Como em Gaza, bombardeios de Israel no Irã mataram, sobretudo, civis
Número oficial de mortos na guerra de 12 dias ultrapassa 900, com destaque para o massacre de mulheres e crianças; Teerã prepara denúncias de crimes de guerra contra Tel Aviv e Washington
Publicado 30/06/2025 17:10 | Editado 30/06/2025 17:30

A ofensiva militar lançada por Israel contra o Irã em 13 de junho, sob o pretexto de conter o avanço do programa nuclear iraniano, resultou na morte de pelo menos 935 pessoas, segundo dados atualizados da Organização de Medicina Forense do Irã divulgados nesta segunda-feira (30). A maioria das vítimas são civis, incluindo 132 mulheres —algumas delas grávidas—, 38 crianças e 79 mortos em um ataque à prisão de Evin, em Teerã.
O número é quase o dobro do que havia sido inicialmente divulgado pelo Ministério da Saúde iraniano, e revela o caráter indiscriminado da campanha de bombardeios conduzida por Israel com apoio dos Estados Unidos, que também atacaram instalações nucleares iranianas durante o conflito.
Prisão, escolas e bairros residenciais entre os alvos

Segundo o porta-voz do Judiciário iraniano, Asghar Jahangir, famílias de prisioneiros, trabalhadores humanitários e funcionários públicos estão entre os mortos nos ataques à penitenciária de Evin. Em outro levantamento, o Ministério da Educação confirmou a morte de 30 estudantes e 7 professores.
“As ações do regime sionista não distinguem entre civis e militares. Cada mártir e cada edifício destruído é um crime de guerra”, afirmou Esmaeil Baghaei, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã.
Ataques visaram infraestrutura civil e científica
A guerra aérea de 12 dias foi marcada por bombardeios intensos contra infraestrutura civil, bairros residenciais e instalações científicas. Israel afirma ter mirado comandantes do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica e cientistas nucleares. Mas segundo o governo iraniano, os ataques atingiram em grande parte civis comuns e locais sem qualquer função militar.
O Irã sustenta que a ofensiva violou não apenas os princípios do direito internacional e a Carta da ONU, mas também o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), do qual o país é signatário.
Comparações com Gaza e denúncia de crimes de guerra
Assim como na Faixa de Gaza, onde a guerra em curso já deixou cerca de seis dezenas de milhares de civis mortos pelas mãos das Forças de Defesa de Israel (FDI), o padrão de ataques no Irã evidencia a ausência de distinção entre alvos civis e militares —um dos princípios centrais do direito humanitário internacional.
O porta-voz iraniano Asghar Jahangir disse que o país está coletando provas e se prepara para apresentar uma denúncia formal a organismos internacionais. “O mundo inteiro viu quem começou a guerra. O Irã apenas se defendeu”, declarou.
EUA entraram no conflito e ampliaram escalada
Em 22 de junho, os Estados Unidos intervieram diretamente, bombardeando três instalações nucleares iranianas. A ação intensificou ainda mais a crise e culminou em um ataque retaliatório iraniano contra a base aérea de Al-Udeid, no Catar, considerada a maior instalação militar americana no Oriente Médio.
No dia 24, o presidente Donald Trump anunciou que um cessar-fogo havia sido acordado, após o Irã lançar ataques balísticos contra posições israelenses e norte-americanas. Apesar da trégua, o número de mortos continua a subir à medida que corpos são identificados.
Pressão por responsabilização e reparações

As mortes de quase mil civis —incluindo profissionais de saúde, cientistas, professores, mulheres grávidas e crianças— reforçam o apelo de Teerã por reparações e responsabilização internacional.
“O silêncio das potências ocidentais e de organizações de direitos humanos diante de crimes tão evidentes é cúmplice. As vítimas do Irã são vítimas da mesma lógica de impunidade que mata em Gaza”, disse Fatemeh Mohajerani, porta-voz do governo iraniano, em declaração à emissora Al Mayadeen.
O custo humano da agressão
Com 4.870 feridos, sendo quase mil hospitalizados com gravidade, o Irã ainda contabiliza o impacto total da guerra. Além do luto, há destruição de infraestrutura civil e científica, deslocamento forçado de famílias e a perda de profissionais qualificados.
Segundo autoridades iranianas, a “resposta proporcional” foi concluída, mas a vigilância permanece. O governo promete manter sua soberania e buscar a justiça “em todos os fóruns possíveis”.
A guerra de 12 dias, que já é considerada a maior agressão estrangeira ao território iraniano desde a guerra com o Iraque nos anos 1980, deixa claro que, como em Gaza, o maior custo das ações militares de Israel continua a ser pago por civis inocentes.