectos mais nefastos do racismo é a invisibilidade. Quando eu torno invisível o outro, eu apago qualquer referência positiva que possa estimular, servir de orgulho ou de exemplo, eu normalizo a invisibilidade e aniquilo qualquer possibilidade de aceitação do diferente, seja em um espaço de trabalho ou de poder.

É visível a inexistência negra em alguns espaços representativos da nossa sociedade. Haja vista, a nossa falta de representação na mídia, com raras exceções. Agora, por força de pressão da sociedade e um pouco de vergonha na cara, algumas emissoras de TV começam a se render ao talento e destinar papéis decentes para negros em novelas ou até como repórteres e apresentadores de telejornais.

Quando acreditamos que mudanças estão acontecendo, aparecem sinais de que estamos distantes de alcançar a igualdade de tratamento nesses espaços. Um exemplo ocorreu recentemente com a morte do ator Antônio Pompêo, de 62 anos, que também era artista plástico e ativista dos direitos dos negros. Primeiro ator a representar Zumbi no cinema, atuou em diversas novelas, no cinema e no teatro, inclusive dirigindo para o Canal Futura, a série “Heróis de Todo Mundo” no projeto a Cor da Cultura, projeto no qual, também foi um dos idealizadores.

Tristeza ao saber da morte do grande amigo pelo Facebook, tristeza em não ver nenhuma referência ao ator no dia de sua morte e nos dias posteriores, nenhuma menção nos principais jornais da emissora, onde Pompêo viveu tantos papéis. Tristeza ao ler o comentário de sua grande amiga, Zezé Motta, dizendo que “Pompêo estava depressivo por falta de oportunidades de trabalho e que “ele morreu de tristeza”.

Pompêo, que sempre relatava aos amigos mais próximos sobre a difícil luta dos atores e atrizes negras pelo reconhecimento e contra a invisibilidade na TV, morreu dando seu último recado: de como a mídia ainda trata os negros.

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