Gastos com bets levam 34% a adiar entrada em faculdades privadas
Pesquisa também aponta que 14% dos matriculados em instituições particulares atrasaram mensalidades ou trancaram o curso devido aos gastos com apostas
Publicado 10/07/2025 16:22 | Editado 10/07/2025 17:27

Os gastos com apostas on line, como as bets, fizeram com que 34% dos brasileiros precisassem adiar seu ingresso numa faculdade privada no primeiro semestre deste ano. Considerando o segundo semestre, o percentual é de 24%.
A informação faz parte de pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES) e pela Educa Insights, divulgada nesta semana.
“Para o primeiro semestre de 2026, a projeção nacional indica que, dos quase 2,9 milhões de potenciais ingressantes na educação superior privada, aproximadamente 986 mil estão sob risco de não efetivar a matrícula por conta do comprometimento financeiro com apostas online”, diz o levantamento.
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O problema vai além daqueles que querem entrar no ensino superior, atingindo também quem já está cursando alguma faculdade. Segundo a pesquisa, 14% dos alunos já matriculados em instituições particulares atrasaram as mensalidades ou trancaram o curso em razão dos gastos com bets. Esse índice é ainda maior nas classes B1 e B2, onde chega a atingir a marca de 17%.
No que diz respeito ao comportamento diante do jogo, o levantamento indica que 52% dos entrevistados apostam regularmente, sendo a frequência predominante de uma a três vezes por semana.
Os valores investidos variam conforme a classe social: enquanto os apostadores da classe A destinam, em média, R$ 1.210 mensais às apostas, nas classes D e E o valor médio é de R$ 421. Ainda que a maioria (cerca de 80%) afirme comprometer até 5% da renda mensal, cresceu o número de pessoas, especialmente entre os mais pobres, que ultrapassam a marca de 10% do orçamento com essa prática.
O comparativo com os dados de setembro de 2024 revela um agravamento da situação: o percentual de jovens que apostam regularmente subiu de 42,9% para 52%, e aqueles que dizem comprometer parte da renda com as bets passou de 51,6% para 54,2%. Além disso, houve um salto de 11,4 pontos percentuais na quantidade de pessoas que deixaram de iniciar uma graduação por causa dos gastos com bets.
A pesquisa “O impacto das bets na educação superior – Onda 2” foi realizada entre os dias 20 e 24 de março de 2025 e ouviu 2.317 jovens de 18 a 35 anos de todas as regiões do país e de todas as classes sociais, com interesse em ingressar na educação superior privada.
Maioria quer mais taxação
Os dados levantados pela pesquisa explicitam mais um dos muitos impactos negativos das bets no cotidiano dos brasileiros, que vão desde questões econômicas passando pelas que envolvem a saúde mental e o desenvolvimento humano e social.
Não à toa, boa parte dos brasileiros quer que as bets paguem mais para seguir funcionando. Segundo pesquisa recente da AtlasIntel, 58% são favoráveis (e 34% contrários) ao aumento na alíquota de impostos sobre as bets, bancos e bilionários — o que ficou conhecido como “taxação BBB”.
“Para mim, tem que tratar as bets na linha do que é o cigarro e a bebida alcoólica. É uma coisa difícil de administrar e há vários casos na história de que, quando proíbe, piora. Temos que enquadrar esse setor de uma vez por todas”, defendeu o ministro Fernando Haddad, da Fazenda, nesta terça-feira (8).
Em junho, o governo Lula encaminhou medida provisória aumentando de 12% para 18% os impostos sobre as bets. O texto ainda não foi analisado pelo Congresso — boa parte dos parlamentares têm dificultado a implantação de medidas que aumentem a tributação sobre os mais ricos, como ocorreu no caso do IOF.
(PL)