Depoimento de general à PF liga Bolsonaro a reuniões da “minuta do golpe”
Freire Gomes, que foi comandante do Exército sob Bolsonaro, falou por oito horas e confirmou participar de reuniões golpistas; ex-presidente teria dado ordem para manter acampamentos
Publicado 03/03/2024 12:19 | Editado 05/03/2024 09:06
O general da reserva Marco Antônio Freire Gomes prestou depoimento de oito horas para a Polícia Federal (PF) sobre a “minuta do golpe” na sexta-feira (1). Ele foi comandante do Exército no governo Jair Bolsonaro e no seu longo relato confirmou a delação do ex-ajudante de ordens Mauro Cid sobre a articulação do grupo a fim de impedir a posse de Lula como presidente por meio de um golpe de Estado.
Freire Gomes admitiu que foram realizadas reuniões para debater o conteúdo da minuta, posteriormente descoberta na casa de do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres. O conteúdo do infame documento foi alterado inúmeras vezes e nas versões preliminares ainda compreendia o desejo golpista pela prisão dos ministros do STF Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, assim como do presidente do Congresso Nacional, o senador Rodrigo Pacheco.
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O general que agora faz questão de detalhar o passo a passo da tentativa de golpe é considerado um traidor entre os bolsonaristas, pois teria protelado da ideia e não colocado em marcha o plano, que dependia da adesão das Forças Armadas. Em mensagens obtidas pela PF nas investigações, o general Braga Netto, ex-candidato a vice de Bolsonaro, chamou Gomes de “cagão”.
No entanto, ainda que deva ser punido por sua conduta, Freire Gomes pode, ao menos, dar o troco e acusar quem o chamou “cagão” junto a demais golpistas.
Para a PF, ele poderia ter ficado calado sob a prerrogativa de não produzir provas contra si. Porém preferiu responder as mais oitenta perguntas que estavam no roteiro dos investigadores e que geraram outros duzentos questionamentos a partir do que foi sendo revelado.
Segundo o Jornal da Band, Gomes indicou que partiu de Bolsonaro a ordem para não desmobilizar os acampamentos golpistas em frente aos Quartéis-Generais do Exército. Deles teriam partido grande massa de golpistas que, entre outras situações, vandalizaram os prédios dos Três Poderes em Brasília em 8 de Janeiro de 2023.
Agora, o conteúdo do depoimento dele é guardado à sete chaves para não comprometer o sigilo das investigações.
Repercussão
Com averiguação pela mídia do longo depoimento e com as informações de que Freire Gomes contribui até mais do que esperado, a repercussão foi imensa pelas redes sociais.
Confira algumas das manifestações:
JAIR ERA O CHEFE DO GOLPE
— Jandira Feghali 🇧🇷🚩 (@jandira_feghali) March 3, 2024
Em seu depoimento à Polícia Federal , o general Freire Gomes, ex-comandante do Exército, confirmou: Jair Bolsonaro era o principal articulador do golpe fracassado. Foi por ordem do ex-presidente que os acampamentos golpistas permaneceram por meses na… pic.twitter.com/37lVzf6vLZ
A trama golpista aos poucos vai sendo revelada. Segundo a imprensa, dessa vez foi o general Freire Gomes que contou tudo sobre as reuniões que discutiam como rasgar a constituição! Se por um lado ele não topou o golpe de Estado, por outro ele também não denunciou as armações da…
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) March 3, 2024
Faça um teste. Tente montar uma barraca na frente de um QG do Exército. Você não dura 5 minutos. O general Freire Gomes revelou o óbvio: os acampamentos golpistas foram autorizados e protegidos pelo então comandante supremo das Forças Armadas: Jair Bolsonaro. A justiça lhe espera
— Ricardo Cappelli (@RicardoCappelli) March 3, 2024
O "cagão" não teve medo de prestar depoimento.
— GugaNoblat (@GugaNoblat) March 3, 2024
O ex-comandante do Exército confirmou a minuta do golpe? Sim.
Freire Gomes foi chamado de cagão pelo Braga Netto, mas ao contrário dele e de outros generais, não arregou e descartou o silêncio.
Ele também teria apontado Bolsonaro… pic.twitter.com/ynuTctm2cZ