A crise capitalista e o ''mundo em chamas''
O sensacionalismo da mídia em torno da ''farra das passagens'' e, agora, da ''gripe suína'' tirou do foco o debate sobre os efeitos da crise capitalista mundial. Alguns, mais otimistas, até garantem que ''o pior já passou''. Mas não foi este o tom das int
Publicado 30/04/2009 20:13
O ministro da Fazenda, Guido Mantega foi um dos mais ''incendiários'' no seu discurso, o que indica uma sensível mudança de leitura no governo Lula. ''O mundo está em chamas. A crise se tornou ainda mais prejudicial para o mundo desde o último encontro do Comitê de Desenvolvimento. Havia outros incêndios antes mesmo do derretimento financeiro em setembro de 2008, labaredas que eram igualmente devastadoras, mas muitos de nós estávamos acostumados a viver com elas''. Agora, segundo o ministro, a crise caminharia para sua fase crônica e a culpa seria da ''globalização alimentada pela desigual distribuição da riqueza, pelo crescimento econômico rápido e concentrado e por padrões de consumo que degradam o uso dos recursos naturais… Este modelo de globalização precisa de ajustes''.
Risco de uma ''catástrofe humana''
Mantega destacou a urgência de ''fortalecer a estrutura multilateral'' no enfrentamento da crise e lembrou que os ministros do G-20 já se encontraram duas vezes desde setembro passado, após o colapso do banco Lehman Brothers. Para ele, está evidente que ''o G-7 não pode apagar sozinho o incêndio existente, e é improvável que seja eficiente em crise futuras''. Num discurso duro, ele afirmou que ''os países ricos'' são as principais responsáveis pela crise, que já ocasiona ''níveis maiores de desemprego e aumento do número de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza''.
Até o presidente do Bird, Roberto Zoellick, um dos expoentes da desregulamentação financeira no governo Bush, reconheceu que o pior não passou. ''A crise econômica poderá se transformar numa catástrofe humana… Ninguém sabe quanto ela vai durar. Também não sabemos o ritmo de recuperação. Mas há um reconhecimento de que o mundo encara uma crise sem precedentes e que os pobres estão sofrendo mais… A crise está mudando o mundo e o Banco Mundial precisa mudar com ela. Há amplo consenso de que os emergentes devem ter mais influência''.
Como enfatizou Paulo Nogueira Batista Jr., diretor-executivo do Brasil e de mais oito países da América Latina e Caribe no FMI, os chamados países emergentes não devem ''baixar a guarda'' diante da crise mundial. Ela defendeu ações mais ousadas no combate à orgia financeira e maior participação dos ''emergentes'' nas decisões globais. ''Os setores que defendem o atual estado das coisas são muito fortes ainda. Estão, talvez, enfraquecidos pela crise, mas em um momento seguinte podem querer restabelecer o passado. Não é impossível que, passado o período mais agudo da crise, as velhas potências queiram restabelecer o G-7 e marginalizar o G-20'', alertou.