Sambódromo da Sapucaí: de sonho arquitetônico a ícone do carnaval carioca

Construído em tempo recorde, o monumento de Niemeyer abrigou desfiles, escolas e até eventos olímpicos, tornando-se símbolo do Rio e do Brasil.

O estádio gigante projetado por Oscar Niemeyer se transforma no palco da maior festa do mundo por cinco noites durante o Carnaval | Foto: reproduçao/Riotur

Em meio ao fervor carnavalesco e às intensas transformações urbanas do Rio de Janeiro, nasceu a Passarela do Samba, mais conhecida como Sambódromo da Marquês de Sapucaí. A estrutura monumental, projetada pelo renomado arquiteto Oscar Niemeyer, foi erguida em tempo recorde durante o primeiro governo de Leonel Brizola (1983-1987), tornando-se o palco definitivo para os desfiles das escolas de samba da cidade. Desde sua inauguração em 1984, a construção consolidou-se como um dos maiores símbolos do Carnaval carioca e da cultura brasileira.

O projeto e a construção

A concepção do Sambódromo foi fruto da visão arrojada do governador Leonel Brizola e do então vice-governador e secretário de Cultura, Darcy Ribeiro, que enxergavam no projeto uma oportunidade de proporcionar um espaço fixo para os desfiles e, ao mesmo tempo, criar um polo educacional e cultural para a cidade. Niemeyer, com sua marca inconfundível, idealizou uma estrutura que combinava funcionalidade e monumentalidade, buscando integrar a festividade popular ao urbanismo moderno.

Croqui de Oscar Niemeyer | Imagem: Fundação Oscar Niemeyer

“A Passarela do Samba apresenta, a meu ver, dois aspectos fundamentais. Um, é a sua transformação numa obra cultural, com escolas para 16 mil alunos, creches, zonas artesanais e a grande praça destinada a espetáculos de teatro, música, balé etc. O outro aspecto, para mim igualmente importante, foi a construção da Passarela em 4 meses apenas – tempo recorde – e, o que é surpreendente, dentro da técnica construtiva mais apurada”, afirmou Niemeyer sobre a obra.

A construção, iniciada em setembro de 1983, envolveu cerca de 2,5 mil operários e foi concluída em fevereiro de 1984, um feito impressionante para a engenharia brasileira. O espaço, com seus 700 metros de extensão e 13 metros de largura, não apenas redefiniu a logística dos desfiles como também se tornou um marco arquitetônico da cidade, com destaque para a icônica Praça da Apoteose e o grande arco de concreto que simboliza a grandiosidade da festa.

A rapidez da obra evidenciou, segundo Niemeyer na época, “o progresso da nossa engenharia e como dele se servem os nossos engenheiros quando um problema os convoca e, num desafio, nele passam a atuar”.

Perspectiva original da Passarela de Oscar Niemeyer

A extensão da passarela obrigou a Liga Independente das Escolas de Samba (LIESA) a estender o desfile do Grupo Especial para dois dias, permitindo que todas as agremiações tivessem o devido tempo de apresentação.

Apoteose e elementos arquitetônicos

A grande marca visual do Sambódromo é sua Apoteose, um arco monumental que encerra o desfile das escolas de samba. Niemeyer desenhou o espaço para que, ao final da passarela, os desfilantes pudessem celebrar em uma grande praça, idealizada por Darcy Ribeiro para dar um caráter mais festivo à conclusão dos cortejos.

Palco na Praça da Apoteose | Foto:  André Mendonça

Outros elementos essenciais da arquitetura de Niemeyer também estão presentes no projeto, como as curvas marcantes das arquibancadas e os painéis assinados por Marianne Peretti e Athos Bulcão, que adicionam um toque artístico à construção.

Primeiros desfiles e consolidação

A primeira escola a pisar na nova passarela foi a Império da Maranga, do grupo de acesso, enquanto a Unidos da Tijuca abriu o desfile das grandes agremiações com o enredo “Salamaleikun: a epopéia dos insubmissos malês”. A estreia do Sambódromo trouxe inovações: além a divisão do desfile em duas noites também foram eleitas duas campeãs: Portela e Estação Primeira de Mangueira. O tira-teima no “Sábado das Campeãs” consagrou a Mangueira como a grande vencedora daquele ano.

O sambódromo em construção

O impacto do Sambódromo foi imediato. Com uma estrutura fixa, as escolas passaram a ter mais segurança na organização de seus desfiles, e a cidade viu crescer sua capacidade de atrair turistas e fortalecer sua economia carnavalesca. A Passarela do Samba também se tornou referência para outras cidades, dando origem a sambódromos em São Paulo, Florianópolis, Vitória, Santos, Porto Alegre e Manaus.

Passarela do Samba | Imagem: Fundação Oscar Niemeyer

Em 18 de fevereiro de 1987, o nome oficial do Sambódromo foi alterado para “Passarela Professor Darcy Ribeiro”, em homenagem ao antropólogo e principal mentor da obra. Essa mudança reafirmou a importância de sua contribuição para o projeto e para a valorização da cultura popular brasileira.

Legado e reforma para as Olimpíadas de 2016

Ao longo das décadas, o Sambódromo passou por diversas reformas para modernização e ampliação de sua capacidade. As arquibancadas, que tinham capacidade para 60.000 pessoas, após a reforma de 2011, foi aumentada para 72.500 pessoas. Um dos momentos mais emblemáticos foi a preparação para os Jogos Olímpicos de 2016, quando a estrutura recebeu melhorias para se transformar no palco das provas de tiro com arco e da maratona olímpica. O evento reforçou a importância da Passarela do Samba não apenas como espaço do Carnaval, mas também como um equipamento esportivo e cultural de relevância global.

Tanto que, em 2021, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) concedeu o tombamento definitivo ao Sambódromo, reconhecendo sua importância como patrimônio arquitetônico e cultural do Brasil.

Oscar Niemeyer na inauguraçao do seu projeto finalizado © EL Clarin

O legado do Sambódromo da Marquês de Sapucaí ultrapassa sua função de palco do Carnaval. É um monumento que sintetiza a criatividade de Oscar Niemeyer, a visão política de Leonel Brizola e Darcy Ribeiro e a grandiosidade das escolas de samba do Rio de Janeiro. A obra, que transformou uma rua em passarela e um sonho em realidade, segue vibrando ao som dos tamborins e ecoando a alegria do povo brasileiro, ano após ano, na maior festa popular do planeta.

Veja imagens das obras aqui.

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