A cereja e as dores inesquecíveis

Aquele amor foi de dores inesquecíveis

Ilustração: Hanna Barczyk

Casou algumas vezes, quase amou. Desvendou a noite, antes do esperado. Conheceu o prazer das esquinas e dos postes no percurso da lua. O amor mesmo se perdeu no caminho. Era domingo, final de tarde, festa. Usava uma jardineira branca de malha, tinha os cabelos quase do seu tamanho, longo, liso e sereiado, uma espécie de cabelo de sereia. Tentaram dançar, ele sabia andar, andaram.

Algumas pedaladas velozes, outras lentas para chegar na beira da porta, durante algumas luas. O amor se embaralhou de dúvidas e de desejos. Era a última rua, quase a única casa. Rua lenta, poucas passadas. Ali, era possível ver todas as estrelas, do céu e da terra. Além de comer cerejas silvestres. 

Aquele amor foi de dores inesquecíveis. O vermelho das cerejas foi comido. A lua mudou de lado.

No dia de provar o vestido de noiva do primeiro casamento, encontrou o amor que comia cerejas silvestres, quase desistia de casar.  Casou, durou quase 10 anos, teve uma filha, quase entrou para as estatísticas das matadas, mas continua vivinha.

Já o amor se perdeu, deve estar procurando cerejas maduras. 

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