2014, 2016 e 2022

Toda hora ouvimos falar ou lemos em algum lugar que o Brasil precisa estar preparado para a Copa do Mundo de 2014 e para as Olimpíadas de 2016. Carece disso e daquilo, de obras e outras ações. Teremos uma cara diferente. Mas, sempre me vem a pergunta: e em 2022, no 200º aniversário da nossa independência, como estará o País?

A Copa de 14 exigirá mudanças diretas nas 12 capitais que sediarão jogos. As Olimpíadas chamarão intervenções na cidade do Rio de Janeiro, sua sede. Em ambos os casos, são obras de infra-estrutura, em especial estádios e outros espaços esportivos, aeroportos e hotéis, com participação da iniciativa privada.

As cidades deverão estar apresentáveis, ainda que um tanto maquiadas, para acolher atletas, cartolas e turistas. Isso, contudo, ocorrerá em uma parte do Brasil. Já 2022 precisa ser uma baita festa no País inteiro, do riacho do Chuí ao monte Roraima.

O que se espera para comemorar, então, é uma realidade ainda mais diferente do que aquela apresentada pelo presidente Lula no balanço que fez semana passada, no rádio e TV. A partir do próximo sábado, a bola estará com Dilma Roussef, que terá pela frente toda modalidade de desafios para chegarmos a 22 nos trinques.

Teremos, portanto, 11 anos e pouco para os preparativos. Isso não é muito tempo nem para eventos esportivos, quanto mais para comemorar dois séculos de libertação de um país do jugo colonial. Aliás, a Fifa já anunciou o país-sede da Copa de 22, para que o Qatar, o escolhido, tenha tempo de se preparar.

Para o planejamento do desenvolvimento econômico e social de um país, a medida de referência é a década. É tempo aparentemente curto, mas nele se opera milagres. Basta ver o salto dos asiáticos, como Japão, Coréia e China, que em três décadas mudaram totalmente, para melhor.

O destaque da fala de Lula, no final das contas, é o de que, nos últimos oito anos, o Brasil sincronizou o social com o econômico. Vai longe o tempo em que se ouvia que “é preciso crescer para depois distribuir”. E os 50 milhões de brasileiros inatingíveis pelas políticas públicas de que falava FHC, rapidamente vão ganhando vigor. São atingíveis, pois.

É certo que há setores em que os passos têm de ser dados um após o outro. Se pular, embaralha as pernas. São os casos da educação e da saúde, as duas prioridades do top da lista na campanha eleitoral de Dilma. Esses dois temas, mais o avanço tecnológico, foram as chaves do salto dos asiáticos.

Na educação, fala-se da falta de recursos financeiros. Mas isto é bobagem, pois há dinheiro, como nos informa o Orçamento de 2011, aprovado outro dia pelo Congresso. O que falta é segurar as pontas, conferir os desvios de finalidade ou se o destino de boa parte desses recursos não está sendo o bolso de alguns ladrões engravatados.

Tampouco se observa falta de escolas, exceto em casos localizados. Em termos de quantidade, o problema do ensino fundamental está resolvido. A rigor, à criança que quiser, tem escola. O caso, porém, está na qualidade, um nó que se leva tempo para desatar.

É quase um consenso que a capacitação do magistério é sofrível no Brasil. Começa pelo fato de que, no geral, os salários dos professores estão defasados, fato que retira o atrativo da profissão. O que salva é a voluntariedade.

Mas, grave mesmo é o nível técnico dessa gente, não só pela má formação nas faculdades de pedagogia que proliferam País afora. O problema vem de mais longe. O professor de hoje frequentou, ele próprio, um ensino básico de má qualidade, e não tem como ensinar o que não aprendeu.

A educação tem relação direta com o avanço tecnológico. Escolas profissionalizantes e pesquisas nas universidades e centros tecnológicos fazem com que a preocupação com a questão permeie o cotidiano da atividade produtiva, na cidade e no campo.

O desempenho brasileiro em setores como o energético, que já virou referência global, poderá se multiplicar de modo rápido. Isto vale para os combustíveis, na produção de bioderivados e na exploração de petróleo em águas profundas, e também para a eletricidade. Neste caso, falta diversificar as fontes, poupando rios e matas.

Só vamos comemorar bem os 200 anos, entretanto, com um povo saudável. E aí, mais que em qualquer outro setor, o papel do estado é fundamental. Está provado em todo o mundo que a ganância da iniciativa privada não combina com massificação das ações de saúde.

De quebra, a eficácia de políticas públicas neste campo passa pelo saneamento básico, as tais obras escondidas que político não gosta de fazer. E, também neste caso, a capilarização às vezes vai longe demais e o dinheiro some.

Fica evidente que o combate à corrupção tem que estar no rol de prioridades. Por isso, é alvissareira a permanência do ministro Jorge Hage à frente da Controladoria-Geral da União. Por obra dele, a CGU tem hoje eficiente sistema caça-ladrão no serviço público. Não é melhor porque a justiça alivia o lado dos corruptos.

Ou seja, os eventos de 14 e 16 são fichinhas perto do que poderá ser o 2022.

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