Plenária lança Plebiscito Popular para reduzir a jornada e tributar bilionários
Ato nacional será nesta quinta (10), na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, às 18h30, pela redução da jornada de trabalho, acabar com escala 6×1 e taxar super-ricos para isentar rendas de até R$ 5 mil
Publicado 10/04/2025 08:29 | Editado 11/04/2025 08:05

A 1ª Plenária Nacional de Organização e Mobilização do Plebiscito Popular, realizada nesta terça-feira (8), reuniu remotamente cerca de 500 militantes de movimentos sociais, sindicais e populares para dar início à construção de uma consulta histórica. A atividade deu largada à principal iniciativa política das forças populares neste ano: consultar o povo brasileiro sobre temas estruturantes da vida da classe trabalhadora e da sociedade.
O objetivo é levar ao povo brasileiro três temas estruturantes: redução da jornada de trabalho, fim da escala 6×1 e tributação dos bilionários, com isenção de Imposto de Renda para a classe trabalhadora. Os movimentos planejam pressionar o Congresso e o governo a priorizar pautas da classe trabalhadora, além de fortalecer a unidade contra a agenda da extrema-direita.
“Mesmo com Lula eleito, não conseguimos mudar a correlação de forças. O grande capital segue ditando regras”, afirmou Igor Felippe, um dos coordenadores do Plebiscito. Conforme ele lembrou, o Plebiscito Popular segue uma tradição de mobilizações como o Plebiscito da Alca (2002) e o Plebiscito da Constituinte (2014). “Não é só uma votação, mas um processo pedagógico de construção de consciência”, destacou.
Ato político nesta quinta
O Ato Nacional de Lançamento do Plebiscito Popular 2025 ocorre nesta quinta-feira (10), no Salão Nobre da Faculdade de Direito da USP, localizado no Largo de São Francisco (Centro). Essa mobilização, organizada por movimentos populares, centrais sindicais, organizações da sociedade civil e grupos de fé, ocorrerá às 18h30.
O ato contará com a presença do João Paulo Rodrigues, do MST, Juvandia Moreira, vice-presidente da CUT, Manuela Mirella, presidente da UNE, Rud Rafael, da coordenação nacional do MTST, Raimundo Bonfim, da Central dos Movimentos Populares, entre outras lideranças do movimento popular.
Estarão presentes também Humberto Costa, presidente do PT, Paula Coradi, presidenta do PSOL, Walter Sorrentino, vice-presidente do PCdoB, além de parlamentares, lideranças de entidades das diversas expressões de fé, do meio jurista e artistas.
Diversidade, unidade e amplitude das vozes
A plenária, organizada pelas Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, contou com a participação de lideranças de centrais sindicais, como Adilson Araújo, presidente da CTB (Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), lideranças de movimentos sociais como João Paulo Rodrigues (MST), Manuela Mirella (UNE), dirigentes de partidos como Liege Rocha (PCdoB), Henrique Fontana (PT) e Paula Coradi (PSol) e representantes do Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), que destacaram a urgência de unir forças contra a agenda neoliberal e a exploração do trabalho.
Entre outros, a plenária contou com intervenções de representantes de:
- Movimentos: MST, MTST, UNE, MNU, MAB, Marcha Mundial das Mulheres;
- Sindicatos: CTB, CUT, Intersindical, CNTE;
- Partidos: PT, PSOL, PCdoB, PCB, UP;
- Entidades religiosas: CNBB e Pastorais Sociais.
Todos reforçaram que o plebiscito é uma resposta concreta à tentativa de desestabilização democrática e à ofensiva da extrema-direita. “Vamos derrotar o fascismo não só nas urnas, mas nas ruas, com organização e mobilização popular”, resumiu Ana Carolina, do Movimento Brasil Popular.
“O plebiscito é uma ferramenta para pressionar o Estado e construir poder popular. É é um momento importante de ligação com a população de um modo geral, é o momento da gente fortalecer essa ligação para que a gente possa cada vez mais defender a democracia e cada vez mais lutar contra essa onda da direita, essa onda fascista”, diz Liege Rocha, do PCdoB.
Segundo Liege, “para que a gente tenha um plebiscito vitorioso e possa alcançar o maior número de pessoas de norte a sul do país, o nosso lançamento aqui em São Paulo precisa ser bem amplo, com a participação efetiva dos vários movimentos e partidos de trabalhadores, mulheres, juventude, negros, todos sem restrição”.
Henrique Fontana, do PT, concorda: “Esse plebiscito é a nossa trincheira contra o fascismo. Vamos mostrar que o povo quer emprego digno e justiça social. Ao propor a redução da jornada e a taxação dos super-ricos, estamos indo ao coração do nosso projeto político – o que gera unidade e nos prepara para derrotar o conservadorismo nas urnas novamente.”
Os temas do plebiscito: por que são prioridades?
1. Fim da Escala 6×1:
A escala de trabalho 6×1, comum em setores como serviços e saúde, foi alvo de críticas por comprometer a saúde física e mental dos trabalhadores. Milton Rezende (CUT) destacou que a redução para 40 horas semanais é uma luta histórica desde a Constituição de 1988: “Trabalhar menos é viver mais. Precisamos discutir lazer, divisão de tarefas domésticas e saúde mental”. Ele lembrou que a redução da jornada sem perda de salário é uma luta histórica e necessária diante da precarização atual: “Temos mais de 50 milhões de trabalhadores na informalidade. Reduzir a jornada gera emprego, qualidade de vida e justiça social.”
Vanessa, do Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), relatou a realidade de quem folga apenas um dia: “Mães não veem os filhos, jovens não estudam. Essa escala é desumana”. A PEC contra a 6×1, proposta pela deputada Erika Hilton (PSOL), já tem 234 assinaturas no Congresso. “Não queremos apenas sobreviver, queremos viver”, afirmou a representante do VAT, destacando que a luta contra a exaustão laboral é também uma bandeira de dignidade.
2. Redução da Jornada de Trabalho:
João Paulo Rodrigues, do MST, ressaltou que a redução da jornada sem aumentar a exploração é essencial para “reconectar a classe trabalhadora e fortalecer a unidade que derrotou Bolsonaro”.
Já o professor Matheus, da Intersindical, destacou o simbolismo da luta contra a escala 6×1: “É uma escala cruel, que afeta principalmente mulheres negras e jovens. O apoio da população é massivo. A extrema direita pode ter as big techs, mas nós temos o povo.”
3. Tributação de bilionários:
A presidenta da UNE, Manuela Mirella, foi a responsável por apresentar o terceiro eixo do plebiscito: “A tributação dos bilionários e a isenção para quem ganha até R$ 5 mil é o caminho para garantir justiça fiscal. O projeto já está no Congresso, mas não pode ser isolado. Precisamos taxar os super-ricos para não tirar dos programas sociais.”
Ela lembrou que os impostos no Brasil penalizam os mais pobres e que o plebiscito será um instrumento para conscientizar a população: “Temos que dialogar sobre por que o pobre paga tanto e o rico quase nada.”
A proposta de taxar grandes fortunas e isentar trabalhadores do Imposto de Renda visa combater a desigualdade. “Enquanto bilionários acumulam riqueza, milhões vivem na miséria. Esse plebiscito é um grito por justiça fiscal”, disse a líder estudantil. Manu criticou a injustiça tributária: “Quem ganha R$ 50 mil paga o mesmo IR que quem ganha R$ 5 mil. Enquanto isso, jatos e iates são isentos”.
Paula Coradi (PSOL) reforçou: “Não vamos permitir que a isenção de IR para pobres seja compensada com cortes em saúde e educação. A conta deve vir dos bilionários”. No Legislativo, projetos como a taxação de grandes fortunas enfrentam lobby de ruralistas e do setor financeiro.
Desafios e estratégias de mobilização
A plenária mostrou a força da articulação popular. Foram debatidas estratégias para ampliar a base do plebiscito, como:
- Plenárias estaduais para mobilizar comunidades e sindicatos; atos de lançamento e urnas físicas para votação popular a partir de setembro;
- Formação de multiplicadores para explicar as pautas nas periferias e universidades;
- Nas redes: Campanhas digitais e conteúdo didático para engajar jovens.
- Atos públicos, como o lançamento nacional marcado para 10 de maio, às 18h30, na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo.
Igor Felippe, da coordenação do plebiscito, enfatizou: “Precisamos transformar essa consulta em um instrumento de educação popular e resistência”. “Precisamos disputar corações e mentes. 65% da população já apoia o fim da 6×1. É hora de ampliar o diálogo”.
Segundo Igor, a proposta é construir um processo de base, com capilaridade nacional e formação política. Cada estado deverá organizar sua coordenação, promover plenárias regionais, lançar comitês e preparar atividades de rua e debates públicos. Um curso nacional de formação está previsto para maio.
Próximos passos: Lançamento e formação política
- 10 de abril: Ato nacional em São Paulo, no auditório da Faculdade de Direito da USP;
- Maio: Curso de formação para multiplicadores;
- Setembro: Votação popular em urnas físicas e digitais.