Escolha do Papa Leão XIV é vitória póstuma de Francisco
Eleição de Leão XIV reafirma influência de Francisco e sinaliza continuidade de uma agenda reformista da Igreja diante do avanço conservador no cenário mundial.
Publicado 13/05/2025 12:00 | Editado 13/05/2025 10:46

Causou inicialmente grande surpresa a escolha do cardeal Robert Francis Prevost como papa nos últimos dias. Mas, se analisarmos a eleição do Conclave à luz das informações e notícias que vão surgindo entenderemos melhor a condução do norte-americano ao cargo mais importante da Igreja Católica.
Prevost nasceu em Chicago, cidade de tradição operária nos EUA, mas passou a maior parte da sua vida no interior do Peru, na cidade de Chiclayo, membro de uma família de imigrantes, agostiniano de formação, com doutorado, teve contato com a Teologia da Libertação enquanto esteve na América Latina a qual citou em seu discurso inicial, proferido em italiano e castelhano, sem uma palavra em inglês.
O agora Papa escolheu o nome de Leão XIV, sucessor de Leão XIII que nos trouxe a encíclica Rerum Novarum, considerada a doutrina social da igreja católica, este também reconhecia a importância da classe operária e fez um papado considerado reformador e progressista para o período histórico que viveu, antecedendo João Paulo II.
Fica agora claro que Francisco fez a lição de casa, nomeou 108 cardeais, cuidou dessas nomeações com esmero, transforando Prevost em um dos papas com a mais expressiva votação da História, ultrapassando os 100 dos 133 votos possíveis, segundo informações que circulam na mídia.
Aparecem preocupações variadas sobre Prevost, em particular sua opinião mais conservadora sobre a pauta LGBTQIA+ do que a do seu antecessor, e uma possível condescendência de sua parte na apuração de casos de pedofilia no Peru enquanto lá esteve. É preciso que se lembre a conjuntura em que Leão XIV é ungido Papa, um mundo polarizado como nunca, pendendo fortemente ao conservadorismo, com traços expressivos de fascismo em várias nações do globo, e apoio popular nestas as pautas mais absurdas e regressivas em pleno século XXI. Prevost tem sim seus defeitos, mas neste contexto pesam mais suas qualidades.
Eleger um Papa de matriz progressista e reformadora quando a pauta moral é a força motriz da extrema-direita mundial não é qualquer coisa. Não cabem ilusões aqui, Leão XIV não é Francisco, são pessoas diferentes, com opiniões distintas sobre vários temas, mas se situam no mesmo campo dentro da Igreja Católica. Nenhum Papa foi um santo, são pessoas, complexas, com opiniões diversas e carregam sim traços do conservadorismo aqui e ali, afinal a Igreja Católica também traz esses na sua história e na sua raiz.
Francisco, quando Cardeal Jorge Mário Bergoglio na Argentina, também não era desprovido de contradições, militou ardorosamente contra a legalização do aborto e a plena laicidade do Estado argentino durante a gestão da presidenta Cristina Kirchner, mas em traços gerais exerceu um papado situado no progressismo e na reforma, buscando resgatar os setores que tem se afastado do catolicismo nos últimos anos.
O fato de Prevost ser um norte-americano com pé forte na América Latina foi decisivo para a escolha, a América como um todo concentra 47,8% dos católicos. Só o Brasil possui 13% dos católicos do planeta, já os EUA são o 4º país com mais católicos do mundo, mesmo sendo uma nação de maioria protestante.
É inegável que a eleição de Prevost é um alento num mundo tão tensionado, colabora para a busca de uma retomada na quantidade de fiéis a Igreja Católica, mas também sinaliza no tabuleiro da geopolítica internacional, o Cardeal já fazia críticas ao governo Trump, ao seu vice Vance e as políticas ambientais em curso no mundo antes mesmo de ser Papa. Veremos o que diz agora, como Papa Leão XIV.