2014: Copa com cheirinho de sacanagem

A CBF anunciou que o Morumbi está fora da Copa de 2014. Até segunda ordem, está decidido que outra arena abrigará os jogos da Copa e, provavelmente, esta não sediará a abertura do torneio, que deve ir para Belo Horizonte ou Brasília. É temerário saber quais interesses estão por trás desta decisão, mas, no fundo, todo mundo sabe muito bem.

Desde a escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo em 2014, a FIFA tem encrencado com o Morumbi. De fato, para quem assiste futebol in loco, sabe que o estádio possui inúmeros pontos cegos e precisa resolver alguns problemas estruturais. Mas não existe justificativa plausível para se levantar outra arena em uma cidade que já possui vários estádios e tem problemas mais urgentes a resolver, como transporte, saúde, saneamento básico e educação, só pra citar alguns.

O gasto necessário para a construção de um local capaz de atender às inúmeras exigências da FIFA é enorme. E, em geral, a conta é paga pelo povo.

Não que os gastos necessários para uma reforma no Morumbi também não sejam astronômicos, mas além de ser infinitamente menores, não sangram em nada o dinheiro público, pois o estádio é particular e o São Paulo FC, seu dono, deve arcar com a responsabilidade de captar recursos com a iniciativa privada e executar o projeto.

Mas qualquer um que junta lé-com-cré sabe que a construção de uma nova arena, além de agitar o setor das empreiteiras, ávidos por uma obra desse porte, em ano eleitoral agitam também as candidaturas, de olho nos financiamentos de campanha destas mesmas empreiteiras.

O governo de São Paulo, além da Prefeitura, reiteraram que não haverá dinheiro público para a Copa do Mundo, e que o Morumbi é o estádio recomendado por ambos para a realização dos jogos e a abertura do torneio. Mas, no frigir dos ovos, isso tudo pode não passar de um jogo de cena.

Estão em debate o segundo e terceiro maiores orçamentos do país, com importância política muito grande no cenário nacional. São instituições capazes de pressionar, com respaldo popular, pela defesa do projeto do Morumbi, defendendo assim a população paulistana.

Enquanto isso não acontece, a CBF garante os seus interesses, e como entidade privada, compromete-se com as empresas que injetam dinheiro em seus cofres. E assim um círculo vicioso se forma, onde estas não injetam dinheiro em nada que não lhes ofereça lucros, e as conseqüências são diretamente sentidas pelos trabalhadores e trabalhadoras.

O projeto ventilado por aí é o do Piritubão, um novo estádio que será construído às margens do Rio Pinheiros, e que posteriormente poderia ser oferecido ao Corinthians. E não é que, justamente, o chefe da delegação brasileira na atual Copa é Andres Sanchez, presidente do alvinegro paulistano? Pois é, a CBF é um espetáculo de "coincidências".

Ricardo Teixeira já avisou que a organização da Copa passa, necessariamente, pela obtenção de recursos públicos. Com tanto poder nas mãos dele, não é de se duvidar que, apesar das promessas, os governos estadual e municipal de São Paulo terão que engolir suas notas de afirmação do Morumbi como sede e dar aquela força na construção da nova arena.

A "dolorosa" sempre sobra para quem não tem nada a ver com isso. Quer saber quem? Dá uma olhadinha no espelho…

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