Juventude sem perspectiva
Na juventude repousa boa parte das expectativas de progresso de uma nação.
Publicado 06/12/2018 12:27
O escritor russo Maximo Gorki escreveu que “a juventude tem a face do amanhã”.
No recente período Lula-Dilma, se ampliaram significativamente as conquistas sociais e ascendia uma juventude muito pobre que se inseria no mercado de trabalho e avançava nos estudos, sobretudo em escolas técnicas e faculdades.
Era um cenário novo, promissor. A ponto dos movimentos juvenis substituírem a convencional análise de ausência de perspectiva por um “novo tempo” de oportunidades.
Avanços que, embora significativos, ainda era insuficientes, tamanha a demanda historicamente reprimida.
E nos últimos dois anos de governo golpista, as condições de vida de nossa juventude se agravam rapidamente.
Agora, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), trás a luz estudo realizado em nove países da América Latina e Caribe, onde a taxa de jovens do Brasil que não estudam nem trabalham, os chamados “nem-nem”, atinge 23%, maior que a média dos países pesquisados.
Segundo o Ipea, 21% dos jovens com idades entre 15 e 24 anos fazem parte do grupo sem trabalho ou estudo, correspondendo a 20 milhões de pessoas.
O Brasil também tem o maior índice de indivíduos completamente ociosos nessa faixa etária.
Aproximadamente 12% desses jovens não fazem tarefas domésticas, não ajudam em cuidados familiares ou em negócios dos pais e também não procuram emprego.
Tudo a ver com o incremento da violência criminal urbana.
Na ausência de ocupação e de perspectiva, jovens são
facilmente atraídos para atividades ilícitas, de renda imediata aparentemente fácil.
Capturados por organizações criminosas, adotam um caminho sem volta.
Portanto, temos uma parcela da população do País a um só tempo estratégica para o evolver civilizatório e, infelizmente, marginalizada.
A este dado se deve ajuntar uma gama de outros, como a densidade demográfica, a densidade de habitantes por domicílio, a ausência de alternativas de lazer nas áreas periféricas da cidades grandes e médias, o consumo de álcool e de outras drogas, o baixo nível de escolaridade, a pressão consumista reverberada pela grande mídia tradicional e pela internet, a falência das políticas sociais preventivas da violência, a deterioração e o desvio ético das polícias, a impunidade e assim por diante.
Mais: a abordagem espetacular e glamorosa da violência criminal pela própria mídia, seja no noticiário diário, seja através de filmes cujos personagens centrais são “justiceiros”, policiais ou mesmo criminosos caracterizados pelo uso brutal e sofisticado da violência.
Pior: estamos às vésperas de um novo governo pautado pela distorcida compreensão de que as mazelas sociais devam ser encaradas como caso de polícia.
Uma quadra de sombria perspectiva para a juventude brasileira.