A bravataria tucana
O livro A Privataria Tucana é uma das raras obras publicadas pós-2002 que volta a abordar as negociatas manipuladas nos trágicos governos entreguistas de FHC. Infelizmente, com a ofensiva midiática em aberta campanha desestabilizadora contra os governos Lula e Dilma, a esquerda brasileira se postou na defensiva, preocupada mais em se desculpar ou justificar por toda sorte de ataques disparados pelas elites, do que se posicionar no front da luta de ideias.
Publicado 22/12/2011 12:51
O importante papel denunciante das políticas neoliberais e privatistas se apequenou de tal modo que escândalos de grande monta ocorreram em governos dirigidos pela direita no Brasil afora, sobretudo no Rio Grande do Sul, com Yeda Crusius; Minas Gerais, com Aécio Neves e Anastasia; São Paulo, com Serra e Alckmin, e no Distrito Federal de Arruda, sem que nenhuma publicação mais robusta fosse editada. Muito menos foi escrito um livro de maior envergadura que desnudasse o terrível esquema de corrupção montado nos governos FHC que ora é apresentado por Amaury Ribeiro Júnior.
Em contrapartida, em todas as livrarias (ou mesmo na internet no formato em PDF) é possível encontrar uma vasta coletânea de títulos que achincalham os governos Lula e Dilma, apresentando-os como os mais corruptos da história, sem que isso fosse motivo para um décimo do frenesi sentido pela direita raivosa com o recém-lançado A Privataria Tucana. O Chefe – o livro proibido de Lula -, de Ivo Patarra, por exemplo, narra a épica “história dos 403 dias do escândalo do mensalão, o maior esquema de corrupção de todos os tempos no Brasil”. Apesar da metodologia científica usada pelo o autor para que ele pudesse ter chegado a tal conclusão não ter sido apresentada no best-seller, o veredicto é exposto radiante contra quem ele chama de “chefe de quadrilha”.
Ainda compõem a biblioteca anti-petista publicações rasteiras do nível de Lula é Minha Anta, de Diogo Mainardi; O que sei de Lula, de José Nêumanne Filho, Por dentro do governo Lula, de Lúcia Hippólito, a Era Lula: Crônica de um desastre anunciado, de Ipojuca Pontes (a apresentação do livro é de Olavo de Carvalho!!!); A esperança estilhaçada: Crônica da crise que abalou o PT e o governo Lula, de Augusto Nunes (blogueiro da Veja); O país dos PeTralhas, de Reinaldo Azevedo, entre outras raridades que Merval Pereira, do alto de seu pedestal de Imortal, legitima como sendo representantes da “grande imprensa tradicional”. Essa turma toda pode escrever o que quiser, mas Amaury Ribeiro Júnior…
A mesma “grande imprensa tradicional” citada por Merval que está em polvorosa com A Privataria Tucana também vem articulando uma campanha, concomitante com o tema da corrupção, de que os governos Lula/Dilma também são privatistas. Ora, comparar privatizações pontuais (que ainda equivocadas) com aquelas que fizeram parte de um Plano Nacional de Desestatização e que incluía até as universidades públicas, a Petrobras, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, os Correios e outros setores estratégicos, é no mínimo uma sacanagem. Mais absurdo ainda é a provocação feita pelos ditosos comentaristas da “grande imprensa tradicional” de que se o atual governo realmente fosse contra as privatizações poderia simplesmente desfazer as “negociatas”.
Certamente não são tão ingênuos de acharem que o país pode se lançar a tal irresponsabilidade em uma economia de mercado vulnerável aos menores rumores. Na verdade reconhecem que hoje o Estado Nacional está mais forte, a Alca foi enterrada, o BNDES fomenta o desenvolvimento, o FMI não mais dá as cartas em solo nacional e que somos muito mais respeitados no mundo enquanto nação soberana. Mas ao mesmo tempo, não podem renunciar o ideário neoliberal arraigado em suas convicções burguesas.
Por isso mesmo toda essa “bravataria” contra um livro que se presta tão-somente a investigar a “privataria” que varreu nosso país de 1994 a 2002 e desconstruir um pensamento que, embora se apresente moderno, historicamente se comprovou ser uma teoria caduca, envelhecida com o tempo e desgastada com a resistência do povo.