Por fora e sem voz

O alinhamento automático com os EUA durante o governo Trump surgiu como uma espécie de casamento entre a cobra e o porco espinho. Fora de tempo e de lugar

Foto: Isác Nóbrega/PR

Entre a omissão e a tibieza navega a conduta atual do Brasil na cena internacional.

Após o vexame das fake news em torno da atabalhoada visita de Bolsonaro à Rússia pouco antes de deflagrado o conflito armado com a vizinha Ucrânia, quando o presidente do Brasil espalhou que teria dissuadido Putin, agora nossa posição nos fóruns internacionais navega entre a ausência e a absoluta insignificância.

O fato é que tradicionalmente a diplomacia brasileira foi proativa e respeitada, até mesmo durante o período da ditadura militar.

A partir do governo Lula ganhou prestígio e assumiu coprotagonismo na busca de solução de paz em algumas situações de conflito.

A presença do Brasil no Brics é sinal dessa evolução.

Entretanto, no governo do capitão Jair Bolsonaro verifica-se uma regressão sob todos os aspectos absurda e ridícula.

O alinhamento automático com os EUA durante o governo Trump surgiu como uma espécie de casamento entre a cobra e o porco espinho. Fora de tempo e de lugar.

Concomitantemente, ficamos por fora e sem voz ativa nos diversos fóruns em que temos assento.

A começar do Mercosul, onde nosso papel agora é de boicote ao grupo.

E com a vitória de Biden sobre Trump, o governo brasileiro toma para si as dores e frustrações do ex-presidente norte-americano derrotado e até mesmo em relação aos EUA passamos à condição de interlocutor inexpressivo ou ausente.

Mas ocorre que no mundo em ebulição e sob multiplicados sinais de transição a um desenho geopolítico multipolar, surgem frestas significativas por onde o Brasil, mediante política externa independente e ágil, poderia conquistar espaços na esfera econômica e política em benefício do desenvolvimento nacional.

Com Bolsonaro isso é impossível. O presidente e o time escalado no Itamaraty navegam anos luz de distância dessa postura.

Na verdade, sequer navegam; seguem à deriva.

Assim, no possível governo de reconstrução nacional que brote das urnas de outubro, a adoção de uma política externa independente e ágil há que tirar proveito da tendência à multipolarização global.

Ainda é cedo para se mensurar a dimensão das consequências da guerra Rússia-Ucrânia, porém parece nítido que o imenso rosário de sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos e seus aliados à Rússia inevitavelmente terá efeito bumerangue.

Tanto agravarão a crise econômica global, como gerarão oportunidades para países como o Brasil, desde que saibam explorar positivamente a situação.

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