A ciência não pode pagar pela crise

Quando o presidente Lula declarou que “esta crise foi causada, fomentada, por comportamentos irracionais de gente branca de olhos azuis que antes da crise parecia que sabia de tudo e agora demonstra não saber nada”, mostrou a coragem típica dos grandes es

O verdadeiro racismo que a grande mídia tenta imputar a Lula não reside nesta declaração que tão-somente simboliza o estereótipo histórico do colonizador e sua responsabilidade pela crise. A real discriminação é aquela baseada na cruenta realidade que açoita a população pobre de todo o mundo, em razão da farra financista promovida pelos especuladores, rentistas e banqueiros que se divertem com o cassino da economia mundial. E quem vai pagar esta farra?


 


 


 


A ciência não pode pagar por esta crise. Antes, deve ser a alavanca para nos tirar deste atoleiro. Cortes ou contingenciamento dos investimentos nesta estratégica área podem comprometer todo o esforço estratégico em dinamizar nossa economia. A crise originada em Wall Street não deve ter seu custo debitado nos cofres das universidades ou dos institutos de pesquisa. Não foram os que vestem jalecos os autores deste colapso, mas os agiotas de terno e colarinho branco.


 


 


Sendo assim, é necessário repudiar uma possível mudança de rumo nos aportes financeiros governamentais nas pastas da Educação, de Ciência e Tecnologia ou outra que ameace o nosso Projeto de Nação. Após muito esforço conseguimos superar 1% do Produto Interno Bruto em investimentos em C&T. Qualquer retrocesso nesta altura do campeonato pode ser catastrófico.


 


 


A Associação Nacional de Pós-graduandos (ANPG) vem jogando importante papel neste sentido, principalmente no que diz respeito à denúncia a atual política monetária de juros altos e exorbitante superávit primário. Por ocasião do Dia Nacional de Luta e Mobilização em Defesa do Emprego e dos Direitos, os estudantes tomaram as ruas engrossando o coro daqueles que exigem que o Brasil não ceda às pressões do capital financeiro.


 


 


E como era de se esperar, os grandes meios de comunicação omitiram este grande ato nacional que aglutinou mais de 80 mil pessoas distribuídas em 20 capitais e vários municípios. Só na cidade de São Paulo cerca de 20 mil pessoas percorreram várias ruas com paradas em frente à Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), da Bolsa de Valores e do Banco Central, reunindo aos oito centrais sindicais e os principais movimentos sociais. Dentre as reivindicações unitárias destacaram-se a manutenção do emprego e dos direitos, redução dos juros e da jornada de trabalho sem diminuição do salário, reforma agrária; investimentos em políticas sociais, educacionais e em C&T.


 


 


Os pós-graduandos também divulgaram uma nota, através da ANPG, intitulada “A ciência não pode pagar pela crise”, que foi distribuída entre a população e que assinala importantes contribuições:
  
 


 


“O mundo passa por uma profunda turbulência financeira. O Brasil, apesar de ter conseguido atenuar alguns desses efeitos, está inserido nessa crise financeira mundial. De novembro até fevereiro deste ano já foram quase um milhão de trabalhadores demitidos.
  


 


Enquanto isso o mercado financeiro continua a ser favorecido. Essa crise, que aparentemente é externa, nos atinge em cheio. Os recentes cortes nas verbas da Educação e Ciência e Tecnologia, por conta da baixa arrecadação e a garantia do pagamento da dívida pública, terá como conseqüência um menor investimento em Ciência e Tecnologia. Provavelmente precisaremos rever as metas do PNPG (Plano Nacional de Pós-graduação), já que as verbas do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) foram restringidas. Tal medida emperra o projeto de pós-graduação que necessitamos e o ascendente investimento em Ciência dos últimos anos.
Essa área estratégica, que garante nossa soberania, a geração de emprego e a tecnologia nacional, deve ser vista como fundamental para superação da crise, não o contrário.
  


 


O governo, nas últimas semanas, anunciou um corte de 22 bilhões de reais do orçamento público suspendendo os concursos públicos previstos e adiando a posse dos já aprovados. No dia 30 de março, dia que pretendemos desenvolver uma ampla e unificada mobilização, prevê anunciar como serão distribuídos estes cortes.
Já foram cortados do orçamento de 2009 1,1 bilhão de reais do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT). Tal valor é o equivalente a 18% de seu orçamento. Para reverter esta situação, a SBPC foi a Brasília para pedir a reposição do orçamento, a ANPG lançou nota de repúdio ao corte, e diversas entidades científicas se mobilizaram contra tal fato. Porém, nenhuma medida concreta foi realmente efetivada. O MCT, no entanto, garantiu que nenhuma bolsa será corta e a Capes já anunciou que seu orçamento de 2009 não sofrerá alterações. Não aceitaremos nenhum corte na Ciência e Tecnologia e na Educação”.


 


 


A este posicionamento dos pós-graduandos devem se somar os demais “amigos da ciência”, através das diversas entidades acadêmicas e do movimento social, com o objetivo de reforçar o aviso de que não vamos pagar essa dívida contraída por aqueles que historicamente submeteram o Brasil ao secular atraso científico e educacional.

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