A capital do pecado

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Pelo que se vê nas recentes imagens registradas em Brasília, a patifaria se tornou um jeito de ser, um modus vivendi que possibilita altos lucros e muito prestígio. Essa praga um dia terá fim?

Infelizmente, quando se fala hoje em capital e em pecado, de imediato pensamos em Brasília. Uma pena que aquela cidade ímpar, nascida da imaginação de arquitetos e urbanistas dotados de alma de artistas, dona de um céu que encanta quem por ali passa, tenha se tornado referência de comportamentos torpes e atitudes infames. Caetano Veloso ao cantar o amor enalteceu a combinação das belezas naturais e do concreto: “Esse imenso desmedido amor/ Vai além de seja o que for/Passa mais além do céu de Brasília/Traço do arquiteto”.

Em seu pouco tempo de existência, Brasília tornou-se celeiro de ricas manifestações artísticas, além de se tornar patrimônio cultural da humanidade com reconhecimento especial da Unesco. A música popular, representada por Renato Russo, Cássia Eller, Zélia Duncan, Capital Inicial e os Paralamas do Sucesso, entre outros, ganhou dimensão nacional. O Festival de Cinema de Brasília – em sua 42ª versão – exibiu em seu encerramento o filme “Brasília, a Última Utopia” que mostra como o engenho e a arte transformaram aquela região e se adequaram à natureza do cerrado.

Localizada em um ponto estratégico do planalto central, esta cidade horizontal é o centro do poder e das grandes decisões. Mas ainda nos surpreende que somas expressivas sejam transferidas de cueca em cueca, sem que ninguém saiba o seu real paradeiro. Repugna a todos constatar que patifes em todas as esferas da vida pública formam ainda uma pesada herança de nosso processo de colonização e mais recentemente de uma ditadura militar que deformou o país.

Em Brasília temos de tudo e não há folha de arruda que espante: de senador laranja a especuladores do dinheiro público; de procurador perdido a desviador encontrado; de cínicos profissionais a vigaristas amadores; de canalhas corruptos a corruptos canalhas. Ao invés de construírem um programa de governo, os dirigentes atuais do Distrito Federal acabaram agindo mais como um governo de programa. Sem ideais, sem senso de justiça social e sem caráter. Será que não merecemos um governo com menos pecado? Menos cobiça? Menos ganância? Menos luxúria? Menos soberba? Menos inveja?

Em nossa História avultam os escândalos. É preciso parar e refletir sobre o que realmente pretendemos para o futuro: se um país repleto de crises e disparates sociais, ou se um país mais justo e mais humano. Enquanto aceitarmos os maiores descalabros oficiais como fatos naturais, não daremos o passo tão necessário para o nosso crescimento ético e espiritual. Ainda há tempo para escolher e mudar o curso dessa História, para assumir responsabilidades e lutar por um mundo, sem uma capital repleta de pecados.

Até lá, vamos nutrir a esperança de que o bom senso prevaleça e as grandes decisões sejam tomadas com base em valores éticos universais. Que a força utópica de Brasília se sobreponha às mazelas da banda podre de nossa classe política!

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