O significado da desfiliação de Arruda do DEM

O governador José Roberto Arruda pediu desfiliação do DEM. Uma manobra pensada, estudada, meticulosamente arquitetada para ganhar tempo numa situação de profunda defensiva política. De um só lance tentou tenta atingir dois objetivos fundamentais. O primeiro sair da linha de tiro do DEM nacional já que o partido estava disposto a oferecer sua cabeça em sacrifício para tentar salvar o Partido do vexame nacional. 

O segundo movimento foi destinado à população do Distrito Federal. Disse que não seria mais candidato em 2010, governaria a cidade até o fim de seu mandato, entregando as obras e cumprindo outras agendas impostas pela rotina governamental.

Porém Arruda foi mais além, sinalizou aos poucos aliados, que está disposto a resistir. Transformar o GDF numa trincheira para manter-se o cargo. Dizer aos aliados que manterá os compromissos, dará sustentação aos deputados distritais que se encontram sob investigação e avisar aos poucos amigos, fora do governo, que não cairá sem oferecer uma aguda resistência. Com sua desfiliação Arruda retirou a pressão sobre o DEM nacional.

Acalmou seus aliados, afagou Paulo Octávio como se estivesse cumprindo o acordo de que seria ele o candidato ao governo em 210. Sinalizou aos aliados que está no comando e que serão cumpridos contratos e acordos. Avisou aos distritais que estará ali para apoiá-los, na medida do possível, na defesa de seus mandatos.

Recomporá o secretariado para passar uma idéia de governabilidade a população. Indicará aos empresários, governos e instituições, com que o GDF tem negócios, de que as obras e os serviços não serão paralisados. Em suma, tenta sair do foco da crise política sucessória dizendo que sua única intenção é governar até o fim de seu mandato. Quem subestimar Arruda poderá assistir perplexo a mais um ano de seu governo. Arruda fez uma manobra que poderá lhe dar fôlego. Busca ganhar tempo, recompor parte de suas forças.

Como os soviéticos usaram o general inverno contra as forças invasoras em diversas guerras, Arruda usará o general natal, o general recesso de dezembro, o general férias de janeiro e general carnaval para resistir.

Arruda também conta com as dificuldades da oposição. Não há unidade em torno do impeachment ou da renúncia. Até agora a oposição tem feito leituras individualizadas que levam a uma reação política imediata, mas sem uma saída mais clara, corajosa e definitiva. Se as manifestações ficarem muito restrita à Câmara Distrital o grupo arrudista ganhará tempo e montará novas linhas de defesa para ficar no poder. A oposição precisa ter nitidez e clareza de propósitos para a solução da crise.

E o foco da crise é Arruda. Toda essa estrutura de corrupção que veio a tona foi articulada e coordenada por ele. Paulo Octávio e os Distritais participaram complementariamente por interesse, compromisso, pragmatismo e necessidade de manter-se no Poder ou em seus cargos. Portanto a saída para a crise implica na saída de Arruda e de Paulo Otávio. É necessário um novo governo para o DF.

A oposição sem posição

A oposição ao GDF é contraditória, fragmentada e sem clareza de objetivo. Parte dela esteve direta ou indiretamente no GDF até recentemente.

Portanto a alternativa política exige paciência e capacidade de alinhavar interesses múltiplos e contraditórios. Mas, sobretudo, chegar a um denominador comum, o que não está fácil. Quem efetivamente quer retirar Arruda e seus aliados do poder? Quem pretende deixá-lo em um governo desmoralizado até as eleições de 2010? Quem quer se aproveitar desse desgaste para tentar vencê-lo nas urnas em outubro? São questões que estão em busca de resposta para um movimento mais consistente em torno de uma alternativa de Poder.

Nesses dilemas, uns já querem definir nomes para o candidato da oposição. Isso ainda é cedo. Outros tentam hegemonizar o movimento como se o ato continuo fosse a chegada ou retorno de seu partido ao Palácio dos Buritis. Alguns acham que a hora é de radicalizar, mesmo que artificialmente, e assim poderiam eleger algum parlamentar ou projetar suas legendas nacionalmente e por aqui, com essa crise.

Outros tem dificuldades reais em fazer um discurso mais contundente contra Arruda pois acreditavam que sua gestão era séria e que poderia transformar o DF. Na verdade, o dilema oposicionista não é pequeno. Falta clareza, falta percepção, falta compreensão em profundidade da crise e falta sobretudo atitude de unir, colocar em segundo plano os objetivos menores de cada legenda e no comando os objetivos supremos do DF.

A Capital do Brasil precisa ter um governo sério, decente, eficaz, capaz de responder ás suas demandas imediatas e projetar seu futuro. E o futuro do DF não começa em 2011, após as eleições, o futuro está sendo decidido agora. Portanto, vacilação, exitação, esclusivismo, apenas ajuda Arruda a ficar no governo.

Mais ainda, estará deixando que faça seu jogo e que seu grupo político se mantenha no governo em 2011. Arruda chorou quando mentiu no Senado. Não exitará em derramar rios de lágrimas para tentar enganar novamente o povo. Nós temos que lutar, mobilizar a opinião pública, pressionar a Câmara Distrital e assim recuperar a imagem de Brasília e a dignidade da gestão pública e da atividade política.

Apolinário Rebelo é jornalista, escritor e vice-presidente do PCdoB/DF