1º de maio, Sena, Brasil!

O ano era 1994, o mês abril. O Comitê Estadual do PCdoB de São Paulo estava em festa. Afinal, após um período de transição amplamente vitoriosa desde a crise de 1986,1987 a direção assumida por uma geração de jovens dirigentes tinham mobilizado um extraordinário contingente de 3.000 militantes, um número bastante expressivo para época.

Vivíamos no Brasil, uma situação momentaneamente singular. Afinal, após perdermos o segundo turno das eleições em 1989 para o Collor de Mello, que implantou com auxilio do PSDB, as primeiras medidas neoliberais no Brasil, sofreu o impeachment em setembro de 1992. Esta luta, que contou também com grande participação do Partido que, corretamente procurou manobrar com o curto governo do Itamar Franco, deu gás à candidatura do Lula que seguia firme em 1º lugar nas pesquisas desde o ano anterior.

Para o PCdoB do estado a situação também era positivamente singular. Tínhamos dois deputados estaduais, dois vereadores na capital paulista e o Aldo Rebelo, como Deputado Federal e líder da bancada comunista do Congresso. Assim, a nossa conferência coroava, com os três mil participantes, um biênio de vitórias em vários terrenos. Esta reunião ocorreu na cidade de Praia Grande, na colônia de férias da Federação dos comerciários de São Paulo e tinha como principal ponto de debate a busca da legalização do Partido nos termos da legislação vigente a época. Vejam que não se tratava de uma pauta de resistência, passiva ou mesmo de reflexão teórica, era um momento em que o Partido, percebia espaço para crescer e persistiu neste caminho, neste esforço.

A Conferência encerrar-se-ia no dia 1º de maio. A ideia era realizar evento para lembrar a memorável data de luta dos trabalhadores do mundo que sob o lema marxistas proletários unidos bradavam contra o capital explorador. No encerramento, portanto, quando se contava, apurava-se os votos, que resultaria na eleição da nova direção do comitê estadual que aquela altura chamava-se Diretório, surgia uma noticia que consternou a todos (as).

Como não existia ainda, por aqui os celulares e nem as redes sociais, a noticia nos foi dada por um telefonema feito para São Paulo e dali as TVs da Colônia foram a busca principal dos delegados em debate.

Ali eu percebi a força e o carisma do Airton Sena “do Brasil”. A comoção foi tanta que exigiu do brilhante jornalista Bernardo Joffily a redação de uma nota que foi aprovada por unanimidade e ao som do hino nacional que a tornou um dos ponto, se não O ponto alto da Conferência dos 3.000. Confesso que nunca gostei muito de automobilismo. Mas não pude deixar de lembrar que em 1986, em uma corrida realizada nos Estados Unidos, logo após a desclassificação da seleção brasileira na Copa do Mundo do México, o piloto paulistano, após vencer justamente o francês, sacou uma pequena bandeira do nosso país e a ergueu em punho fazendo o gesto que o imortalizaria como esportista! Gesto este depois muito imitado e para sempre lembrado.

Ao pesquisar sobre sua carreira, encontrei um homem, polêmico, atleta concentrado, piloto frio, implacável com seus adversários, duro com os oponentes, focado e por vezes desleal em pistas. A atitude dele em algumas corridas em nada lembra o herói ‘Seninha” pintado em gibis e revistas em quadrinhos ou mesmo na adoração que seus fãs pelo mundo até hoje. 20 anos após a sua morte.

Conheci amigos em comum, descobri história e situações. Vi e revi documentários, filmes, participei de eventos e conheci e trabalhei com a grande mulher, empresaria e gestora Viviane Sena. Cidadã que soube como ninguém trabalhar o legado e enaltecer as virtudes deste que foi sem duvidas um símbolo de uma geração. Protagonizou cenas memoráveis de ultrapassagens e vitórias. Aquele que fazia com que os outros tivessem medo da chuva nas pistas. Aquele que pilotava mesmo sem câmbio, só ouvindo o tempo do motor através do barulho.

Que neste 1º de Maio de 2014, 20 anos depois, as comemorações dos trabalhadores em todo o País também lembrem do desaparecimento deste grande personagem do nosso esporte. Afinal sendo ano de Copa do Mundo. Nada melhor do que homenagearmos Ailton Sena com o gesto que o imortalizou: Erguendo a bandeira verde amarela, a bandeira brasileira!

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